O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a arrecadação tributária despencou em todo o país em julho, ressaltando, em podcast transmitido nesta segunda-feira, que o Brasil teria um problema grave se o Banco Central tivesse demorado ainda mais para iniciar o ciclo de cortes na taxa básica de juros.
Na entrevista gravada sexta-feira com o jornalista Reinaldo Azevedo, Haddad afirmou que estava claro que dados positivos do PIB do primeiro trimestre tinham iludido algumas pessoas sobre a realidade da economia. No entanto, segundo ele, a atividade e dados de arrecadação já vinham retraindo desde abril.
“Esse corte de 0,5 (ponto percentual na Selic), do ponto de vista técnico, economia pura, se não viesse, teríamos um problema grave na economia, porque em julho a arrecadação despencou no Brasil inteiro”, afirmou.
O resultado oficial da arrecadação tributária em julho ainda não foi divulgado pela Receita Federal.
O ministro informou ainda que o governo vai lançar na próxima semana um grupo de estudos de acadêmicos que não são do mercado para analisar como se combate a inflação fora do Brasil. Ele justificou que o país historicamente opera com juros mais altos que outros países, mesmo em contextos de queda da dívida pública.
De acordo com Haddad, que disse ter se surpreendido com a demora no corte da Selic diante do cenário econômico, o objetivo do governo com a instalação do grupo de estudos não é se tornar o Banco Central, e sim entender a atuação da autoridade monetária.
Haddad também afirmou que a Fazenda vai demonstrar matematicamente que é possível atingir déficit primário zero em 2024 com a apresentação de medidas fiscais complementares. Se isso for alcançado, o país entrará em ciclo virtuoso e cenário de queda de juros, afirmou.
Ele ponderou que com o atual nível da Selic, mesmo que o BC corte 0,50 ponto percentual na taxa básica sucessivamente nos próximos meses, o país seguirá em um longo processo contracionista.
O BC iniciou o ciclo de corte de juros básicos com uma redução de 0,50 ponto percentual neste mês, a 13,25% ao ano, indicando que fará novos cortes de 0,50 ponto à frente.
Câmbio
Na entrevista, o ministro disse que fica feliz em saber que não está havendo um ataque especulativo contra o Brasil, argumentando que pessoas apostaram que o dólar ultrapassaria a marca de 6 reais com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Haddad observou que hoje a moeda norte-americana é negociada abaixo de 5 reais. Ele ressaltou, ainda, que não concorda com um Estado que não se importa com a dívida pública.
O ministro ainda afirmou não saber se há países mundo com nível de verbas destinadas a emendas parlamentares no volume do Brasil, de aproximadamente 40 bilhões de reais, ou 0,4% do PIB. Para ele, isso caracteriza um “parlamentarismo sem primeiro-ministro”.