Uma companhia brasileira tem crescido utilizando um conceito desenvolvido séculos atrás, mas até hoje pouco explorado: aproveitar a radiação eletromagnética emitida por dispositivos elétricos para ativar outros aparelhos, sem a necessidade de fios.
A IBBX, criada em 2018 por um grupo de engenheiros no interior de São Paulo, desenvolveu uma tecnologia que permite a captura de eletricidade desperdiçada no ar por motores, lâmpadas, telas e outros dispositivos elétricos e seu aproveitamento em sensores que ajudam a monitorar o estado dos próprios equipamentos, sem que os aparelhos precisem de baterias ou cabos para funcionar.
A empresa recebeu em janeiro uma patente nos Estados Unidos e já tem três registros concedidos no país. Outras 10 patentes estão em desenvolvimento, disse o fundador e presidente-executivo, Fernando Destro, que antes de abrir a IBBX estudou física, mas abandonou o curso para se formar em engenharia mecânica pela Escola de Engenharia de Piracicaba (SP).
“O Tesla é nosso ídolo, temos quadros dele por toda a IBBX”, disse Destro, quando perguntado sobre o inventor e engenheiro Nikola Tesla, que trabalhou em uma série de tecnologias de transmissão de eletricidade entre o final do século 19 e começo do 20.
Destro afirmou que as aplicações para o sistema são inúmeras, incluindo automação residencial, mas que a empresa optou por começar no mercado de internet das coisas (IoT) diante do grande impulso das empresas em ganhar eficiência e competitividade por meio da conexão de fábricas à rede mundial de computadores.
“Estamos falando de verdadeiros quilowatts de energia expelida dentro das indústrias e dá para fazer muita coisa com isso”, disse Destro.
Como exemplo, a IBBX estima que um único motor pequeno de 10 cavalos operando oito horas por dia desperdiça cerca de 6 KWh por dia, o equivalente a pouco mais que o gasto mensal médio de 150 KWh por mês de uma casa no Brasil.
Segundo o executivo, que desenvolveu a equação de captura de energia que permite que os dispositivos da IBBX funcionem sem baterias ou cabos, a companhia já está próxima do equilíbrio financeiro, tendo uma expectativa de obter 40 milhões de reais em receita recorrente neste ano para uma carteira de contratos que está em 190 milhões de reais atualmente.
“Até o final do ano, deveremos chegar a 300 milhões de reais (em contratos)…Pretendemos chegar a 1 bilhão até o final do ano que vem”, afirmou. A média dos contratos é de dois anos de duração e Destro comentou que o índice de renovação hoje é de mais de 90% em 14 meses de operação comercial da companhia.
A IBBX também desenvolveu um protocolo de comunicação proprietário que permite que seus dispositivos conversem com os aparelhos que estão monitorando. O protocolo permite o acionamento dos dispositivos da empresa cujo núcleo é semelhante a um microchip que pode ser adaptado dependendo da função pretendida pelo usuário, incluindo captura de movimentação de gado no campo, por exemplo.
Segundo Destro, um sistema comum de IoT numa fábrica exige investimento de 40 mil reais enquanto a solução da IBBX custa 350 reais por dispositivo com a cobrança de uma assinatura mensal de até 200 reais.
A empresa tem cerca de 90 clientes no Brasil e entre eles estão grandes empresas, incluindo a fabricante de motores MWM, controlada pela Tupy, e a produtora de nãotecidos Fitesa, que levou a solução para suas operações nos Estados Unidos, disse Destro.
A produção dos componentes é feita na Ásia e a montagem dos dispositivos é feita no Brasil por fabricantes terceirizados, disse o executivo.
A companhia começou com 12 funcionários e atualmente conta com uma equipe de 72 pessoas focadas em pesquisa e desenvolvimento, incluindo dispositivos pessoais e residenciais que a empresa pretende atender com a consolidação de seus negócios no segmento de IoT, algo que a empresa vai se concentrar nos próximos dois anos.
“Um IoT hoje consome em média duas pilhas AA por ano. Estamos falando de 93 gramas de lixo tóxico. Como são 125 bilhões de dispositivos em operação no mundo até 2030, serão 250 bilhões de baterias descartadas no meio ambiente”, disse Destro, cuja empresa tem como mote “livrar a humanidade de cabos e baterias” e citando dados da companhia de pesquisa de mercado IHS Markit.
“Isso é insustentável…Mas temos que achar uma maneira de melhorá-las e nada melhor que pegar uma energia que hoje é perdida e reciclá-la para movimentar esses dispositivos.”
No campo de dispositivos de consumo, Destro afirmou que a IBBX está discutindo um memorando de entendimento com uma “grande montadora de dispositivos eletrônicos pessoais e residenciais” para aplicação da tecnologia em aparelhos como smartwatches, fechaduras inteligentes e headsets.
O executivo se recusou a revelar o nome da companhia, mas trata-se de uma multinacional, disse. “Já assinamos um NDA (acordo de sigilo), estamos construindo o MOU (memorando de entendimento) e nosso time já está trabalhando.”
Entre os investidores da companhia estão os fundos Indicator, Citrino Ventures e Alexia Ventures, afirmou a IBBX. O total de recursos captados desde 2018 soma 7,6 milhões de dólares e Destro afirmou que uma nova rodada pode acontecer ainda este ano. “Estamos estudando uma rodada de investimentos, já temos alguns fundos interessados”, disse o executivo, citando que a nova rodada seria superior ao total já captado pela companhia.