Se existe um negócio arriscado para se fazer com o seu dinheiro é se aventurar abrindo o seu negócio próprio. Os desafios são vastos: concorrência pesada, burocracia, riscos de toda espécie.
Ao contrário do cenário de glamourização do empreendedorismo, o que se tem desenhado atualmente é um trabalho muito árduo a ser realizado, pois trabalhar para si, quase sempre implica em uma entrega pessoal muito maior do que ter a carteira assinada.
Espera-se, como recompensa do esforço e riscos assumidos, um retorno financeiro raramente alcançável em empregos tradicionais ou no funcionalismo público.
Os efeitos do empreendedorismo na sociedade são enormes. Não por acaso, os países de maior desenvolvimento são aqueles que têm como política de estado o estímulo e o fomento ao empreendedorismo.
É evidente que não é o caso do Brasil. Por aqui, os maiores riscos que um empreendedor enfrenta estão justamente no Estado Brasileiro, com sua fome impetuosa por impostos, legislações nebulosas e desestimulantes.
O que fazer, então, para se mitigar os riscos ao empreender? Às vezes, os fundadores de um negócio sabem como fazer um produto, mas não têm a experiência de conduzir um negócio. Para estes casos, o investimento-anjo pode ser um instrumento de grande utilidade.
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Mas o que é o investimento-anjo, afinal?
Mesmo aparecendo a palavra anjo no nome, investimento-anjo não é filantropia. Embora possa haver algum tipo de trabalho nesta linha durante o processo, o principal objetivo não é dar mentoria ao empreendedor.
O objetivo do investimento-anjo é a alocação de recursos em startups: empresas criadas e geridas, desde a sua fundação, para crescerem exponencialmente e se tornarem grandes empresas.
As startups são negócios escaláveis, o que significa dizer que este crescimento vertiginoso não implicará, necessariamente, em aumentos proporcionais dos custos para sustentar a expansão da empresa.
Imaginemos que você tem uma padaria. Sua luta diária é para pagar as contas, funcionários, comprar máquinas, controlar estoques, pagar o aluguel ou comprar um bom ponto comercial.
Caso haja uma oportunidade de expandir o seu negócio, estes custos acompanharão e serão ampliados de uma maneira bastante significativa.
Startups também são negócios repetíveis: milhares de clientes podem ser atendidos pelo mesmo pacote de soluções, sem grandes necessidades de customização.
Numa startup, os custos internos são relativamente baixos. É habitual (e altamente desejável) que, no início da empresa, a divisão de todas as funções dentro do negócio se dê entre os próprios sócios.
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À medida que o negócio cresce
Poucos funcionários serão contratados, sendo suficientes para contemplar as necessidades de milhares de clientes.
O aporte de dinheiro necessário para se expandir o negócio de uma startup pode ser destinado, em grande parte, para marketing e captação de clientes. Não é o que acontece no caso da padaria.
Um investidor-anjo é uma pessoa física que deseja alocar seus recursos em uma startup, com o objetivo de maximizar o seu capital. Na ótica do investidor, trata-se de um investimento como outro qualquer.
Espera-se que, com o dinheiro do investidor, as startups tenham oportunidades para crescer, captando mais clientes e receitas.
Vantagens do investimento-anjo para a startup e seus fundadores
Sempre é bom receber dinheiro. Pena que ele nunca chegue em um cheque via correios, como consta em um famoso livro de autoajuda. A contrapartida sempre será inevitável.
Em troca do dinheiro do investidor, os fundadores se comprometem a lhe fornecer uma pequena parcela de participação societária na empresa (equity).
A critério do próprio investidor, esta conversão do dinheiro investido em quotas da empresa geralmente se dá em um tempo futuro. Então, o investimento-anjo começa como uma dívida da startup com o investidor.
Se considerássemos apenas da troca de capital por equity, esta captação poderia parecer muito onerosa para os fundadores da empresa. Sairia mais em conta ou faria mais sentido emprestar dinheiro junto a um banco.
Mas não se trata apenas de dinheiro para o progresso do negócio. O investimento-anjo é chamado de smart-money: a vivência do investidor no mundo dos negócios pode ser mais útil aos empreendedores do que o próprio dinheiro em si.
Ao fornecer também uma fração de seu tempo, o investidor pode ajudar a startup em diversos aspectos, como em:
- Relacionamento e contato com parceiros e clientes estratégicos,
- Otimização de processos empresariais,
- Promoção da empresa para potenciais novos investidores,
- Direcionamento de novas frentes de negócio, etc.
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Vantagens do investimento-anjo para o investidor
“Algumas coisas você precisa ter 20 anos para fazer, e acho que programar um sistema operacional é uma delas”. Esta frase é de Linus Torvalds, o criador do Linux.
É fascinante encontrar este brilho nos olhos de jovens que realmente querem mudar o mundo. A realidade, como sabemos, teima em ser bem mais cruel: se já é difícil mudar a nós mesmos, imagine o mundo.
Porém, se realmente há pessoas capazes de transformar a nossa sociedade, são os jovens. Não estou falando de ser jovem, no sentido literal, de idade. Existem senhores jovens de espírito, com o mesmo sangue nos olhos de meninos de dezoito anos.
Por que, então, o próprio investidor-anjo não implementa a ideia, em vez de arriscar o seu dinheiro em outras pessoas?
Como investidores, não temos tempo, conhecimento e energia para criar um novo negócio disruptivo, muitas vezes em áreas alheias à nossa expertise.
Não dá para abraçar o mundo
Possuímos nossos negócios próprios e inovar radicalmente dentro deles frequentemente resulta em custos altíssimos e perda de foco no core-business.
É bastante corriqueiro também que estas inovações disruptivas, quando implementadas dentro de uma empresa tradicional – sem o DNA de uma startup e “contaminada” pela cultura do negócio principal – acabem inevitavelmente fracassando.
Face a tantos riscos de se implementar inovações de impacto, as startups trabalham com as premissas de serem ágeis para desenvolver.
Elas também podem fazer experimentos de tração, testar hipóteses, efetuar replanejamentos e pivotar (remodelar) o próprio negócio em si.
Estas características não costumam ser nativas nos negócios “tradicionais”. Então, o investimento-anjo possibilita ao investidor o fomento de negócios de alto potencial mercadológico, funcionando sob um modelo de gestão apropriado e autônomo com relação aos negócios anteriores do investidor.
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Aos fundadores
É fundamental que esta autonomia impere no processo de investimento-anjo. Eles continuarão sendo sócios majoritários no negócio que criaram, o que é fundamental para dedicarem esforços compatíveis com a função de donos da empresa.
Seria ilógico esperar por resultados extraordinários sem uma dedicação extraordinária, não é?
Devido aos altíssimos riscos inerentes a este processo, apenas uma pequena parte do patrimônio do investidor deve ser alocada neste tipo de investimento. A Associação Anjos do Brasil recomenda a alocação máxima de 15% do montante disponível.
Como prêmio do risco assumido, o investidor espera obter ganhos indisponíveis em outras modalidades de investimento. O investimento-anjo pode ser uma oportunidade interessante de diversificação de patrimônio, para a fatia de risco do portfólio.
Embora haja outras modalidades de investimento de risco, como na bolsa de valores, o investimento anjo é o único que permite a sua participação no direcionamento do negócio, podendo ampliar o seu network e permitir uma vivência tão rica como somente o novo e fascinante universo das startups pode proporcionar.
É possível investir em empresas diretamente ou através de grupos de investimento, fundos ou sindicatos, alguns deles começando com apenas R$5 mil.
As empresas que buscam investimento procuram valores na faixa de R$50 mil a R$600 mil.
Investimento-anjo: os riscos
No mundo dos negócios, um dos principais motivos de as coisas não darem certo corre por conta da escolha das pessoas erradas para a composição do time. No investimento-anjo, as coisas não são diferentes.
Ao escolher um investidor para a startup, é fundamental que os fundadores não se limitem à quantia de dinheiro prometida.
A escolha de um bom investidor-anjo deve passar, necessariamente, pelos conhecimentos que serão disponibilizados pelo anjo para a melhoria da gestão da startup.
Verificar a sinergia entre os objetivos do anjo e dos fundadores é um ponto crucial. Um investidor-anjo que não esteja disponível, que pense que é o chefe dos empreendedores ou que não fomente o negócio, em nada será útil à startup.
Analogamente, empreendedores que não são comprometidos com o negócio, intransigentes ou com outros objetivos para suas vidas pessoais (alheios à startup), são causas constantes de desacordos entre fundadores e investidores.
Opiniões divergentes são comuns e saudáveis dentro de qualquer empresa. Um quadro societário multidisciplinar, desde que devidamente alinhado quanto aos objetivos da empresa, estará mais adequado para alcançar os resultados mercadológicos esperados.
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Quando anjo e fundadores resolvem se unir
É muito importante discutir e acertar os termos do investimento, previamente aos aportes financeiros. Dedicar mais tempo nesta fase preliminar do acordo de investimento pode ser um fator determinante para se evitar problemas futuros entre as partes.
É necessário acordar as condições contratuais de investimento, geralmente usados na nomenclatura em inglês, como equity, dragalong, follow on, tagalong, etc.
Em condições ideais, um contrato nunca deveria ser executado (na justiça) entre as partes. Trata-se de um mero instrumento de formalização das intenções de cada lado. Como diz o ditado, “o combinado não sai caro”.
Algumas perguntas que devem ser levantadas pelos anjos: O que se espera dos fundadores? Quais as práticas de governança corporativa devem ser adotadas? Qual será o formato e a periodicidade do envio das informações gerenciais, para acompanhamento do investidor?
Do lado dos fundadores, é preciso explicitar o que se espera do anjo: qual a sua disponibilidade de tempo para reuniões? Em que funções o anjo se dispõe a ajudar?
Como em qualquer ato de constituição de um acordo, contribuem para o seu êxito a transparência, o comprometimento e um bom relacionamento entre as partes envolvidas.
Conclusão
Não é fácil criar uma startup de sucesso. Estima-se que apenas 10% dos novos produtos das startups seja bem sucedido. Esta baixa probabilidade de sucesso se traduz em um risco muito grande para investidores e fundadores.
Como disse Eric Ries, no livro Startup Enxuta: “Uma startup é uma instituição humana designada a entregar um novo produto ou serviço, sob condições de extrema incerteza”.
Então, o risco é a regra do jogo, sendo impossível eliminá-lo. Muito diferente disso, porém, é ignorar o risco e deixar a startup à deriva.
Um investidor anjo entra no jogo justamente para ampliar as chances de sucesso da startup. Estima-se que, com um veterano no time (podendo ser o próprio investidor), a chance de lançar produtos bem-sucedidos passe para 30%.
A harmonia na relação entre investidor e fundadores deve ser construída através do respeito entre os papéis de cada um. O investidor nunca deve ser o chefe e também, como minoritário que é, ele nunca deve ser o maior interessado pelo sucesso da startup.
A peça-chave do ecossistema de startups sempre será o empreendedor. Ele é o elemento transformador, capaz de realizar as mudanças necessárias para melhorarmos a vida das pessoas e das empresas.
Empreendedores talentosos e resilientes, associados a investidores qualificados, formam uma mistura sólida o bastante para mitigar os riscos de se empreender uma startup.
Um investimento-anjo de excelência pode proporcionar retornos a investidores, fundadores e para a sociedade como um todo: melhores produtos e serviços geram mais renda, mais impostos, menos burocracia e mais qualidade de vida para todos nós.
Um abraço. Até a próxima!