Por Gustavo Chierighini, fundador da Plataforma Brasil Editorial.
Caro leitor, desta vez, enquanto roda a modorrenta batida do processo eleitoral, vou deixar de lado o mundo político-econômico para abordar o universo corporativo, onde, assim como na política, a falta do saudável conflito de ideias (sinônimo de “oposição” no mundo eleitoral) também traz a médio e longo prazo pobreza, atraso intelectual, estigmas descabidos e, claro, a ditadura do pensamento único. Nada pode ser mais nocivo.
Qual foi a última vez que você discutiu com colegas de trabalho?
O leitor já observou como nos distintos encontros e eventos que envolvem o mundo produtivo não ocorrem discussões acaloradas sobre as temáticas reinantes de gestão, condução econômica e soluções aplicáveis? Falo do mundo produtivo composto por empresas privadas, seus fornecedores também privados e respectivos arcos de stakeholders. Ao que parece, ali o contraditório não recebe o convite para participar.
Vou um pouco mais fundo. O leitor já observou os resultados obtidos por aqueles que assumem alguma posição firme em defesa de ideias próprias, concepções divergentes ou posições antagônicas à maioria dos outros membros do grupo na dinâmica interna dos ambientes corporativos/empresariais? Estes experimentam, quase sempre, o ocaso profissional.
Para colher o contrário, e serem plenamente aceitos, os profissionais precisam ser quase sempre identificados como um “igual”, ou seja, um portador de ideias e posicionamentos semelhantes (quando não idênticos) àqueles envergados pelo núcleo duro da direção.
A controvérsia não anda muito querida nas empresas?
Ou seja, o ato de estigmatizar não está presente apenas no expediente da esquerda ou da direita radical, está mais ligado a narrativas ideológicas muito severas de qualquer que seja o lado ou grupo. Narrativas essas que carregam, por semelhança de atuação, o péssimo hábito de tentar sempre impor a ditadura do pensamento único.
É absolutamente compreensível que a dinâmica produtiva não pode conviver com conflitos de opinião ou controvérsias permanentes, assim como é fundamental reconhecer a força que as lideranças internas precisam ter para uma condução coesa e sólida. Até ai, tudo bem, mas o problema das “verdades absolutas inquestionáveis” reside justamente na fragilidade que trazem para a rota empresarial.
Diante dessas “verdades”, uma vez que o debate de ideias pouco ocorre, não há espaço para a identificação antecipada dos tropeços e nem para as colisões atraídas muitas vezes pelo rigor da rota traçada. A única verdade aqui é que desta forma o radar corporativo fica meio empoeirado, o processo de inovação (de métodos, tecnologia e enfoques para a interpretação de problemas e soluções) atrofia e a solidez econômica se esvai.
A ausência da controvérsia inibe talentos e prejudica o ambiente de trabalho
Neste contexto, profissionais talentosos se calam diante do óbvio, preferindo muitas vezes não discutir nada. Enxergam os precipícios, mas não os relata; percebem complicações, mas fazem de tudo para passar ao largo dos problemas. Afinal de contas, ninguém parece querer correr o risco de ser visto como “O Diferente”.
Para encerrar, valem algumas situações concretas bem atuais, comprovando a ferrugem dos atuais sistemas corporativos: primeiro, a crescente discriminação que sofre o empresário brasileiro, tachado de “feio e malvado”; por fim, destaco os efeitos da lei 12.973/14 que aborda o fim do RTT, ou Regime Tributário de Transição (uma delícia sem fim, pesquise a respeito e vai entender). Obrigado e até o próximo.
Foto “Conflict at work”, Shutterstock.