É tanta informação por ai e tanta gente tratando manipulá-la, que fica difícil decidir. E é sobre decisão que quero falar, inspirado pela ótima decisão de peneirar, feita pelo colega Janio. Em quem você confia? Quem é o seu guru financeiro? Quem por ai normalmente explica, discute e proporciona calorosos papos sobre dinheiro, investimentos e um melhor futuro financeiro? Toda família, grupo de amigos, comunidade tem um “especialista” no assunto. Será que não precisa aprender a escolher melhor os seus gurus? Aprender já seria suficiente.
Não raro, o especialista anda de carro usado (e financiado), acredita na capitalização oferecida pelo gerente e de vez em quando entra no cheque especial. Não tenho nada contra quem anda de carro financiado, mas estes não podem ensinar muita coisa sobre o poder nocivo dos juros deste país. E acredite, existem muitos especialistas assim por ai. Pode ser que o seu guru seja assim. A matemática do guru é simples: em terra de cego, quem tem um olho é rei. E nesta terra, calculadora não entra.
Pare de acreditar em quase tudo que o guru falar. Ouça-o com atenção, mas desconfie de seus argumentos até que saiba do que ele está falando. Ele só ganhou a fama de guru porque fala de algo que você não entende. Se ele é uma pessoa de confiança, peça que ele explique melhor o tal investimento ou a dica, demonstrando matematicamente, e em detalhes, o exemplo citado. Não se espante se ele não conseguir operar a calculadora. Aqui 70% dos gurus ficam pelo caminho.
Dificulte um pouco mais. Comece a perguntar sobre resgate antecipado, incidência de imposto de renda, valores para os novos aportes, taxa de administração, taxa de performance ou risco. Gurus odeiam que detalhes tão importantes sejam colocados à prova. Lembre-se que com eles o assunto não é matemático, mas filosofal. O melhor investimento e o discurso sobre tal produto surgem apenas na mesa de bar ou no jantar da família, onde um pedaço de papel, um lápis e uma calculadora não podem ser facilmente encontrados. Por aqui, mais 20% dos gurus também ficam para trás. Os que sobram merecem um pouquinho da sua atenção.
Como um conselho é sempre para ajudar, surgirão também imensas críticas ao seu perfil, enquanto investidor. Eles apontarão sua calma (ou sua ousadia), seu orçamento e sua atitude como causas do seu atual estágio financeiro. Consequentemente, você se impressionará com o poder de advinhação do guru. “Como ele percebeu que eu passo por estes problemas”? É fácil, ele também sofre dos mesmos males. Quando o assunto é dinheiro não há nada melhor que a vontade de aprender e uma boa dose de desconfiança.
Por último, gurus costumam tentar colocar falsos gurus em seus devidos lugares. Assim, se você decidir encaminhar este artigo ao rei em questão, prepare-se para algumas reações típicas. Primeiro, ele vai negar que seja uma pessoa assim e vai afirmar, com um belo sorriso no rosto, que sempre quis, e continua querendo, te ajudar. Acredite nele, é verdade. Se você insistir, ele pode ficar mais incisivo: “Não acredita em mim? E esse Dinheirama? Navarro? De onde surgiu isso”? Preciso surgir de algum lugar? Ora, sou só um blog. Sou da paz.
A dica? Como sempre, uma história tem dois lados. Não seja o cego da sua história. Se ainda quiser ser o cego da história de seu guru, sem problemas. Afinal de contas, uma conversa de bar é sempre bem-vinda e muito divertida, desde que longe de uma calculadora. Daqui a alguns anos compare os resultados. Qual a melhor matemática? E por favor, gurus são necessários, cegos também. A história agradece. Eu também. Eu?