Os dados disponibilizados pelo IBGE sobre o PIB do Brasil em 2020 não deixam nenhuma dúvida sobre o que nos espera ao longo do ano. O recuo no primeiro trimestre foi de 1,5% em relação ao trimestre anterior, com recuo na demanda e na oferta. E essa é a boa notícia até aqui, como vamos compreender.
Com a necessidade do isolamento social a partir de meados de março por conta da pandemia do covid-19, o crescimento econômico que já vinha praticamente zerado se complicou. O consumo das famílias despencou (demanda) ao mesmo tempo em que as indústrias foram “forçadas” a parar sua produção (oferta).
O PIB do Brasil em 2020 vai ser muito pior que esta queda de 1,5% do primeiro trimestre. A recessão será confirmada com os dados do segundo trimestre, período atacado “em cheio” pela situação do coronavírus – uma queda de dois dígitos no segundo trimestre e de 5% a 8% no acumulado do ano já são consideradas normais.
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PIB do Brasil em 2020: alguma perspectiva
O principal motor da economia é o consumo das famílias, um dos principais componentes da demanda medida. Houve recuo de 2% quando comparados o primeiro trimestre de 2020 e o último trimestre de 2019 – a maior queda desde 2001, quando o indicador caiu 3,1% por conta do apagão de energia elétrica.
Se considerarmos agora a oferta, temos um recuo de 1,6% no primeiro trimestre para os serviços (indicador mais amplo). A indústria teve queda de 1,4%, enquanto a construção civil encolheu 2,4%. Tudo isso nos primeiros três meses do ano, quando comparados com os últimos três meses de 2019.
“Aconteceu no Brasil o mesmo que ocorreu em outros países afetados pela pandemia, que foi o recuo nos serviços direcionados às famílias devido ao fechamento dos estabelecimentos”, disse Rebeca Palis, do IBGE, em nota. “Bens duráveis, veículos, vestuário, salões de beleza, academia, alojamento, alimentação sofreram bastante com o isolamento social”.
A Secretaria de Política Econômica (SPE) do Ministério da Economia emitiu nota em que comenta os resultados do primeiro trimestre de 2020. O tom do documento é de tirar o sono, já que ali se fala abertamente sobre como o PIB do Brasil em 2020 será muito pior do que o resultado isolado dos três primeiros meses.
“O resultado negativo da atividade econômica no primeiro trimestre, embora esperado, lamentavelmente coloca fim a recuperação econômica em curso desde o começo de 2017. Os impactos iniciais da pandemia na economia a partir de março deste ano reverteram os bons indicadores de emprego, arrecadação e atividade do primeiro bimestre, levando a variação do PIB para o terreno negativo”, afirma a nota técnica da SPE.
E conclui: “Os efeitos danosos sobre a saúde da população brasileira e da nossa economia ainda persistem. Dessa forma, o resultado econômico da atividade no segundo trimestre será ainda pior. As consequências são nefastas para a população, com aumento do desemprego, da falência das empresas e da pobreza. Para combater e amenizar o sofrimento dos brasileiros é necessário que as reformas estruturais continuem através de uma legislação mais moderna de emprego, com o fortalecimento das políticas sociais (com transferência de recursos de programas sociais ineficientes para os mais eficientes e de comprovado efeito no combate à pobreza), com o aprimoramento da legislação de falências e a modernização e desburocratização do mercado de crédito, de capitais e de garantias”.
Para contextualizar melhor os números do PIB do primeiro trimestre de 2020, recuamos 0,3% quando comparamos os primeiros trimestres de 2020 e 2019. A queda de 1,5% interrompeu uma sequência de quatro trimestres de crescimento e foi a pior desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%). Neste atual patamar, o PIB brasileiro se equipara ao do segundo trimestre de 2012.
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PIB do Brasil em 2020: e agora? E depois?
A verdade é que o ritmo já vinha mais fraco mesmo antes de março, mas com um forte movimento empreendedor (o que é positivo). Segundo a Secretaria de Desburocratização do Ministério da Economia, o país teve abertura recorde de empresas no primeiro trimestre, com 847 mil novos registros e 292 mil fechamentos.
Estes números, no entanto, devem sofrer mudanças a partir das medições de abril, maio e junho. Se considerarmos números mais atualizados do mercado de trabalho, por exemplo, 4,9 milhões de brasileiros já perderam o trabalho entre fevereiro e abril (dados da pesquisa Pnad Contínua, do IBGE).
Se usados os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), notaremos o fechamento de 861 mil vagas com carteira assinada só em abril, configurando o pior mês de toda a série histórica, que começou em 1992.
A mesma nota técnica emitida pela SPE indica o que devemos fazer para tentar retomar o caminho de crescimento depois desta que promete ser a pior crise já enfrentada pelo Brasil: manter a agenda fiscal.
A nota diz ainda: “Passada a pandemia, o país terá que enfrentar quatro grandes desafios: o desemprego, o aumento da pobreza, o grande número de falências e a necessidade de um mercado de crédito mais eficiente. Dessa forma, se faz premente a continuidade das reformas estruturais findo esse período”.
Mais pobreza, empresas quebrando, desemprego e desafios na situação fiscal. Não vai ser fácil enfrentar tudo isso, mas sem lidar com as mudanças estruturais iniciadas com a atual equipe econômica, a tendência é que o quadro piore ainda mais (e mais rápido).
Conclusão
O PIB do Brasil em 2020 vai ser um pesadelo, mas precisamos pensar além dele. Agora. O lado fiscal vai ser mais grave do que nunca e, além dele, teremos que pensar na ampliação da proteção social, com mais eficiência no uso dos recursos e na questão do emprego.
Para tanto, não podemos desperdiçar a oportunidade de tornar o empreendedorismo cada vez mais desejado, com facilidades para obtenção de crédito, menor insegurança jurídica, tributação mais simples, privatizações e maior abertura comercial.
Enquanto cidadãos, é bom que estejamos atentos ao que está acontecendo. Mais do que isso, que possamos cobrar nossas autoridades sempre que possível. O PIB do Brasil em 2020 vai ser trágico, mas se trabalharmos juntos, vamos vencer!
Foto: Pixabay