Crise. Essa é a palavra passou a fazer parte do dia-a-dia dos brasileiros já algum tempo. Ela está em todos os lugares: nos jornais, na TV, na conversa entre amigos, no almoço de família, no ambiente de trabalho. Não há como fugir dela. Se você está bem empregado, sente os efeitos quando vai ao supermercado; se você foi desligado, não está conseguindo se recolocar, está inseguro ou infeliz.
Essa atmosfera pesada começa a produzir repercussões na saúde mental dos brasileiros. Segundo Maria Alice Fontes, psicóloga e diretora da Clínica Plenamente, a crise financeira está associada com o medo de não ser capaz de sustentar as necessidades financeiras básicas, a impossibilidade de ter o mesmo padrão de vida e a baixa autoestima devido ao distanciamento social. “Emprego estável e um rendimento seguro predizem uma boa saúde mental”, afirma.
De acordo com a especialista, os principais problemas psicológicos que acometem as pessoas durante as crises financeiras são o aumento da ansiedade, de sintomas depressivos, de estresse, uso de álcool, e até o suicídio.
“Todos estes sintomas estão presentes nas crises, mas não podem ser considerados resultados somente delas, pois dependem da estrutura psicológica de cada um. Pessoas com crenças pessoais negativas tendem a ter a recidiva de depressão e de sintomas de ansiedade frente a instabilidades do ambiente”, diz Maria Alice.
Guilherme Messas, médico psiquiatra e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, explica que a característica de qualquer crise psicológica é a perda de perspectiva de futuro e a incapacidade de uma retomada do passado.
“A pessoa fica como que suspensa no ar, procurando desesperadamente encontrar um apoio no chão. Esse apoio em geral é encontrado nas relações pessoais próximas, na família ou na atividade profissional. As crises financeiras são especialmente graves porque acometem igualmente, e ao mesmo tempo, as demais pessoas que poderiam servir como pontos de apoio”, explica o médico.
Além disso, a identidade profissional pode ser perdida ou ficar sob risco iminente. A consequência desse cenário é devastadora para o psiquismo e tem grande poder de contaminação, levando a uma reação em cadeia.
“Essa reação em cadeia faz com que as pessoas se esqueçam de seu passado recente. No caso do Brasil, faz com que se esqueçam de que estiveram vivendo bem por um longo período”, diz Guilherme.
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Outro comportamento que as pessoas têm tomado nesse período menos favorável é a cautela extrema com as finanças. Muitos consumidores se deixaram levar por notícias negativas e praticamente estagnaram o consumo.
“Com certeza o controle das pessoas em relação ao dinheiro é algo positivo, e é o que sempre prego na educação financeira. Contudo, também acredito que seja fundamental se planejar para comprar o que se objetiva, seja isso no curto, médio ou longo prazo”, diz o educador financeiro Reinaldo Domingos.
Dentro dos novos limites possíveis, Messas afirma que é importante procurar manter seu estilo anterior de vida, já que ele é um elemento muito forte para a estabilidade psicológica. “Abandoná-lo por completo piora o panorama psicológico”, aconselha.
A principal sugestão para as grandes crises sociais é procurar lembrar-se de suas próprias características pessoais e de que as crises passam e que sempre haverá uma nova forma de vida que surgirá; ou seja, a paciência e a criatividade são as melhores condutas nos momentos de grande turbulência.
O professor Messas explica que as crises possuem uma etapa inicial (essa que estamos vivendo), na qual parece não haver saída. “É o momento mais doloroso. Com o passar do tempo, mesmo que a crise continue, o psiquismo criativo encontra modos de se adaptar e cria soluções para os problemas e impasses. A saída psicológica e social da crise vai sendo inventada mesmo que as pessoas não se deem conta disso. Gradualmente, a sociedade vai estabelecendo os acordos que permitem a reconstrução da vida dos seus cidadãos. Isso, evidentemente, se não se perder no desespero do imediatismo”, afirma.
Há, portanto, uma boa chance de que mesmo com crise se possa experimentar bem-estar psicológico e esperança. Mas, para isso, é necessário o fator tempo e um esforço para a superação do imediatismo. “É importante manter em mente que as crises, embora dolorosas, permitem renovação. Isso serve tanto para uma pessoa como para uma sociedade”, ressalta.
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Atitude positiva
Embora a atual crise tenha um grande impacto sobre a saúde mental, ela sempre pode representar uma oportunidade. Para Marco Callegaro, psicólogo e presidente da Associação de Psicologia Positiva da América Latina (APPAL), a adversidade deve ser encarada como um grande motor de mudanças.
“Quando passamos por dificuldades construímos novas estruturas internas e nos tornamos mais fortes”, destaca o psicólogo. Segundo ele, a atividade física, o sono adequado e a alimentação equilibrada são três fatores que não podem ser deixados de lado nesse momento.
Além disso, a qualidade de nossos pensamentos também deve ser observada. “Sempre é possível fazer uma nova interpretação da situação, mais realista e menos catastrófica”, diz Marco.
O educador financeiro Reinaldo Domingos garante que não há motivos para desespero, e sim para planejamento e adequação, buscando sair fortalecido deste período. Confira 5 Passos definitivos para blindar suas finanças em tempos de crise e desemprego:
1. Livre-se das dívidas
Muitos pensam em como se livrar das dívidas em um momento de crise. Pode parecer impossível, mas é exatamente nesses momentos que os credores também oferecem as melhores condições para negociações.
A orientação é que o primeiro passo seja o de resolver o problema que levou ao endividamento, isto é, a causa.
“Adequar seu padrão de vida a sua realidade é muito difícil, mas é fundamental observar que não pode viver em uma realidade que não é sua. Cortar gastos para ganhar fôlego e, assim, poder assumir o compromisso de pagar as dívidas é a melhor opção agora. Se não se livrar desse problema de forma emergencial, pode ter certeza que a alta dos juros prejudicará a sua saúde financeira no futuro”, diz Reinaldo.
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2. Faça uma faxina financeira
Você sabia que, em média, 25% dos nossos gastos são com supérfluos? As pessoas sempre dizem que não têm mais da onde reduzir os gastos, mas, depois, quando fazem uma análise, observam que é possível.
“É preciso realizar um diagnóstico de sua vida financeira por 30 dias, anotando tudo o que gasta por tipo de despesa, até mesmo cafezinhos e gorjetas. Assim, verá uma realidade muito diferente do que imagina. Mas ressalto que não se deve virar escravo dessa anotação, pois, quando vira rotina, perde a eficácia”, recomenda o especialista.
3. Chegou a hora de sonhar
Por mais que o cenário para muitos seja de pesadelo, nessa hora é de grande importância sonhar, ou seja, definir os objetivos materiais, pois eles é que farão com que se tenha foco para evitar o descontrole ou mesmo o desespero.
Para isso, Domingos recomenda reunir a família e conversar sobre o tema, dividindo os sonhos em três tipos: curto (até um ano), médio (até dez anos) e longo (acima de dez anos) prazos, definindo também quanto custam e quanto poderão poupar por mês para realizá-los.
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4. Mude o formato de seu orçamento
Um erro comum é pensar que orçamento financeiro familiar consiste em registrar o que se ganha e subtrair o que se gasta e, caso sobre dinheiro, será lucro, se faltar, prejuízo.
“A forma correta, no entanto, consiste em, primeiramente, elaborar o registro de todas as receitas mensais, posteriormente, separar os valores pré-definidos para os projetos da família e, somente com o restante, adequar os gastos da família. Isso forçará um ajuste do padrão de vida familiar para conquistas financeiras”, ensina Reinaldo.
5. Chegou a hora de aprender a investir
Com a alta de juros, agora, é um bom momento para quem que investir, contudo, o grande erro é a ideia de poupar sem motivo e buscar sempre o melhor rendimento. No mercado financeiro, existem diversas opções de aplicação em ativos financeiros com riscos diferentes.
A orientação do educador é procurar variar o investimento de acordo com o tempo que utilizará o dinheiro. “De forma geral, o risco de uma aplicação financeira é diretamente proporcional à rentabilidade desejada, ou seja, quanto maior o retorno estimado pelo tipo de aplicação escolhida, maior será o risco, por isso, é preciso cautela”, alerta.