As condições colocadas pelo Banco Central para eventualmente intensificar os cortes na taxa básica de juros nos próximos meses são “bastante difíceis de serem atingidas”, disse nesta terça-feira a diretora de Assuntos Internacionais da autarquia, Fernanda Guardado, ressaltando que será preciso haver surpresas positivas muito substanciais para que isso ocorra.
Em evento promovido pela XP, Guardado afirmou que o BC está muito comprometido com o ritmo de flexibilização já anunciado, de 0,50 ponto de corte na Selic nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom).
“Teriam que ser surpresas muito substanciais para haver essa reavaliação”, disse. “Deixamos claro que essas condições são bastante difíceis de serem atingidas (…), é uma barra muito alta, a gente só quis deixar claro quão alta é essa barra”.
O BC decidiu neste mês iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros, a 13,25% ao ano, indicando novas baixas equivalentes à frente. A decisão sobre o corte inicial não foi tomada de forma unânime pelos diretores, com Guardado se alinhando ao grupo que pregava uma redução mais moderada, de 0,25 ponto.
Na ata da reunião, o Copom traçou como critérios para uma eventual intensificação no ritmo de afrouxamento uma reancoragem “bem mais sólida” das expectativas, “abertura contundente do hiato do produto” ou “dinâmica substancialmente mais benigna” do que a esperada da inflação de serviços.
Na apresentação desta terça, a diretora destacou que os adjetivos usados na comunicação do BC não foram incluídos “levianamente”, mas como forma de mostrar o tamanho da surpresa que precisará ser observada para justificar uma mudança de rumo na política monetária.
Segundo ela, uma surpresa substancial na inflação de serviços não seria um movimento 0,05 ponto percentual “para lá ou para cá”, mas algo que empurre as expectativas para o comportamento de preços no setor “substancialmente para baixo”.
Perguntada se uma mudança de visão do BC viria caso alguma das condições fosse cumprida ou apenas se todas fossem alcançadas, ela afirmou que “estaria muito mais no espírito” de alcançar “um e outro” do que “um ou outro”.
A diretora ponderou que essas condições estão conecatadas e que provavelmente a mudança ocorreria em conjunto.
Em relação à divergência entre os diretores, ela afirmou que uma decisão inicial de cortar 0,25 ou 0,50 ponto faria pouca diferença nas expectativas de inflação. Para ela, porém, acelerar o afrouxamento para 0,75 ponto no meio do ciclo indicaria um novo ritmo para os cortes, algo que não está no cenário do BC.
Guardado enfatizou que a reancoragem das expectativas de inflação observada até agora foi apenas parcial, ainda permanecendo em grau “desconfortável”.
A diretora disse que o trabalho do BC está rendendo frutos e vindo em linha com o esperado, ressaltando que a autoridade monetária vai perseverar até que haja consistência no processo de desinflação.