Mário Zagallo, ex-jogador e técnico brasileiro que conquistou quatro Copas do Mundo, incluindo o título como técnico da inesquecível seleção de 1970, morreu aos 92 anos, informou a família em publicação nas redes sociais na madrugada deste sábado.
Zagallo vinha enfrentando problemas de saúde, tendo sido internado nos últimos anos por infecção urinária e infecção respiratória.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em nota de pesar, disse que Zagallo foi “um dos maiores jogadores e técnicos de futebol de todos os tempos, um grande vencedor e símbolo de amor pela seleção brasileira e pelo Brasil”. Depois, em uma publicação em rede social, Lula informou que decretou luto oficial de três dias no país “em memória do eterno Mário Jorge Lobo Zagallo”.
A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) decretou luto oficial de sete dias pela morte de Zagallo.
Jogador canhoto durão e talentoso, Zagallo fez parte da seleção que conquistou o primeiro título mundial do Brasil em 1958 e também esteve presente na conquista do bicampeonato quatro anos depois.
Em 1970, ele treinou a equipe que contou com grandes nomes como Pelé, Jairzinho, Rivelino e Tostão — um time que muitos consideram a maior seleção nacional de todos os tempos. Eles venceram a terceira Copa do Mundo para o Brasil, no México.
Zagallo se tornou a primeira pessoa na história do futebol a vencer a Copa do Mundo como jogador e técnico. Em 1994, ele foi assistente técnico de Carlos Alberto Parreira quando o Brasil conquistou seu quarto título nos Estados Unidos.
Zagallo passou a maior parte de sua carreira de jogador nos clubes cariocas Flamengo e Botafogo. Os torcedores o amavam por sua personalidade supersticiosa e nacionalismo implacável. Ele gostava de dizer que nasceu com a vitória ao seu lado e raramente tinha vergonha de desafiar aqueles que diziam que seu time era muito defensivo.
Uma de suas declarações mais famosas aconteceu depois que o Brasil conquistou a Copa América na Bolívia, em 1997. Quando soou o apito final, um Zagallo emocionado, com o rosto vermelho devido ao ar rarefeito de La Paz, gritou para as câmeras de televisão : “Vocês vão ter que me engolir!”
A frase se tornou uma das mais memoráveis já proferidas pelo treinador, sendo ainda frequentemente repetida pelo país todo.
Zagallo também era conhecido por ser altamente supersticioso e acreditava que o número 13 lhe trazia sorte. Gostava de cunhar frases que continham 13 letras, casou-se no dia 13 e uma vez até brincou que se aposentaria do esporte às 13h do dia 13 de julho de 2013.
Jogador por acidente
Apelidado de “Velho Lobo”, Mário Jorge Lobo Zagallo nasceu em 9 de agosto de 1931 em Maceió, no Estado de Alagoas. Sua família se mudou para o Rio de Janeiro antes de seu primeiro aniversário e foi lá que ele se apaixonou pelo futebol.
Seu verdadeiro sonho era ser piloto de avião, mas foi forçado a abandonar esse objetivo devido à deficiência visual. Em vez disso, ele estudou contabilidade e jogava futebol nas horas vagas pelas categorias de base do América, então um dos maiores clubes da cidade.
“Meu pai não queria que eu fosse jogador de futebol, não deixava”, disse Zagallo em entrevista publicada pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF). “Naquela época não era uma profissão que era respeitada, a sociedade não via isso com bons olhos. Então nunca imaginei que conseguiria tudo isso, nunca pensei que seria jogador de futebol. Por isso que digo futebol entrou na minha vida por acaso.”
Na final da Copa do Mundo de 1950, quando o Brasil perdeu para o Uruguai por 2 x 1 no Estádio Maracanã, Zagallo trabalhou na segurança do local e presenciou a derrota da seleção brasileira.
Zagallo começou como meia-esquerda, vestindo a camisa 10, que naquela época, antes de Pelé, ainda não havia assumido a importância que tem hoje. Mas a intuição lhe disse que ele estava no lugar errado na hora errada.
“Vi que seria difícil entrar na seleção brasileira com a camisa 10, pois havia muitos grandes jogadores naquela posição”, disse ele. “Então, mudei da meia-esquerda para a ponta esquerda.”
Ele também saiu do América e foi para o Flamengo, onde conquistou três títulos cariocas. Na última metade de sua carreira, jogou no rival Botafogo, onde conquistou mais dois títulos estaduais.
Sua primeira Copa do Mundo foi na Suécia, onde foi titular em todas as seis partidas e jogou ao lado de Garrincha e Pelé, então com apenas 17 anos, e marcou um dos gols da vitória na decisão contra a Suécia por 5 x 2..
“Eu tinha 27 anos e Pelé tinha 17”, disse ele. “É por isso que digo que nunca joguei com ele, mas ele jogou comigo.”
Quatro anos depois, no Chile, voltou a ser campeão, mas só garantiu a vaga na equipe após fazer algumas adaptações táticas que chamaram a atenção do então técnico, Vicente Feola.
Zagallo recuava para ajudar a marcar o zagueiro rival e, quando seu time ganhava a bola, ele subia pela ala. Era incomum que os atacantes ajudassem na defesa e ele é creditado por mudar a forma como os alas jogam até hoje.
México 1970
Como técnico, Zagallo comandou os clubes Botafogo, Fluminense, Vasco da Gama, Flamengo e Portuguesa, mas deixou sua marca quando foi chamado para substituir o polêmico João Saldanha como técnico do Brasil poucos meses antes da Copa do Mundo no México.
O Brasil estava irregular e não era temido, mas Zagallo juntou um time repleto de estrelas, coroando uma campanha espetacular com um memorável triunfo por 4 x 1 sobre a Itália na final.
Zagallo permaneceu no comando até 1974, levando o Brasil ao quarto lugar no torneio na Alemanha Ocidental, mas foi uma campanha decepcionante, e após passagens por Fluminense e Flamengo foi para o Oriente Médio, onde treinou o Kuwait entre 1976 e 1979, conquistando a Copa do Golfo, em 1976.
Em 1990, ele liderou os Emirados Árabes Unidos em sua primeira classificação para a Copa do Mundo, embora tenha sido demitido antes do início do torneio devido a uma briga sobre o pagamento de bônus.
Após 17 anos afastado da seleção, Zagallo foi auxiliar de Parreira em 1994, quando o Brasil conquistou seu tetracampeonato, e em 2006, quando foi eliminado pela França nas quartas de final. Ele estava no comando em 1998, quando o Brasil perdeu por 3 x 0 para a anfitriã França na final, depois que o atacante Ronaldo sofreu convulsões poucas horas antes da partida.
O desfecho de 2006 foi difícil para Zagallo. Ele passou mal na preparação para o torneio, perdendo 12 quilos depois de passar um mês internado com suspeita de câncer no aparelho digestivo.
A suspeita era infundada, mas ele estava claramente achando a vida de técnico uma tensão e se aposentou do futebol. Sempre efervescente e sempre popular, não sumiu de vista e foi visto com frequência na televisão, em cerimônias de premiação e ajudando na CBF.
Ele jogou 36 vezes pelo Brasil, segundo os registros da CBF, vencendo 29 jogos, empatando quatro e perdendo em três. Como treinador, comandou 136 jogos, com 98 vitórias, 28 empates e 10 derrotas.
O velório do ex-jogador e técnico brasileiro está previsto para a manhã do domingo, na sede da CBF e será aberto ao público, segundo publicações da família em redes sociais. O sepultamento ocorrerá as 16h, no cemitério São João Batista.