Organizar uma cúpula climática da Organização das Nações Unidas (ONU) para dezenas de milhares de pessoas em qualquer cidade é uma tarefa assustadora. Fazer isso em um pedaço da floresta amazônica desacostumado a receber multidões de visitantes será ainda mais difícil.
Belém, a capital do Pará com 1,3 milhão de habitantes que sediará a reunião do clima COP30 em 2025, foi testada durante uma cúpula de nações com florestas tropicais nesta semana. Com uma escassez de oferta de camas de hotel para os 27.000 participantes da cúpula, as tarifas dispararam.
Mas a cidade espera mais de 70 mil para a COP30. Para lidar com o problema, Belém pode se apoiar em uma solução fundamental para a vida no delta do rio Amazonas há centenas de anos: os barcos.
Alguns delegados poderão se deslocar diariamente de barco a partir de ilhas próximas, enquanto os chefes de Estado poderão ficar em navios de cruzeiro estacionados no porto, segundo autoridades governamentais.
A cidade planeja concluir um diagnóstico ainda este mês sobre todos os desafios a serem enfrentados nos dois anos até a cúpula, incluindo sistema de esgoto inadequado, estradas esburacadas e transporte público precário.
“Na cidade estamos preparados para receber um evento tão grande? Se fosse hoje, não estaríamos”, disse Luiz Araújo, que lidera o comitê municipal de preparação da COP30.
A ONU convoca uma conferência anual para as partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, um evento que se tornou mais urgente conforme são registrados recordes de calor e a meta de manter o aquecimento dentro de 1,5 grau Celsius parece estar fora de alcance. A COP28 deste ano será no final de novembro e dezembro em Dubai.
O Brasil aposta muito no sucesso da COP30. A reunião irá simbolizar uma reviravolta diplomática liderada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que prometeu restaurar a posição do Brasil como líder em política ambiental após quatro anos de desmatamento crescente sob seu antecessor, Jair Bolsonaro.
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ofereceu 5 bilhões de reais em financiamento para projetos de preparação de Belém para a cúpula. Os governos estadual e municipal, bem como empresas privadas, planejam aproveitar o financiamento federal.
No porto, uma fileira de depósitos de metal corrugado em ruínas é um exemplo de uma área onde a cidade está planejando uma reforma. Fechado para construção esta semana, as placas proclamavam “Porto Futuro é Aqui”, com representações de um moderno complexo de compras e entretenimento.
Ao longo da orla, o mercado Ver-o-Peso, famoso por vender peixes enormes, também passará por uma reformulação do governo antes da COP30.
“O que eu gostaria é que as nossas autoridades arrumassem a casa”, disse a vendedora Beth Cheirosinha. “Está muito deteriorada, está muito abandonada, está muito jogado às traças. Para receber todo esse povão tem que ter um lugarzinho chique”.
A Reuters visitou a futura sede da COP30 em Belém, no local de um aeroporto abandonado. Um enorme centro de conferências preencherá o terreno baldio onde os trabalhadores apenas começaram a assentar o concreto, com planos para a pista existente permanecer no local.
Com apenas 17.500 leitos de hotel atualmente nas imediações da cidade, Belém planeja dobrar ou triplicar a capacidade hoteleira, expandindo os hotéis existentes e aproveitando os resorts de praia e selva da área circundante, disse Tony Santiago, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA). Isso pode significar trazer alguns delegados de barco todos os dias.
Opções de acomodação privada também estarão disponíveis em plataformas como o Airbnb, afirmou ele.
Mesmo assim, a cidade pode ter dificuldade em encontrar acomodações condizentes com os mais de 100 chefes de Estado esperados, disse Araújo, do comitê municipal.
Uma solução seria dragar o porto para que os transatlânticos possam entrar. Esses navios abrigaram autoridades quando Trinidad e Tobago sediou a Cúpula das Américas em 2009.
A cidade será o primeiro município da Amazônia brasileira a elaborar um plano climático abrangente, segundo Araújo.
O governador do Pará, Helder Barbalho, disse que a COP30 trará recursos para melhorar o saneamento e trocar ônibus a gasolina por veículos elétricos ou a gás.
Mas será impossível resolver tudo.
“Nós não queremos criar uma bolha e achar que Belém não terá problemas em novembro de 2025”, afirmou Barbalho. “Mas entendemos que é possível apresentar uma cidade com qualidade receptiva.”