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Haddad inicia “fritura” pública de Campos Neto e alimenta rumor de saída antecipada

Está sendo "uma experiência extremamente complexa conviver com um presidente do BC que você não escolheu", disse Haddad

por Gustavo Kahil
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O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já não esconde mais a sua insatisfação com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e iniciou uma “fritura” pública do economista em uma entrevista ao jornal Folha de S.Paulo publicada neste sábado (27).

Segundo ele está sendo “uma experiência extremamente complexa conviver com um presidente do Banco Central que você não escolheu”.

Indicado por Jair Bolsonaro, Campos Neto, permanece no cargo até dezembro de 2024. A Lei de Autonomia do BC, sancionada em fevereiro de 2021, garantiu mandatos fixos ao seu presidente e aos diretores em formato intercalado para um mandato de quatro anos, com direito a uma recondução.

Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sorri ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Brasília 23/11/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino)
Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sorri ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Brasília 23/11/2023 REUTERS/Ueslei Marcelino)

Mudança de tom

Enquanto o cenário macroeconômico global se direcionava para a possibilidade de cortes de juros pelo Federal Reserve, e consequentemente abrindo espaço para a queda da Selic, Haddad atuava como um protetor de Campos Neto em relação à ala política do governo e do PT.

O cenário, contudo, mudou.

Os indicadores nos EUA agora indicam uma pequena chance de alívio monetário em 2024, ou até nenhuma alteração no juro. Esta percepção, aliada aos debates sobre as projeções para contas públicas do governo Lula, diminuiu as estimativas para os próximos cortes da Selic.

Agora, se fala em um ajuste de 0,25 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) em 8 de maio, ante o 0,5 ponto projetado anteriormente. Além disso, o mercado agora debate o ponto de interrupção das reduções do juro.

Enquanto no início do ano esperava-se, segundo o relatório Focus, uma parada aos 9%, hoje o mercado estima o final do ciclo a 9,5%. O viés é de alta.

Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante café com jornalistas
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante café com jornalistas (Imagem: Ricardo Stuckert / PR)

Saída antecipada

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse na última terça-feira que ainda terá que decidir se vai antecipar a indicação do sucessor de Campos Neto ou se fará o anúncio mais próximo do fim do seu mandato.

Lula voltou a questionar a atuação de Campos Neto e a defender a redução dos juros.

“Eu tenho que indicar mais diretores e o presidente do Banco Central até o final do ano. Só tenho que decidir se vou antecipar ou se deixo para indicar o mais próximo possível do vencimento do mandato do Roberto Campos”, disse o presidente.

Hadadd, agora, também questiona abertamente uma mudança no ritmo das reduções da Selic.

“Eu não sou diretor do Banco Central. Mas, para mim, seria uma enorme surpresa, com a inflação de março em 0,16% (os juros subirem). Estão pedindo o quê da economia brasileira?”, afirmou Haddad na entrevista concedida na última quinta-feira e publicada neste sábado.

Haddad não é diretor do Banco Central, mas o seu amigo Gabriel Galípolo, indicado por ele para a diretoria de política monetária em junho do ano passado, é.

Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad
Gabriel Galípolo, diretor de política monetária do BC, ao lado do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (Imagem: Washington Costa/MF)

Galípolo e Haddad

Na ocasião da sua entrada no BC, o ministro disse que a sua indicação tinha o objetivo de aproximar as equipes dos dois órgãos e evitar ruídos de informações.

“O objetivo de Galípolo estar no Banco Central é aproximar as equipes, ter uma interação maior, trocar informações. Nem sempre as informações batem”, declarou.

Os laços de Galípolo, que foi vice de Haddad no Ministério da Fazenda, continuaram a ser cultivados depois da sua ida para o BC.

Segundo a Reuters, o diretor pega carona em voos da Força Aérea Brasileira (FAB) com o ministro de Brasília para São Paulo e participa de diversas reuniões informais no gabinete do ministério na capital paulista, entrando inclusive pela entrada privativa.

Galípolo também tem vínculos com Lula que independem de sua relação com Haddad devido à sua conexão com o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, seu parceiro acadêmico de longa data, que atua há anos como conselheiro do presidente.

Alinhado ao presidente, Galípolo chegou a dizer na última quarta-feira (24) que possui uma opinião “radical” de que a autarquia não deveria ter direito a voto na determinação da meta de inflação no Conselho Monetário Nacional (CMN), defendendo que ela seja estabelecida pelo “poder democraticamente eleito”.

O diretor afirmou que não cabe à autarquia opinar sobre qual deveria ser a meta de inflação, argumentando que o mandato do BC é apenas perseguir a meta estabelecida.

(Com Reuters)

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