O rápido colapso do Silicon Valley Bank em março revelou uma verdade inconveniente: alguns bancos norte-americanos não estão preparados para tomar empréstimos do Federal Reserve se precisarem, e uma análise da Reuters mostra que o problema é mais agudo entre os menores bancos do país.
Um dos 20 maiores bancos dos EUA, o SVB, com mais de 210 bilhões de dólares em ativos na época em que faliu, tinha um estoque insuficiente de garantias e, no ano anterior à falência, não havia testado seu acesso à “janela de desconto” por meio da qual o Fed distribui empréstimos de emergência.
Essa “falta de preparação pode ter contribuído para a velocidade da quebra do SVB”, disse o Fed em uma revisão do colapso publicada em abril.
É uma vulnerabilidade que ficou em forte evidência desde que a falência do SVB desencadeou uma demanda recorde por crédito de emergência do Fed, o que aumentou preocupações na sede do banco central norte-americano em Washington e nos 12 distritos do Fed espalhados pelo país.
O chair do Fed, Jerome Powell, reconheceu na quarta-feira passada que o estresse bancário no início deste ano revelou que o uso da janela de desconto “pode ser um pouco desajeitado”.
O Fed e outros reguladores bancários ampliaram essa mensagem na sexta-feira com orientação atualizada, dizendo que “as agências incentivam as instituições depositárias a incorporar a janela de desconto como parte de seus acordos de financiamento de contingência” e os bancos devem manter “prontidão operacional” para aproveitá-la em cenários difíceis.
Uma análise dos dados do Fed pela Reuters, no entanto, mostra que muito ainda precisa ser feito para atingir essa meta.
Embora o SVB, com sede na Califórnia, fosse incomum entre seus pares — a maioria dos bancos com 100 bilhões de dólares ou mais em ativos realizou testes frequentes de acesso à janela de descontos — muitos bancos menores não o fizeram e dados sugerem que podem não estar preparados para tomar empréstimos.
Tamanho importa
Em geral, quanto menor o banco, menor a probabilidade de ele ter entrado na janela de desconto.
De julho de 2010 a junho de 2021, quase todos os bancos com mais de 50 bilhões de dólares em ativos e cerca de 70% dos bancos com 1 bilhão de dólares ou mais em ativos tomaram empréstimos pelo menos uma vez na janela de desconto, seja em pequenas quantias que sugerem um teste, ou em quantidades maiores que apontam para a necessidade real.
Mas apenas cerca de 40% dos cerca de 1.800 bancos que têm entre 250 milhões de dólares e 1 bilhão de dólares em ativos em comunidades em todo o país tocaram na janela de desconto durante esse período, mostram os dados.
Para os menores bancos, aqueles com menos de 250 milhões de dólares em ativos, menos de um quinto em todo o país havia aproveitado a janela.
Ao todo, cerca de 3.800 bancos tomaram empréstimos na janela de desconto durante o período de 11 anos detalhado nos dados do banco central. Isso é pouco mais de 40% das mais de 9.000 instituições depositárias, que incluem cooperativas de crédito e filiais de bancos estrangeiros, atualmente autorizadas a tomar empréstimos do Fed.
Apesar de possíveis inconsistências, diz o economista do Fed de Richmond, Huberto Ennis, com base nos dados “parece seguro presumir que uma proporção significativa de bancos ainda não tinha acesso imediato à janela de desconto, pelo menos até recentemente”.
A Reuters procurou os 10 maiores bancos sem registro público de empréstimos na janela de desconto. A maioria deles indica em registros públicos que eles prometeram garantias no Fed. Vários disseram à Reuters que testaram seu acesso, sem especificar uma data. Um disse que seu teste ocorreu antes de 2010, por isso não conta nos dados do banco central.
O Fed se recusou a fornecer uma contagem dos bancos com acesso a janelas de desconto ou outras formas de liquidez emergencial. Mas a diretora do Fed Michelle Bowman disse em maio que “vários” bancos não haviam se registrado.