Por Carlos Jenezi, articulista da Plataforma Brasil Editorial, especialista em marketing e desenvolvimento de produtos.
O mercado corporativo é um ambiente fascinante. Ao mesmo tempo em que é repleto de pessoas super preparadas, inteligentes e competentes, é cercado de pequenas hipocrisias bobas e um tanto quanto inúteis. As maiores delas acontecem nos processos de seleção, justamente em um dos momentos mais importantes do dia a dia empresarial.
Tenho absoluta convicção que o grande ativo de qualquer corporação são as pessoas, muito mais que produtos, processos ou qualquer outro bem.
Essa crença pessoal, um tanto quanto saturada por livros de autoajuda e afins, não se baseia em conceitos politicamente corretos de consultores em RH ou gurus corporativos, mas em um pensamento lógico e irrefutável: muitos bons negócios naufragam diariamente por simples má gestão, enquanto produtos apenas medianos prosperam sob cuidado de pessoas competentes.
Esse fato é o que explica grandes reviravoltas na história de algumas empresas que trocaram seus líderes (Carlos Ghosn da Renault/Nissan e Jack Welch da GE são alguns dos exemplos mais conhecidos) e os altíssimos salários pagos àqueles que fazem a diferença.
A contratação de qualquer funcionário, nos mais diferentes níveis, normalmente se inicia com a análise do currículo, justamente onde o “mundo da fantasia” começa. Pelos currículos, não existem maus profissionais: todos são competentes, alcançaram sucessos em seus empregos anteriores, entregaram resultados incríveis e, o mais surpreendente, possuem inglês fluente.
Claro que a realidade não é bem essa, mas é justamente essa “realidade” que os selecionadores querem ler e ouvir. O mesmo se passa nas entrevistas, onde todos já trabalharam com aquilo que a vaga pede, dominam as competências necessárias, possuem como ponto fraco o perfeccionismo e, surpresa, foram demitidas não por incompetência, mas por uma reestruturação que resultou no “corte” de sua vaga.
Não culpo as pessoas que “turbinam” seus currículos com verdades duvidosas ou se “preparam” para entrevistas com respostas prontas, minuciosamente estudadas nos manuais de recolocação.
São pessoas em busca de emprego e que jogam o jogo que for preciso para isso. A crítica está naqueles que contratam, que criam e alimentam esse mercado de mentiras tão prejudicial às empresas e seus negócios.
O custo de uma contratação errada é altíssimo, principalmente se considerarmos que o engano demora a ser percebido e corrigido. Justamente por isso é que as empresas deveriam repensar a forma de contratar seus colaboradores, em qualquer nível.
Um processo de diálogo aberto, profundo e sincero seria um bom começo. Uma análise criteriosa do passado profissional da pessoa também faria diferença.
Admitir que ninguém é perfeito, que erros acontecem e que brigas com ex-chefes existem também seria muito útil para descobrir, por trás dos currículos plastificados, as pessoas como elas são de fato, fazendo jus ao nome da área da empresa que as contrata, Recursos Humanos, de preferência reais, de carne e osso.
Foto Shutterstock. Several silhouettes of businesspeople interacting background