A liderança situacional ensina que o líder atua de maneira diferente à medida que encontra circunstancias e pessoas diferentes para guiar. Além disso, nem sempre uma decisão bem-sucedida poderá ser replicada ou potencializada apenas com sua repetição. Uma pequena história mostra isso:
Um mestre encarregou seu discípulo de cuidar do campo de arroz. No primeiro ano, o discípulo vigiava para que nunca faltasse a agua necessária. O arroz cresceu forte e a colheita foi boa.
No segundo ano, ele teve a ideia de acrescentar um pouco de fertilizante. O arroz cresceu rápido e a colheita foi maior.
No terceiro ano, ele colocou mais fertilizante. A colheita foi maior ainda, mas o arroz nasceu pequeno e sem brilho.
Então, o mestre advertiu-o: – Se continuar aumentando a quantidade de adubo, não terá nada de valor no ano que vem.
Liderança pressupõe sensibilidade para conduzir a equipe e lidar com as circunstâncias. Hoje quero focar em dois exemplos de liderança que parecem muito interessantes, mas que se mostram tóxicos e perigosos no médio e longo prazo, especialmente no que diz respeito ao ambiente de trabalho.
Liderança tóxica 1: estilo marcador de ritmo
Todos conhecem esse estilo. São líderes ávidos por eficiência e resultado, o que pode até parecer admirável, mas deve-se ter cautela. Neste perfil, costuma-se definir padrões elevados de desempenho.
“Mais com menos” é a regra de ouro, e por essa característica aqueles que não correspondem à expectativa são substituídos por pessoas que correspondam. Simples assim.
Você pode pensar: “Essa abordagem melhora os resultados, então ótimo!”. No entanto, não é isso que ocorre. Marcadores de ritmo destroem o clima, esmagam as pessoas com suas exigências de excelência e o moral cai de forma gritante.
Talvez seja este o estilo de liderança que tenha motivado John Sculley e outros membros do conselho da Apple a tirar Steve Jobs da empresa que ele mesmo fundou. Uma lição amarga que imprimiu aprendizado na vida deste ícone contemporâneo e nos resultados da empresa.
Não prego a ingenuidade, longe disso. O mundo corporativo é competitivo e não deixa espaço para os medíocres. Todo sabemos disso. No entanto, a reflexão é que o estilo marcador de ritmo não pode ser o único nem o principal estilo do líder
A meu ver, Jobs deu a volta por cima e retornou como herói em sua empresa porque amadureceu e desenvolveu outros estilos de liderança (falarei disso em um próximo artigo) para recomeçar. Um grande exemplo de mudança. Ele também foi conhecido por ser marcador de ritmo, mas soube despertar e explorar outras formas de liderança em seu retorno. O resto é história.
Liderança tóxica 2: estilo “eu mando, você faz”
O lema deste estilo pode ser o clássico “Manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Líderes assim criam um cenário de terror na empresa ao intimidar e humilhar seus executivos, deixando clara sua insatisfação, por menor que seja o deslize (geralmente gostam de fazer isso gritando e na frente dos outros).
É o estilo que mais produz detratores na organização. A flexibilidade é impactada significativamente, levando seus subordinados a pensar da seguinte forma: “Não vou mencionar minhas ideias, elas serão rechaçadas mesmo”. Outros ficam tão desmotivados e ressentidos que pensam: “Não vou mais ajudar este canalha”.
Este líder mina a motivação, pois retira a autonomia, não deixa o liderado alcançar a excelência por si e faz com que o propósito maior de se fazer presente no trabalho seja perdido. Costumo dizer que é o estilo “Faça isso!”, pois seu vocabulário é curto e direto.
Por fim, devo mencionar que se trata de um estilo de liderança muito comum e não totalmente ruim. Em tempos de crises e catástrofes, ou mesmo diante de uma fusão agressiva, este líder pode se destacar e fazer a diferença. Ainda assim, no médio e longo prazo eles costumam falhar como líderes (não confunda com chefe).
Conclusão
Precisamos estar atentos a nossos estilos de liderança para não sermos monossilábicos e detentores de apenas um estilo. É importante adotarmos práticas que atendam as demandas das pessoas e as circunstâncias/contexto em que elas estão.
Do contrário, ficaremos reféns de nossos próprios erros, assim como o jovem discípulo que intoxicou o arroz com adubo em sua ansiedade por resultados. Arroz é orgânico; nós somos humanos; e números são números. Fica a reflexão. Até a próxima!
Foto “Leadership”, Shutterstock.