Título do livro: Aposentado Jovem e Rico
Autores: Robert Kiyosaki e Sharon Lechter
Editora: Campus
Páginas: 360
O livro faz parte da consagrada (e polêmica) coleção Pai Rico, Pai Pobre, responsável pelo boom no interesse pelas finanças pessoais. Essa resenha apresenta minha opinião sobre a obra e sinaliza minhas conclusões após sua leitura. Optei por um modelo livre de resenha e usarei notas para classificar a abordagem de determinados temas.
Aposentar jovem?
Os mais conservadores geralmente estranham a associação das palavras juventude e aposentadoria. Não eu. Confesso que adoro a idéia e essa foi a razão principal para a compra do livro. Mas não pense que o livro é um compilado de instruções para a correta escolha de um plano de previdência. Não, a questão central felizmente não é essa. O objetivo dos autores é muito mais simples: você é responsável pelo seu futuro, pelo quanto ele representa e pelo montante desejado para bem desfrutá-lo.
Três forças básicas
O acumulo de riqueza não tem nada a ver com auto-ajuda, tema que alguns preconceituosos gostam de alfinetar. Kiyosaki trata da questão definindo três tarefas básicas, quase sempre ignoradas em nosso país:
- Aumentar as habilidades de negócios;
- Aumentar as habilidades de gerenciamento do dinheiro;
- Aumentar as habilidades de investimentos.
A mensagem é clara. Sem desenvolver esses conhecimentos, tudo o que você vai ser é uma pessoa “mediana”. Concordo totalmente. Indiferente do que a palavra “mediana” significa para você, preparar-se é o mínimo que você deve fazer. Deve.
Palavras perturbadoras
A escolha da alavancagem como palavra-chave para a representação dos temas foi muito apropriada e inteligente. Você sabe o que significa alavancar seu futuro financeiro? Pense na seguinte colocação de Kiyosaki:
“A pessoa que trabalha duro, poupa dinheiro e se mantém sem dívidas fica financeiramente para trás de alguém que foi treinado para utilizar a dívida como alavancagem financeira”
Cuidado, a frase é mesmo perigosa. No mundo corporativo é muito comum ouvir a máxima “o endividamento é uma das melhores formas de fazer uma empresa crescer”, mas não é bem assim que funciona com a vida pessoal. Não por aqui. Uma empresa capta dinheiro e passa a investi-lo de forma a recuperar os juros do financiamento e ainda ter rentabilidade positiva. Parece simples.
O autor insinua ser importante usar esse raciocínio corporativo no cotidiano, de forma a encarar as finanças pessoais como um empreendimento. Essa filosofia é bem-vinda, moderna, mas requer que investimentos constantes estejam sendo feitos nos três pilares anteriormente falados. Em caso de dúvida ou confusão, prefira viver a “dura vida” sem dívidas e de poupança.
Pera lá, Brasil é Brasil
O livro tem como alvo o público americano e traz diversos trechos que são “bons demais” para a nossa realidade. Por exemplo, comprar e vender imóveis parece ser tarefa fácil e lucrativa, especialmente se levada em conta a estratégia dos autores, que consiste em tomar dinheiro emprestado, comprar o imóvel, vendê-lo, investir em outro imóvel, alugá-lo etc. As taxas por aqui são diferentes e nossa legislação também. Cuidado com essa parte.
Quem fica com o dinheiro?
Há um aspecto fundamental do trabalho que é levantado na obra. A visão do emprego e da estabilidade é questionada de forma incisiva, porém transparente. Imagine a grande corporação onde você trabalha. Quem ganha primeiro? Quem ganha mais? A lista a seguir vai de quem embolsa mais para quem fica com menos, confira:
5. Donos do negócio
4. Investidores
3. Especialistas (contadores, empregados, consultores etc)
2. Empregados
1. Ativos
Ou você ganha mais que o acionista ou o dono da empresa? Agora interprete a lista no caminho inverso. De baixo para cima temos os que recebem primeiro sua fatia do bolo. Colocando a cachola para pensar, conclui-se que quem recebe mais, não recebe necessariamente primeiro. Hum, então para que se possa receber mais é preciso investir no negócio (ativo), nos seus colaboradores e nos seus fundamentos, nessa ordem? É preciso ser patrão, empreender. Kiyosaki dá o tiro de misericórdia:
“A maioria das pessoas jamais será rica porque tudo que pensam é num dia de pagamento por um dia de trabalho. A proporção é de 1:1 e isso não é alavancagem. Trabalhar de graça faz com que você aprenda a dar e construir ativos. E construir ativos, diferente de trabalhar por dinheiro, é mais interessante, inteligente e lucrativo”
Avaliação final
Os últimos capítulos do livro entram no mérito das aplicações financeiras, mas os raciocínios são simplistas e superficiais. O livro não é, nem de longe, um guia de investimentos. Também não se trata de um livro técnico ou de uma referência para bons negócios. Aqui vão minhas notas:
- Linguagem e narrativa: 8,5
- Exemplos práticos: 7
- Temas abordados: 8,5
- Preço: 2
- Média: 6,5
A obra é um excelente e alucinado apanhado de importantes dicas para se construir disciplina financeira. Os autores têm conhecimento de causa (são bem ricos) e são bons no uso de diálogos familiares e situações cotidianas (isso facilita). Trata-se de um livro essencial para quem acredita que seu dinheiro é um reflexo do seu respeito por ele. Aposentar cedo (e rico) é possível, desde que isso seja um objetivo claro, factível e motivador. Li e gostei.