O calor intenso, com temperaturas acima de 40 graus Celsius em boa parte do Brasil esta semana, e a ausência de chuvas na maior parte do país deverão desafiar o início do plantio de soja no maior produtor e exportador global, segundo especialistas.
O plantio de soja já começou, inclusive antecipadamente em áreas que contam com umidade, como o Paraná e a parte noroeste de Mato Grosso, mas o clima adverso deve limitar os trabalhos nos próximos dias, fazendo com que o semeio avance pouco.
“Alguns produtores avançaram em pontos onde tinha umidade no solo, mas sem nova rodada de chuvas e sem previsão para os próximos dias e altas temperaturas, já estão tirando o pé onde está mais seco”, disse o analista Adriano Gomes, da consultoria AgRural, nesta segunda-feira.
O plantio da safra 2023/24 de soja no país havia atingido na quinta-feira 0,2% da área estimada para o Brasil, ante 0,1% no mesmo período do ano passado, segundo levantamento da AgRural.
“Apesar da antecipação do fim do vazio sanitário para parte dos produtores, o ritmo dos trabalhos ainda é lento em Mato Grosso devido à espera por maiores volumes de chuva”, disse a AgRural, em relatório.
Muitos produtores conseguiram autorização para começar o plantio em 1º de setembro, antes do fim do vazio sanitário quando não se pode plantar soja para evitar a disseminação da ferrugem asiática da soja, visando antecipar a safra com foco no plantio de algodão após a colheita da oleaginosa. Sob condições climáticas de El Niño, alguns temem as chuvas cortem mais cedo no ano que vem, o que não seria bom para as lavouras da pluma.
Um eventual atraso no plantio de soja, portanto, não chega a ser um problema para a oleaginosa, mas sim para as culturas de segunda safra, que teriam sua janela climática favorável encurtada.
Segundo a consultoria, alguns “bons acumulados” foram registrados na semana passada em pontos isolados de Mato Grosso, mas os mapas de previsão mostram poucos volumes até o fim de setembro.
Dessa forma, quem puxa o ritmo do plantio de soja neste momento no Brasil é o Paraná, “onde a umidade do solo é melhor e estimula os produtores do oeste e do sudoeste a entrar em campo.
“A continuidade do bom ritmo, porém, pode ser prejudicada nesta semana pelo clima”, acrescentou a consultoria.
Para o agrometeorolista da Rural Clima Marco Antonio dos Santos, o grande destaque desta semana vai para a temperatura “extremamente alta” nos últimos dias do inverno.
“Os termômetros podem facilmente pode passar de 42 graus… desde o Paraguai, oeste do Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Bahia…”, disse Santos, destacando que a maior preocupação é com Mato Grosso, Goiás, Mato Grosso do Sul, “onde termômetros podem chegar facilmente a 45, 46 graus”.
Segundo ele, podem ocorrer algumas poucas chuvas isoladas, mas com as temperaturas altas as lavouras poderiam ser prejudicadas. “Muita atenção para quem está soltando o plantio, não há previsão de chuvas generalizadas. E chuva de 10 milímetros com temperatura de 45 graus, isso cozinha a planta, muito cuidado”, comentou Santos.
Ele reformou que a previsão indica chuvas quase que “zero” na semana, na região central do Brasil. Com isso, no solo a temperatura pode passar facilmente de 60 graus.
Uma frente fria chega no início da próxima semana, o que poderá romper o bolsão de calor. As precipitações favoráveis ao plantio só devem se regularizar, de fato, em meados de outubro, disse o agrometeorologista.
Milho
O plantio da primeira safra de milho da temporada 2023/24 havia atingido na quinta-feira 21% da área estimada para o centro-sul do Brasil, ante 17% na semana anterior e 22% um ano atrás, de acordo com dados da AgRural.
Com excesso de umidade, o plantio no Rio Grande do Sul teve mais uma semana de lentidão, abrindo espaço para que o Paraná e Santa Catarina tomassem a dianteira dos trabalhos, comentou a consultoria AgRural.
A colheita da safrinha de milho 2023, por sua vez, atingiu 97% da área cultivada no centro-sul.