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Subprime: a zica continua!

por Conrado Navarro
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Ibovespa - Sobe e desce!Tenho recebido muitas perguntas e dúvidas sobre a crise do subprime, iniciada nos EUA há pouco mais de uma semana. Todo esse rebuliço faz parte de nossa natureza e é absolutamente natural. Mas cuidado com as decisões em momentos de forte emoção. Elas podem traí-lo e(ou) decepcioná-lo. Tenho como missão ajudá-los a melhor entender o que vem acontecendo e como tudo isso pode afetá-lo, mas dizer o que deve ou não ser feito seria irresponsabilidade de minha parte.

Vou aproveitar este artigo para responder alguns questionamentos, na esperança de poder colaborar para a formação de uma opinião concreta diante da crise. Costumo dizer que perigo maior que enfrentar a crise é não saber que ela está acontecendo e qual sua razão de ser. “Eu não invisto em ações ou algo assim tão arriscado, portanto estou tranquilo quanto ao rumo da crise” foi um dos comentários que recebi recentemente. Isso é atitude de quem quer se esconder.

O fluxo de capital
A crise traz reflexos “interessantes” no giro de dinheiro pelo mundo. A crise aconteceu nos EUA, mas todo o mundo foi afetado. Como? Peço licença aos professores de economia e(ou) especialistas em mercado internacional para resumir o problema em dois aspectos:

  • Bancos pelo mundo aplicam em produtos de bancos americanos. A globalização colabora para a facilidade na troca de recursos financeiros e esquenta a busca por melhores rentabilidades. Com isso, produtos bancários dos EUA são também parte da carteira de diversos fundos e bancos pelo mundo. O problema de liquidez de alguns bancos europeus surgiu por esse motivo.
  • Tendência natural de fugir do risco gera a tendência de baixa nos mercados de ações e derivativos. O investidor comum não é um player muito importante neste cenário, mas os grandes fundos passam a querer manter sua rentabilidade e procuram alternativas melhores. Países emergentes sofrem mais porque são os primeiros lugares de onde estes grandes players tiram seu dinheiro. Se você fosse eles, faria a mesma coisa.

Fui simplista em minha análise, talvez até um pouco leviano. Mas meu objetivo é tornar a crise algo compreensível para todos e, infelizmente, não há como fazer isso usando só a linguagem econômica. Proponho um debate mais profundo através de perguntas enviadas por leitores. Vejamos…

Guilherme escreveu: “Com a crise no setor imobiliário americano, não seria este um bom momento, para investidores pequenos como eu, de aproveitar a desvalorização da Bovespa e comprar mais ações de empresas sólidas no mercado como Petrobrás e Vale”?

Guilherme, sua análise é correta, mas a resposta para sua pergunta não é tão simples. Existem muitos papéis em “liquidação”, não tenha dúvida, mas a crise não parece estar próxima do fim, o que deve levar os preços dos papéis para níveis ainda inferiores. São 14:20h agora e a Bovespa registra queda de 8,44%, estando a 45.124 pontos. Ela despencou. Muitos divergem sobre seu patamar mais baixo, mas eu continuo mais olhando que participando. Costumo deixar uma frase aos investidores menos experientes: se você está na dúvida se entra ou não, não se mexa.

No Brasil, inúmeros grandes investidores começaram a migrar suas aplicações da Bolsa para compra de dólar e recomposição de caixa. A saída do capital da Bolsa gera baixa nos preços dos ativos. Em um país de moeda lastrada pelo dólar, é natural que haja um enfraquecimento do papel. O dólar sobe, como podemos ver, e se torna uma excelente aplicação.

Lembre-se que há pouco mais de uma semana o dólar estava cotado a R$ 1,95 e agora é negociado a R$ 2,13, uma alta próxima de 10%. Uma aplicação com retorno de 10% em uma semana? Repare que, com isso, quero dizer que a queda da Bovespa não ocorre devido somente ao elevado risco dos papéis ou do país, mas também por causa da necessidade dos bancos e fundos de manter sua liquidez.

Ricardo comenta: “Navarro, em momentos críticos como este alguns produtos passam a ser mais interessantes que outros. Que análise podemos fazer neste sentido aqui no Brasil”?

Ricardo, isso realmente acontece. Crises são sempre oportunidades. Para entender o que pode ou não melhorar, é preciso que façamos uma breve relação entre macroeconomia, indústria e o cidadão comum. Vamos ilustrar isso melhor através de alguns tópicos:

  • O Risco Brasil: com a volatilidade dos mercados, a desvalorização do real e a fuga do capital estrangeiro, é natural que o risco país suba. Quando um país negocia títulos públicos (Tesouro), ele dá garantias de pagamento através de juros, pagos anualmente. Pois bem, quanto maior o risco, maior o retorno. Se o risco país está crescendo, o Brasil terá que pagar mais juros para alguém se interessar por seus papéis. O Tesouro Direto pode ser uma opção muito interessante nestes momentos. No entanto, perceba que o governo decidiu cancelar os leilões de hoje. Ele tem esse direito, embora isso não seja comum.
  • Importações e exportações: o dólar caro é bom para quem exporta e ruim para quem importa. A inversão nos papéis gera muito movimento nas indústrias e isso pode afetar a produção e o consumo de seus produtos dentro de nosso país. Para ficar num exemplo simples, grandes empresas cancelaram a importação de novos equipamentos e com isso sua produtividade pode cair.
  • Falta de informações: quem está fora do mercado financeiro (ou mesmo quem está dentro) não possui muita informação concreta para tomar suas decisões. Especula-se muito, ganha-se pouco. Isso gera a necessidade de mais cautela e faz com que produtos mais seguros sejam novamente procurados. Durante os primeiros dias da crise, muitos investidores migraram parte do dinheiro de seus fundos de ações para fundos DI ou de renda fixa. Não há nada de errado nisso. No entanto, o reflexo na Bovespa é tão direto quanto inevitável.

Don’t panic!
Depois de tanta informação, relaxe. Respire. Meu objetivo foi envolvê-lo com mais aspectos da crise, especialmente no que se refere ao Brasil. Temos uma situação econômica muito melhor que a de outras crises, isso é fato. A extensão do problema é desconhecida e qualquer especialista que falar o contrário estará apenas especulando. Fique de olho nos indicadores, demonstre interesse pelo tema e procure disseminar o conhecimento sobre os fatores influenciadores da crise.

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