Ao assumir a presidência do G20 na próxima semana, o governo brasileiro quer levar a pressão das ruas para dentro das confortáveis salas onde se reúnem chefes de Estados e ministros, com a criação do G20 Social, uma organização de grupos da sociedade civil para cobrar resultados concretos das autoridades responsáveis pelas 20 maiores economias do mundo.
“O que o presidente Lula criou aqui é uma trilha social na prática, que vai caminhar ao lado da trilha política e da trilha financeira”, disse à Reuters o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macedo. “São as populações das 20 maiores economias do mundo podendo participar, debater e fazer um processo de influência nas decisões do G20.
As duas trilhas existentes no G20 desde sua criação englobam as decisões políticas e as decisões financeiras do grupo. A sociedade civil, no entanto, ficava de fora das decisões.
Normalmente, a pressão da sociedade civil nas cúpulas do G20 vem das ruas. Protestos, por vezes violentos, tomam as cidades-sede, cobrando ações mais efetivas dos chefes de Estado em áreas como fome ou mudanças climáticas.
Ao criar o G20 Social, explicou Macedo, o governo brasileiro quer levar a sociedade para dentro das decisões do grupo dos países com as maiores economias do mundo, em uma pressão por medidas práticas.
“É um debate sistematizado, organizado, com método, para ser apresentado aos chefes de Estado com as urgências de cada área”, disse o ministro.
Uma das cobranças que Lula tem feito a seus ministros envolvidos na organização do G20 é que ele quer ver resultados práticos saindo da cúpula que acontecerá em novembro de 2024, no Rio de Janeiro. Uma das queixas do presidente é de propostas que não saem da teoria.
Um dos papéis do G20 Social, de acordo com Macedo, é levar a pressão da sociedade civil para dentro dos governos dos 20 países do grupo.
“As decisões que se tomam dentro do G20 não são como em um Parlamento, em que se discute e viram leis. São decisões políticas que se tiverem força e consenso podem ser cumpridas pelos países. Se não tiverem, não serão, como em outras vezes. Esse é um processo novo de construção dessas decisões para que possam ter mais força, não fiquem tão distantes da realidade das pessoas.”
O G20 social terá 12 linhas, os chamados de grupos de engajamento, que incluem business, startups, mulheres, jovens, trabalho, cidades, ciências, parlamentos, cortes superiores, tribunais de conta, think tanks e sociedade civil em geral.
Cada país vai fazer suas discussões internas, para trazer para as reuniões no Brasil as suas prioridades, até que se chegue a uma agenda comum.
De um modo geral, a ideia foi bem recebida pelos demais países, segundo Macedo, e a pretensão de Lula é que se torne uma parte fixa do G20, mas dependerá das próximas presidências do grupo.
Nem todos, dentre os participantes, têm o mesmo entusiasmo do atual governo brasileiro pela participação social.
“Dos países que têm experiências democráticas, pelo menos até agora as informações que temos é que estão festejando muito. Os mais fechados, nós estamos iniciando um processo de diálogo, mas a recepção tem sido positiva”, afirmou o ministro.