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El Niño favorece soja sul-americana, mas gera atenção mais ao norte do Brasil

A maior umidade esperada no sul do continente pode resultar em um salto na safra no Rio Grande do Sul (tradicionalmente o terceiro maior Estado brasileiro para a soja)

by Reuters
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O retorno do El Niño deve marcar a safra de soja sul-americana 2023/24 com chuvas favoráveis para o Sul do Brasil e outros países da região como a Argentina, mas o fenômeno climático promete também precipitações irregulares em outras áreas brasileiras ao longo da temporada, desafiando produtores, segundo meteorologistas e especialistas.

A maior umidade esperada no sul do continente pode resultar em um salto na safra no Rio Grande do Sul (tradicionalmente o terceiro maior Estado brasileiro para a soja), uma nova grande colheita no Paraná (segundo produtor do país) e na Argentina, após temporadas frustradas pela seca da La Niña.

As anomalias das temperaturas mais altas das águas do Pacífico Equatorial indicam um El Niño com intensidade de fraca a moderada, segundo meteorologistas, o que garantiria uma nova safra recorde ao Brasil, líder global na produção e exportação da oleaginosa, que poderia produzir dessa vez mais de 160 milhões de toneladas — ainda que o fenômeno possa limitar as precipitações em outras áreas como Nordeste brasileiro.

Já a produção argentina pode quase dobrar após desastre da estiagem de 2022/23, que atingiu em partes o Rio Grande do Sul.

“Pelos mapas, é um El Niño bem clássico, com chuvas acima da média no Sul do Brasil e abaixo da média no Norte e Nordeste. De forma geral, num primeiro momento, trabalhamos com safra grande no Brasil e na Argentina, principalmente”, disse o analista de Safras & Mercado, Luiz Fernando Roque.

“Os mapas são muito bons para Argentina, tudo leva a crer que tenhamos recuperação importante, o país deve produzir 45-48 milhões de toneladas”, acrescentou. Os argentinos produziram 25 milhões de toneladas na safra passada, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).

Se as projeções se confirmarem para a temporada cujo plantio começa em meados de setembro em Mato Grosso — Estado brasileiro com produção equivalente à da Argentina –, os países sul-americanos, incluindo o Paraguai, poderiam responder por algo próximo de dois terços da exportação global de soja em 2023/24, estimada em cerca de 169 milhões de toneladas pelo USDA.

O cenário manteria pressionados os preços da soja, que já estão em patamares mais baixos após o Brasil ter colhido algo próximo 155 milhões de toneladas em 2022/23, apesar da seca no Rio Grande do Sul. A Argentina, embora não seja grande exportadora do grão como Brasil e Estados Unidos, voltaria a liderar o mercado global de farelo de soja –o país é líder em óleo de soja.

Mas o analista da Safras & Mercado, que tem uma projeção de 163 milhões de toneladas para o Brasil em 2023/24, pondera que há indicativos de que a partir de novembro a metade norte do Brasil, incluindo áreas do Centro-Oeste e Sudeste, pode ter chuvas abaixo da média, atrapalhando o desenvolvimento da safra.

“Já não estamos trabalhando com as mesmas produtividades da safra passada para Centro-Oeste e Sudeste… não quer dizer quebra de safra, mas os mapas ligam um alerta”, comentou.

Antonio Galvan, presidente da Aprosoja Brasil, entidade que reúne os agricultores, avaliou que, dependendo do grau, o El Niño, pode atingir parte de Mato Grosso e Goiás.

“Agora, independentemente disso, temos de plantar… a gente imagina que tenhamos uma safra melhor, recorde… mas devido a preços mais baixos não vemos o produtor com vontade de ampliar a área plantada, como nos anos seguintes… então, se o El Niño comprometer mais, pode ser que a gente não consiga atingir os mesmos números deste ano”, disse ele.

Para a meteorologista Desirée Brandt, da Nottus, o clima mais irregular tende a afetar o Nordeste, incluindo Estados da região conhecida como Matopiba. Para ela, não vai ser o ideal, mas estará longe dos problemas registrados em 2015/16, quando houve um El Niño forte.

Brandt explicou que, como o oceano Atlântico também está mais quente, isso “protege o Nordeste de uma seca mais séria”.

“Dificilmente o Nordeste atinge a média histórica, mas isso não significa ausência total de chuvas, e o grande desafio vai ser o momento dessa chuvas.”

Riscos para plantio

O fenômeno climático tende a antecipar as precipitações de primavera no Centro-Oeste, mas elas virão irregulares, o que demanda alguma cautela de produtores no início do plantio para não se perder o trabalho de semeadura.

Os riscos são tanto para os volumes de chuva quanto para ocorrência de precipitações mais localizadas. “Ao longo de toda a primavera e todo verão, na maioria da vezes, vai acontecer dessa forma… De vez em quando a chuva pode ser espalhada, mas muitas vezes vai ser aquela chuva de manga (localizada)”, acrescentou a meteorologista.

Para Brandt, talvez o início do plantio seja até mais lento, se o produtor rural for plantar de forma cautelosa.

O agrometeorologista Marco Antônio dos Santos, da Rural Clima, concorda que o El Niño “está longe” de ser forte e, por não ser “tão maduro”, trará chuvas irregulares até outubro.

“Vai chover muito pouco no mês de setembro, vai chover para um e não vai chover para outro, vai ter gente iniciando o plantio no dia 10 de setembro, tem gente que não vai iniciar”, disse ele, ressaltando que isso não significa ausência geral de chuvas.

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