Recebo muitos e-mails de pessoas procurando ajuda para sair de uma crise financeira. É o clássico “pé na jaca” como bem definiu uma delas. E você? Está neste grupo? Se não, seguramente conhece alguém nesta situação. Costumo dizer que uma crise financeira só traz boas notícias. Como assim? Ora, se você está nesta situação é porque a culpa é sua. Só sua. Não é uma boa notícia? Sair, ou não, desta situação é uma decisão que só depende de você. Não é outra excelente notícia? “Mas Navarro, estar devendo é uma péssima notícia”. Deve ser. Agora, se você deve é porque, entre dever ou não, preferiu dever. Me desculpe, mas o “poder escolher” é a melhor coisa que pode nos acontecer. Enfim, outra boa notícia. Viva o livre arbítrio.
Costumo receber um caminhão de críticas por abordar o “problema” desta forma. “Navarro, se estas pessoas são vítimas de um problema financeiro, trate-as como tal”. Vítimas? Ora bolas, eu devo estar ficando maluco. Concorde ou não, você moveu cada pedra que compõe esta gigante montanha de contas e dívidas atrasadas. A primeira coisa que você tem que fazer, e fazer agora, é parar de lamentar-se e admitir sua culpa. Pare de acreditar que uma solução cairá do céu ou que há algo mais que o force a permanecer inerte e ainda endividado. Assuma seu verdadeiro lugar, pare de julgar a tudo e a todos e permita-se um momento de fraqueza. Engula o orgulho. Vítimas? Será que sou o carrasco da história?
Pare imediatamente de fugir das pessoas, lojas ou instituições a que deve dinheiro. Você não é mais uma criança. O problema não irá desaparecer só porque você se recusa a atender o telefone ou porque você costuma rasgar suas correspondências. Se você ainda faz isso, volte ao parágrafo anterior. Se preferir, pare de ler o artigo. Você pode e deve decidir cada passo de sua vida. Decidiu entrar nesta maré de contas? Que tal decidir sair? Que tal atender estes chamados e procurar agir com honestidade e sinceridade? Antes, mais algumas dicas são importantes.
Você já controla seu fluxo de caixa mensalmente? Sabe o que é orçamento? Não? Sua indisciplina para gastar o trouxe até aqui, portanto comece a pensar de forma inteligente daqui pra frente. Combinado? Você vai precisar de uma calculadora e de um pequeno pedaço de papel. Os moderninhos poderão usar uma planilha eletrônica. Vasculhe suas contas, seus registros e construa uma tabela que contenha: o nome do credor, quantia devida, juros cobrados e vencimentos. Organize a tabela de forma a priorizar as divídas com juros maiores. Estas serão as dívidas que exigirão maior esforço de sua parte e que deverão ser negociadas primeiro.
Faça uma pausa e procure trabalhar seu orçamento por algumas horas. Beba uma água, respire. Defina exatamente a quantia disponível livre no final do mês e as possíveis oportunidades de entrada de um dinheiro extra. Considere a possibilidade de usar o bônus da empresa, comissões, férias e a venda de alguns de seus bens. Lembre-se que se você está numa crise deste tipo é porque vive um padrão de vida completamente fora de sua realidade. Livre-se dele. Como resultado desta análise, crie uma nova tabela com as fontes disponíveis de dinheiro.
Olhe para as duas tabelas criadas até aqui, contemple-as por alguns minutos. A resposta para o seu problema de dinheiro está ali, você só precisa aprender a encontrá-la. É fácil, com o que consta na tabela de fontes disponíveis de dinheiro, você poderá pagar o que aparece na tabela de dívidas (Dãh). Óbvio, eu sei. Acredite, é só isso. Pode ser que ainda falte dinheiro? Claro.
Agora você sabe o que deve e o que já tem, e terá, para resolver essa situação. O passo seguinte é partir para a ação. Você terá que arregaçar as mangas, sair do conforto de seu sofá (que ainda não foi totalmente pago) e partir para a mesa do gerente. Mas deixe o orgulho em casa. Lembre de sentar-se com a cabeça erguida, com a dignidade e humildade de quem é honesto e correto. Você é assim, certo? Por favor, você não é vítima de nada. Aja com determinação. Peça um extrato detalhado do que deve e passe a argumentar. Você precisa resolver o problema. Já.
Tente diminuir a taxa de juros. Procure e explore a possibilidade de diminuir os valores das parcelas, lutando por um montante que caiba em seu orçamento (agora você sabe o que é isso, certo?). Você consegue vender aquele carro e pagar uma das dívidas à vista? Ótimo. Negocie o valor, peça desconto e se houver esta possibilidade, abraçe-a. Por último, leve em consideração a possibilidade de usar o crédito consignado caso as taxas de juros da dívida sejam maiores que a do empréstimo (lembre-se de levar a calculadora).
Como sempre, meus textos são simples, diretos e rápidos. Não devo, portanto não temo. Dever sem poder pagar, é permitir que seu nome seja associado à uma lista de maus pagadores. Deixando a matemática de lado, fica a pergunta: é melhor ter ou ser? Vale ter tudo o que você acha que pode ter, ainda que você represente mal seu nome? Ou será melhor honrar seu nome e através dele construir a vida que merece ter? A tal lista sempre vai existir. Seu nome vai constar nela? Isso, só sua atitude poderá responder. Eu? Tô fora!