Para fechar a série, escolhi uma armadilha que eu costumo chamar de síndrome do final feliz. Gosto dessa expressão porque ela simplifica uma relação bastante pesquisada em Psicologia Econômica entre o que se chama de experiencing-self e remembering-self.
Trocando em miúdos, há muitos estudos sobre o que de fato aconteceu e como nós costumamos nos lembrar das experiências (especialmente as não tão boas). A síndrome do final feliz tem um efeito parecido com o famoso “efeito sanfona” das dietas milagrosas, só que nas finanças é claro.
Vamos ver agora quais são os equivalentes às dietas milagrosas em finanças. Bem, para começar dietas de emagrecimento rápido não podem ser seguidas por muito tempo porque podem prejudicar a saúde. Elas funcionam como um recurso emergencial.
Essas dietas funcionam para pessoas que não têm problemas com peso, que acabaram engordando por conta de uma viagem ou de um período pós-operatório, ou qualquer outro contratempo passageiro e temporário.
Já para pessoas que se alimentam mal e de forma desregrada, essas dietas funcionam por um curto período de tempo – depois disso, se não houver uma modificação no comportamento alimentar elas voltarão a engordar.
Analogamente, em finanças existem recursos emergenciais que fazem a nossa vida financeira entrar nos eixos (e aqui estou falando de endividamento e descontrole nos gastos mais especificamente).
Com o fortalecimento do consumidor e de uma série de ações, tanto na esfera pública quanto privada, como os Feirões Limpa Nome e o PAS do PROCON-SP, é preciso tomar cuidado para não fazer desses programas uma espécie de tábua de salvação a que sempre se pode recorrer e começar a achar que no final tudo vai dar certo.
Outro perigo é começar a trocar dívidas caras por dívidas mais baratas. Eu sei que esse é o primeiro conselho de especialistas e não estou dizendo que não se deve fazer isso. Mas se você chegou a esse ponto, isso significa que você passou da conta.
Você assumiu um nível de endividamento incompatível com a sua renda. Isso pode ter acontecido por conta de um imprevisto ou porque o seu comportamento econômico é inadequado.
E se você se encaixa na segunda opção, você pode acabar caindo na síndrome do final feliz e sair achando que com o nome recuperado e as dívidas renegociadas, você resolveu o problema.
Não, você não resolveu nada! Você apenas equacionou a questão: você tinha um nível de endividamento absolutamente incompatível com a sua renda e agora você está num patamar de endividamento razoável.
E mesmo que você consiga quitar suas dívidas e limpar seu nome, se você sair dessa situação achando que “no final tudo deu certo”, é muito provável que você se empolgue e assuma uma nova dívida (especialmente no caso dos Feirões que normalmente antecedem datas de pico de consumo).
É preciso entender que ter o nome reabilitado para a tomada de crédito não significa que sua vida financeira entrou nos eixos. Eu sei que a sensação de alívio é muito grande e é essa sensação que pode fazer a gente achar que está tudo resolvido e baixar a guarda.
Bem, espero que vocês tenham gostado da série de artigos e para quem se interessou pelo assunto vale a pena a leitura de “Decisões Econômicas: você já parou para pensar?”, livro escrito pela Dra. Vera R. de M. Ferreira sobre uma série de armadilhas mentais muito comuns e com uma linguagem descontraída e bastante acessível.
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O papel da informação na tomada de decisão é uma série de artigos publicados por Adriana Rodopoulos. Clique nos links abaixo para visualizar cada parte dessa sequência.
- O papel da informação na tomada de decisão (parte 1)
- O papel da informação na tomada de decisão (parte 2)
- O papel da informação na tomada de decisão (parte 3)
- O papel da informação na tomada de decisão (parte 4)
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