O economista Felipe Miranda, um dos sócios da Consultoria financeira Empiricus Research, escreveu em 2014 o relatório “O Fim do Brasil”. Rapidamente, pelo teor do relatório, Felipe se tornou uma das referências da economia, principalmente porque se posicionou entre aqueles que previam grandes dificuldades para o Brasil.
O material teve tanta repercussão que despertou o olhar do governo, que tentou desqualificar o material considerando-o de cunho alarmista. Agora, caminhando para o final do primeiro trimestre de 2015, tive a chance de voltar a conversar com o Felipe para conhecer seus pensamentos sobre o futuro do país.
Durante nossa conversa, percebi que mesmo apresentando um cenário ainda delicado, Felipe confia no futuro do país e, principalmente, tem a expectativa de compartilhar com as pessoas seus pensamentos e sugestões de investimentos.
Você pode não concordar com as ideias do Felipe, mas sem dúvidas hoje o economista se tornou uma voz que merece ser ouvida no Brasil. Vale ressaltar que se você não compartilha das mesmas opiniões do entrevistado, o Dinheirama resguarda a qualquer leitor o mesmo espaço para expor seu pensamento. Acompanhe agora nosso papo:
Felipe, após a divulgação do relatório “O Fim o Brasil” muitos leitores acreditaram que as previsões contidas naquele material eram pessimistas. Com o tempo, muita gente foi obrigada dar o braço a torcer. Como você enxerga o futuro a curto e médio prazo para a economia do Brasil?
Felipe Miranda: O futuro ainda é muito delicado. As projeções têm, sim, ficado pessimistas, mas ainda estão atrasadas, naquilo que tradicionalmente se chama de “behind the curve”. Acho que a fraqueza para o PIB é muito superior àquela contemplada nas estimativas de consenso, e não contempla a chance de eventos de cauda negativos neste momento.
Se levarmos em considerações a ambiente político, em sua opinião o Ministro Joaquim Levy terá forças para realizar as reformas necessárias?
F.M.: Certamente, alguma coisa ele conseguirá fazer. Tem demonstrado força e competência para isso. Ademais, boa parte do ajuste fiscal previsto para este ano não depende tanto do Congresso. Entretanto, acho que as conquistas serão insuficientes para impedir uma evolução da dívida/PIB, para cumprir a meta de superávit primário para o ano e para garantir o atual rating soberano. Acho que teremos frustração tanto do lado dos gastos quanto das receitas.
Em 2014 você já alertava os clientes da Empiricus quanto as possibilidades de desvalorização do Real frente ao Dólar. O que você pode falar para os leitores do Dinheirama sobre o câmbio daqui pra frente?
F.M.: Acho que o ajuste apenas começou. O dólar tem ganhado valor contra as principais moedas. Deve buscar a paridade contra o euro. A economia americana cresce mais do que as outras e há diferenças importantes de política monetária nos EUA e o restante dos países desenvolvidos. No Brasil, em particular, os fundamentos são muito ruins e ensejam depreciação adicional do câmbio. A tendência ainda é pra cima.
Falando de investimentos, vocês criaram algum relatório específico pensando no cenário de 2015?
F.M.: Sim. Entramos numa fase muito importante agora, em que entendo que o mundo entrará num período de muita dificuldade, com os Bancos Centrais sendo cobrados pelo excesso de liquidez que colocaram no sistema desde 2008 – falamos de US$ 12 trilhões e isso é muito dinheiro. Esse excesso de dinheiro no sistema a juro zero (ou até mesmo negativos) suprime a volatilidade e esconde riscos. O incentivo para excesso de agressividade e dívida é muito grande. Há uma clara bolha das bolsas internacionais, em seus níveis mais caros de toda a história. Precisamos orientar nossos clientes por este novo caminho e é por isso que lançamos o Palavra do Estrategista, em que combinamos textos meus com relatórios escritos por economistas e analistas pertencentes ao conglomerado global do qual fazemos parte.
Existe alguma forma para o pequeno e médio investidor se proteger investindo fora do Brasil? Você aconselha essa estratégia?
F.M.: Sim, ele pode abrir uma conta lá fora com certa facilidade. É aconselhável se ele possuir ao menos US$ 100 mil. Mas mesmo aqui dentro ele pode se proteger com fundos cambiais ou exposição ao ouro, na BM&F ou em fundos de seus bancos.
Felipe, mais uma vez agradecemos por seu tempo. Por favor deixe uma mensagem final para os leitores do Dinheirama que acompanham o seu trabalho e gostariam de saber mais sobre suas ideias e pensamentos para o futuro do Brasil.
F.M.: Muito obrigado pela oportunidade. A mensagem é muito clara: o horizonte do Brasil no longo prazo é formidável e há coisas começando a ficar baratas. Antes, porém, as coisas vão piorar bastante, para depois melhorar. Assista este novo vídeo que acabo de lançar.
Nota: Esta coluna é mantida pela Empiricus, que contribui para que os leitores do Dinheirama tenham acesso a conteúdo gratuito de qualidade.