Mariana comenta: “Navarro, muitos artigos do Dinheirama e de outros sites abordam e enfatizam o grande perigo relacionado aos cartões de crédito, famosos por suas facilidades, mas também juros altíssimos. Pois bem, o que você tem a dizer sobre os cartões de débito? Eles são alternativas mais interessantes que o cheque ou mesmo cartão de crédito? Por que? Que cuidados nós, consumidores e poupadores, devemos ter ao usar o cartão de débito? Obrigada”.
Eu sou fã dos cartões de débito. A esta altura, esta informação não pode ser novidade para você, leitor fiel deste blog. É como andar com dinheiro na carteira, mas sem correr o risco de perdê-lo, gastá-lo desnecessariamente e/ou ser roubado – claro que podem levar o cartão em um assalto, mas usá-lo sem minha autorização não seria possível. Considero o cartão de débito minha carteira, pois ele significa aquilo que posso efetivamente gastar.
Mas, infelizmente, a lógica não é tão simples para alguns brasileiros e a facilidade observada no cartão de débito também pode arruinar o orçamento doméstico e os planos de muitas famílias. Já expressei minhas opiniões sobre este importante instrumento financeiro, mas em artigos diversos e acho que é hora de dedicar um artigo inteiro ao tema. Abordarei as questões fundamentais sobre o uso do cartão de débito e suas características, além de aproveitar o texto para mostrar como anda seu uso no Brasil.
Por que o cartão de débito é bom?
Todos estão acostumados com a facilidade de manusear, utilizar e trocar produtos por dinheiro. Segurar uma cédula ou moeda é algo bastante natural até para os mais jovens – ainda que usá-las com sabedoria seja, infelizmente, um privilégio de poucos. Acostumados com o dia-a-dia das transações comerciais, agora temos a possibilidade de usar uma ferramenta capaz de substituir o dinheiro, mas sem mudar nossa rotina. Isso e mais:
- Segurança. O cartão de débito só pode ser usado mediante senha, o que confere ao titular total controle sobre os gastos e evita que seu suado dinheiro seja facilmente roubado ou esquecido. Se perder o cartão, o cliente pode facilmente anulá-lo e solicitar outra via – sem que neste período corra o risco de ver seu capital desaparecer;
- Praticidade e comodidade. Carregar um cartão plástico acaba por ser muito mais fácil que levar notas e moedas, especialmente quando se trata de muito dinheiro. Além disso, o dinheiro usado para o pagamento não está em casa ou com alguém, mas no banco, em sua conta corrente;
- Senso de responsabilidade. O ato de comprar e pagar com o cartão de débito remete o consumidor a um importante fato financeiro: o dinheiro sairá do saldo disponível em seu banco. Isso significa que o valor usado tem que estar disponível e deve ser lançado no controle financeiro da família. Os atos de digitar a senha e guardar o comprovante emitido sempre despertam esta atitude em quem se planeja e respeita o valor do dinheiro;
- Registro da operação. O pequeno comprovante que acompanha a transação serve de registro para o lançamento e controle das contas da casa. Nele estão informados o valor da compra, a empresa beneficiada e a data, informações mais que suficientes para alimentar sua planilha ou caderno de despesas/receitas.
Em suma, o cartão de débito funciona como dinheiro, mas se apresenta como ótima alternativa aos maços de reais que costumávamos carregar no bolso. A transação é segura, respaldada por grandes empresas de certificação e segurança digital, e o valor é debitado diretamente de nossa conta bancária. Quem precisa de cheque quando se tem o cartão de débito? Sua utilização, no entanto, depende da disponibilidade de lojistas – o que, nos dias atuais, já não é problema na maioria de nossos municípios.
Por que o cartão de débito é ruim?
Na verdade, ele não é ruim. Como qualquer ferramenta, ele muitas vezes é utilizado de forma incorreta e incoerente. Então, a pergunta correta deveria ser: para quem o cartão de débito é ruim? Obviamente que para aqueles cidadãos que sustentam o recorrente impulso de comprar e satisfazer suas frustrações pessoais através do acúmulo desmedido de produtos, roupas, sapatos e afins. Trata-se do indivíduo que não liga para a necessidade de manter um orçamento doméstico. O perigo se apresenta de duas formas:
- Gastança que coloca o cliente além do limite de sua conta corrente. A vantagem do débito direto da conta corrente pode se transformar no pesadelo daqueles que simplesmente gastam mais do que têm. Neste ponto, o perigo não difere muito do que ocorre com os cartões de crédito – e a taxa de juros também é altíssima. O cliente que usar demais o cartão de débito e entrar no limite pagará taxas próximas a 8% ao mês pela imprudência. Cartão de débito é ferramenta útil para quem se controla;
- Gastança que deixa insuficiente o saldo em conta corrente. Fazer da praticidade oferecida pelo cartão – que representa “sempre ter dinheiro” – um gatilho para a felicidade pode deixar seu saldo insuficiente para cobrir as despesas normais do mês. De novo, o orçamento doméstico bem feito pode ilustrar exatamente qual o valor disponível para uso através do cartão. Controle e disciplina como palavras de ordem. Mais uma vez.
Atenção especial com os comerciantes que preferem dar desconto apenas para os que pagam em dinheiro vivo ou cheque. Isso acontece porque eles querem, com isso, se livrar da necessidade de pagar um percentual ao operador do cartão, além de receber o dinheiro na hora. As empresas que lidam com o pagamento de cartão normalmente repassam a quantia aos lojistas depois de 20 dias. A prática é comum, embora não seja reconhecida como justa pelos órgãos de defesa do consumidor e pela maioria dos consultores. Eu acho um absurdo.
A situação do cartão de débito no Brasil
Tive uma grata surpresa ao ler um recente estudo do Banco Central que indica que, em 2008, o número de transações com cartão de débito foi maior que o total de transações realizadas com cheque. O estudo mostra que foram registradas 2,1 bilhões de transações com o cartão de débito em 2008, contra 1,9 bilhões do cheque. Estamos diante de uma redução no uso do cheque, o que é fundamental para a saúde financeira das famílias brasileiras. Que o movimento continue em 2009.
Para encerrar, reitero que minha experiência com os cartões de débito é muito positiva. Seus benefícios são, sem dúvida, maiores que seus prováveis efeitos colaterais. A afirmação só faz sentido, é claro, se o usuário dispuser de bom senso, disciplina e mínimo controle sobre suas finanças. Diante de um Brasil economicamente muito diferente do passado, controlar bem o dinheiro parece ser uma atitude bastante coerente. Em dias assim, o cartão de débito pode realmente se destacar.
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Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.
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