O Ibovespa (IBOV) fechou em queda nesta quarta-feira, após um dado de inflação nos Estados Unidos mover para setembro as apostas de um primeiro corte de juros pelo Federal Reserve, enquanto Petrobrás (PETR3; PETR4) figurou entre as poucas altas do dia, após a estatal anunciar descoberta de petróleo na Margem Equatorial e com notícias de que o CEO, Jean Paul Prates, deve continuar no cargo.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,41%, a 128.053,74 pontos. Na máxima do dia, chegou a 129.871,64 pontos. Na mínima, a 127.731,77 pontos. O volume financeiro somou 23,4 bilhões de reais.
De acordo com o chefe da EQI Research, Luís Moran, o mercado brasileiro refletiu um ajuste de preços conforme as apostas de um primeiro corte de juros nos EUA se moveram rapidamente em direção a setembro, uma vez que os dados corroboram a visão de que os juros ficarão mais altos por mais tempo.
“A inflação está mais resistente do que o mercado estava esperando originalmente e, portanto, talvez o Fed não corte os juros tão cedo”, afirmou.
Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) aumentou 0,4% no mês passado, depois de avançar pela mesma margem em fevereiro, informou o Departamento do Trabalho nesta quarta-feira. Economistas consultados pela Reuters, porém, previam alta de 0,3%.
Na visão do economista-chefe da Azimut Brasil, Gino Olivares, o dado provavelmente demandará uma recalibragem do discurso do Fed de que tudo estava indo conforme o esperado. “A resposta dos mercados foi imediata, reduzindo ainda mais as suas previsões de cortes de juros pelo Fed neste ano”, observou.
Após a divulgação, os juros futuros norte-americanos passaram a precificar que o Fed deve realizar um primeiro corte de 0,25 ponto percentual em sua reunião de 17 e 18 de setembro, levando a taxa para uma faixa de 5% a 5,25%, com apenas mais um corte provável até o final do ano.
Tanto operadores quanto analistas esperavam, até esta manhã, três cortes este ano, um cenário presente nas projeções divulgadas pelo Fed no mês passado.
À tarde, o Fed divulgou a ata da reunião de política monetária de março, que mostrou as autoridades do BC norte-americano preocupadas com a chance de o progresso da inflação ter estagnado e ser necessário um período mais longo de política monetária restritiva para controlar a inflação.
Em Wall Street, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário norte-americano, cedeu 0,95%, enquanto o rendimento do título de 10 anos do Tesouro dos EUA avançava a 4,5476% no final do dia, de 4,366% na véspera. Na máxima, chegou a 4,568%.
Os preços ao consumidor também foram destaque na agenda macroeconômica doméstica, mas, diferentemente dos EUA, o IPCA desacelerou com força em março, mostrando alta de 0,16%, menor do que o previsto por economistas. A taxa em 12 meses ficou abaixo de 4% pela primeira vez desde julho de 2023.
A alta nos retornos dos Treasuries, contudo, frustrou um efeito mais positivo do IPCA nas taxas dos contratos de DI, o que pesou em papéis sensíveis a juros, com índices como o do setor de consumo encerrando com declínio de 2,4%, enquanto o do setor imobiliário cedeu 2,52%.
Destaques
Petrobrás (PETR4) avançou 2,22%, a 39,59 reais, um dia após anunciar que descobriu uma acumulação de petróleo em águas ultra profundas da Bacia Potiguar, no poço exploratório Anhangá, próximo à fronteira entre os Estados do Ceará e Rio Grande do Norte, na Margem Equatorial brasileira.
Investidores também continuam na expectativa de desfechos envolvendo a presidência da estatal e a distribuição de dividendos extraordinários retidos em março pela empresa.
Fontes afirmaram à Reuters que o CEO da companhia, Jean Paul Prates, deve continuar no cargo, já que a pressão para demiti-lo diminuiu.
No exterior, barril de petróleo Brent encerrou com acréscimo 1,19%.
Vale (VALE3) caiu 1,52%, a 61,60 reais, sucumbindo ao movimento de maior aversão a risco desencadeado pelos dados dos EUA, apesar da alta dos preços futuros do minério de ferro na China pela terceira sessão consecutiva nesta quarta-feira.
O contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian encerrou as negociações do dia com alta de 1,43%, a 813,5 iuans (112,48 dólares) a tonelada, depois de subir mais de 5% na terça-feira.
Itaú Unibanco (ITUB4) cedeu 2,11%, a 32,86 reais, e Bradesco (BBDC4) recuou 2,11%, a 14,40 reais, também pressionados pelo movimento vendedor generalizado na bolsa paulista.
Azul (AZUL4) fechou negociada em baixa de 6,93%, a 12,76 reais, com papéis sensíveis a juros de modo geral no negativo na bolsa com a alta na curva de DI, uma vez que o movimento nos Treasuries ofuscava a alta menor do que a esperada no IPCA de março.
A ação da Azul vinha de quatro altas seguidas, período em que acumulou um ganho de mais de 9%.
3R Petroleum (RRRP3) perdeu 0,48%, a 35,35 reais, após assinar com a Enauta memorando de entendimento para levar adiante uma proposta de fusão entre as petrolíferas revelada no início deste mês.
Enauta (ENAT3), que não faz parte do Ibovespa, subiu 1,88%, a 28,18 reais.
Cyrela (CYRE3) recuou 3,08%, a 23,63 reais, acompanhando o declínio generalizado de papéis sensíveis a juros, mas tendo no radar ainda prévia operacional da construtora no primeiro trimestre, com alta de 39% nas vendas líquidas contratadas ano a ano, para 2,1 bilhões de reais.