Assistimos ao longo dos últimos cinco anos a um salto no desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro. Popularizou-se a expressão “IPO” – sigla que passou a ser adotada para resumir o processo de oferta pública de ações – e junto com ela todo um glossário de novas terminologias que gravitam em volta dessa feliz realidade de empresas com números confiáveis, governança, rigorosa prestação de contas ao público e em especial aos investidores que nela depositaram as suas apostas e confiança.
Sem a menor dúvida, um virtuoso processo de desenvolvimento que fortalece a nossa economia de mercado e projeta o nosso país, que passou a exibir e disponibilizar um dos mais sólidos e confiáveis ambientes para investimentos do mundo. Os fluxos recorrentes de investimentos externos e a nossa facilidade para encarar o recente tsunami financeiro são a prova disso.
Uma receita relativamente simples: regras claras, uma CVM (Comissão de Valores Mobiliários) eficiente e rigorosa, empreendedores conscientes e, para completar, um sistema financeiro robusto. Sem nenhuma dúvida, está aí o fruto do árduo processo de estabilização econômica e saneamento dos bancos, com adesão aos melhores e mais rigorosos padrões de gestão, iniciado em meados da década de noventa.
Certamente um cenário animador. Mas seria ainda mais interessante se empresas que não tivessem a menor preocupação em ter as suas ações listadas na bolsa de valores também passassem a se preocupar com essas saudáveis práticas simplesmente para, digamos, colher inúmeros benefícios. E não são poucos. Vejamos:
- Acesso aos mais bem estruturados e por vezes customizados produtos de crédito;
- Relações societárias mais estáveis, seguras e sólidas;
- Processos sucessores menos tumultuados e mais organizados;
- A longevidade empresarial como algo bastante possível, independentemente dos seus herdeiros.
Isso só para citar as vantagens mais óbvias. Como sabem, sou avesso a modismos de gestão de última hora ou a antigos métodos rebatizados com novos nomes e transformados em clichês inquestionáveis. Sempre achei tudo isso muito infantil e, sinceramente, incompatível com profissionais que, em tese, deveriam ser o exemplo de capacidade para conduzir as corporações pelos mares revoltos da vida empresarial.
Mas quando se fala em transparência de informações e governança corporativa, podemos afirmar que simplesmente se trata do “dever de casa”. Empresas pequenas ou médias precisam necessariamente apresentar relatórios e documentos confiáveis sobre os seus números, independentemente das exigências bancárias (e eles agradecem muito quando encontram isso), para ao menos para protegê-la de seus sócios e vice-versa.
Ainda me recordo da conversa que tive com um cliente, que dizia: “Não tenho o menor interesse em abrir o capital da minha empresa”, mas, “quero ter acesso aos melhores produtos de crédito e atrair a melhor proposta de investimentos de um bom private equity interessado” e, “Ao lado deste investidor, estabelecer o mais equilibrado relacionamento de gestão”. Ele então concluiu: “E é por isso que torno as minhas informações confiáveis e transparentes”.
Então me pergunto: Existe outro caminho? A resposta é não. Não é necessário ser um gigante da indústria onde se atua para ter uma administração competente e confiável, para ter solidez. E é só isso que o mercado pede, nada mais.
Por isso, recomendo: enquanto ainda é um diferencial, seja rápido e tome as providencias necessárias antes que se transforme numa exigência básica ou imediata. Pode representar alguma despesa (ou seria investimento?) para colocar a casa e os números em ordem, mas o benefício é gigantesco, além de melhorar o sono de muita gente: gerentes de banco, sócios, clientes, herdeiros, investidores e, é claro, o seu também.
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