O presidente Tayyip Erdogan dirigiu-se a centenas de milhares de apoiadores em um dos maiores comícios pró-Palestina desde o início da guerra Israel-Hamas, cortejando a sua base política islâmica um dia antes do centenário da república secular da Turquia.
“Israel tem cometido abertamente crimes de guerra durante 22 dias, mas os líderes ocidentais não podem sequer apelar a Israel para um cessar-fogo, muito menos reagir a ele”, disse Erdogan à multidão em Istambul, que agitava bandeiras palestinas.
“Diremos ao mundo inteiro que Israel é um criminoso de guerra. Estamos nos preparando para isso. Declararemos Israel um criminoso de guerra”, disse ele.
Num discurso de uma hora, Erdogan também repetiu a sua afirmação de que o Hamas não era uma organização terrorista, descrevendo Israel como um ocupante.
A Turquia condenou as mortes de civis israelenses causadas pelo ataque do Hamas em 7 de outubro no sul de Israel, que matou 1.400 pessoas, mas Erdogan chamou esta semana o grupo militante palestino de “combatentes pela liberdade”.
Ele também criticou o apoio incondicional de algumas nações ocidentais a Israel, atraindo duras repreensões da Itália e Israel.
Ao contrário de muitos aliados da OTAN da União Europeia e de alguns estados do Golfo, a Turquia não considera o Hamas uma organização terrorista. O país há muito tempo acolhe os seus membros, apoia uma solução de dois Estados e ofereceu-se para desempenhar um papel na negociação da libertação dos reféns raptados pelo Hamas durante o ataque de 7 de outubro.
Analistas políticos disseram que Erdogan estava interessado em reforçar as suas críticas ao bombardeio de Israel na Faixa de Gaza e em ofuscar as celebrações de domingo que marcam as raízes seculares da Turquia.
Sinan Ulgen, antigo diplomata turco e diretor do Centro de Estudos Econômicos e de Política Externa, um think-tank com sede em Istambul, disse que o agravamento da crise humanitária em Gaza e a pressão dos aliados políticos levaram Erdogan a aguçar a sua retórica.
Os chefes dos partidos nacionalistas e islâmicos aliados – que ajudaram Erdogan a garantir a vitória nas eleições apertadas de maio – participaram do comício no antigo aeroporto de Istambul. Erdogan criticou os partidos da oposição por não chamarem Netanyahu de “terrorista” e por usarem o mesmo termo em referência ao Hamas.
O 100º aniversário da Turquia moderna acontece no domingo, quando as manchetes dos jornais poderão ser dominadas pelas notícias do comício de sábado, em vez das celebrações do fundador da república, Mustafa Kemal Ataturk, dizem os analistas.
Erdogan, o líder mais antigo da Turquia, e o seu Partido AK minaram o apoio aos ideais ocidentais de Ataturk, que é reverenciado pela maioria dos turcos. Nos últimos anos, os retratos de Erdogan apareceram ao lado dos de Ataturk em edifícios governamentais e escolas.
O governo afirmou que o conflito Israel-Hamas não restringirá as celebrações do 100º aniversário, para o qual organizou eventos em todo o país.