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O Bet venceu o mercado financeiro de goleada

Cerca de 14% da população brasileira fez bets ao menos uma vez em 2023, mas somente 2% investe na bolsa, aponta a Anbima

por Gustavo Kahil
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O número de brasileiros que fazem apostas online (bets) já supera o percentual que investe na maioria dos produtos do mercado financeiro, revela uma pesquisa realizada pela Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais) realizado anualmente com o Datafolha, que escutou 5.814 pessoas, a partir de 16 anos.

Só em 2023, cerca de 22 milhões de pessoas (14% da população) dizem ter feito pelo menos uma aposta do tipo. Isso supera o uso de títulos privados (5%), fundos de investimento (4%), títulos públicos (2%), planos de previdência (2%) e de ações (2%).

Mas não é só isso que chama a atenção nesta pesquisa. Para duas em cada dez pessoas apostadoras, gastar em bets é uma forma de investimento financeiro. Além disso, são maiores os números de apostadores entre as pessoas que investem.

A geração que mais fez apostas online em 2023 foi a Z (de 16 a 27 anos em 2023), com 29%, seguida dos millennials ou geração Y (28 a 42 anos em 2023), com 18%.

Já os que menos usaram as bets foram a geração X (43 a 62 anos em 2023), com 6%, e os boomers (63 anos ou mais), com 4%.

Os boomers são os que menos apostam online, porém, entre as pessoas dessa geração que apostam há um percentual maior daquelas que enxergam as bets como um tipo de aplicação financeira.

Perfil de quem faz bets

Fonte: Anbima

“Ainda que sejam necessárias novas coleta de dados para que essa comparação esteja cada vez mais amadurecida, já é possível observar a seguinte tendência: tanto as pessoas que não possuem cuidado em controlar as finanças quanto aquelas que compram coisas sem realmente precisar têm mais probabilidade de fazer apostas online”, aponta a Anbima.

Motivos para apostar

A Anbima aponta que, entre as pessoas que declararam ter apostado, as duas maiores motivações para o uso das bets são a chance de ganhar um dinheiro rápido em momento de necessidade (40%) e a possibilidade de ter um retorno alto (39%).

Muitas também disseram usar as bets por diversão (26%), pela emoção de apostar (25%) ou pela oportunidade de apostar valores pequenos (20%).

B3  (Imagem: Divulgação/ B3)
Sede da B3, em São Paulo (Imagem: Divulgação/ B3)

Atenção da B3

O forte crescimento do setor também chamou a atenção da B3 (B3SA3).

“A gente tem se surpreendido com os números dessas plataformas (de apostas)”, disse o presidente-executivo da Bolsa, Gilson Finkelsztain no final do ano passado. “Eles estão mais para ‘business’ de cassinos do que para infraestrutura de mercados de capitais, são negócios muito diferentes”, acrescentou.

“Não vemos entrada agora nesse mercado”, ponderou o executivo.

Impacto no varejo

A importância dos gastos em apostas esportivas é tão grande no orçamento dos brasileiros, que até o comércio varejista está sentindo o impacto.

Segundo uma pesquisa da Futuros Possíveis, a maioria dos usuários de baixa renda (58%) gasta até R$ 50 por aposta, o que está em linha com a estimativa com outro estudo da QualiBest de R$ 58 ao mês.

Isso corresponde a 22% do orçamento mensal das famílias de baixa renda gasto com itens discricionários, cujo total é de R$ 286 com base no salário mínimo atual, com base em dados do IBGE.

Fonte: Futuros Possíveis

Controle do abuso

Em um esforço para controlar o abuso, o governo regulamentou em meados de abril que as apostas só poderão ser pagas por PIX, transferência ou débito. Portanto, não poderão ser feitas com cartões de crédito, boletos de pagamento, ou pagamentos com intermediário e nem com dinheiro, cheque ou criptomoedas.

Em outra frente, a Comissão de Esporte (CEsp) do Senado tem na pauta um projeto que busca proibir a participação de celebridades na publicidade de apostas em eventos esportivos.

A lei que regulamentou as apostas esportivas é oriunda do PL 3.626/2023, do Executivo, que recebeu destaque nas discussões da Câmara e do Senado em 2023.

Apostas, bets(Imagem: Reprodução/iStockphoto)
(Imagem: Reprodução/iStockphoto)

O texto estabeleceu regras para as apostas de quota fixa, conhecidas como bets, em que o apostador sabe no momento de apostar qual é a taxa de retorno. A nova lei está entre as medidas do governo para aumentar a arrecadação e preenche uma lacuna até então existente com relação ao mercado de apostas, que ganha cada vez mais espaço no país.

“Este aumento da tributação poderia tornar os gastos com apostas esportivas online marginalmente menos atrativos, especialmente para os usuários de baixa renda, e potencialmente libertar alguma renda para ser gasta em outras categorias”, ressaltam Danniela Eiger e Gustavo Senday, analistas da XP Investimentos.

Dinheiro das bets no Tesouro Direto?

As novas regras também exigem que os prêmios das apostas devem ser pagos em um prazo de 120 minutos, por meio de uma contra transacional, ou seja, criada pelo operador do mercado de bets, em um banco autorizado, exclusivamente, para receber os aportes das apostas e separada do patrimônio do operador.

A conta manterá o valor do prêmio até a transferência ao vencedor da aposta, que só poderá acessar o valor por meio da conta bancária cadastrada no momento da aposta.

A cada encerramento de uma sessão de apostas, o operador fará a apuração dos prêmios e do valor de sua remuneração, conforme o previsto na lei, e deverá garantir a premiação, mesmo que haja saldo insuficiente na conta transacional.

As regras permitem que o saldo dessas contas possa ser aplicado em títulos públicos federais.

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