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Crash de 1929, o New Deal e a crise de crédito de 2008

by Ricardo Pereira
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Crash de 1929, o New Deal e a crise de crédito de 2008Mais uma semana de altos e baixos no mercado financeiro. O sobe e desce deixa a impressão de que a bolsa de valores[bb] se transformou em uma terra sem lei, em um verdadeiro cassino. Isso me preocupa. Sempre fomos da opinião de que o mercado de ações é composto de muitos elementos, mas sorte ou azar nunca foram alguns deles. Será que é isso que estamos vendo nos dias de hoje? O tom exagerado tem objetivo atrair sua atenção. A preocupação com o tema deve ser de todos nós, investidores.

A falta de dados relevantes, significativos para determinar quedas tão expressivas nas bolsas pelo mundo, me leva a crer que, mais do que especulação, o que existe hoje é irracionalidade e falta de critérios. Bons exemplos podem ser tirados aqui do Brasil: grandes empresas exportadoras continuam vendo seus valores de mercado despencarem, ainda que a alta recente do dólar tenha feito parte de suas receitas aumentarem. O fato é que não existem motivos consistentes para uma queda tão grande.

1929 versus 2008?
Muitos discutem as coincidências da crise atual com aquela vivida em 1929. Mesmo notando, de forma nítida e organizada, que hoje existem mais possibilidades de reação por parte dos organismos financeiros mundiais, sou obrigado a concordar com certas singularidades. O artigo de hoje traz alguns comentários sobre o modelo econômico das nações ao longo do último século, o que é interessante para entender melhor a evolução(?) do sistema financeiro mundial.

Na década de 20 estava no ápice o liberalismo clássico, que pregava a teoria econômica da auto-regulação. Em outras palavras, acreditava-se que o mercado livre seria capaz de conduzir-se de maneira mais inteligente e próspera. Nesta teoria, fica nítida a falta da regulação do Estado nas questões econômicas práticas.

Após a crise de 1929, com o crash do mercado de ações[bb] causado pela alta especulação financeira e pela exploração de brechas e falta de critérios impostos pelo governo, os EUA entraram na conhecida grande depressão. A economia congelou, a população sofreu e o crescimento do país ficou estagnado.

Em 1932, mergulhados em uma profunda crise e diante da idéia de que o liberalismo e a especulação financeira haviam imposto um ritmo de crescimento surreal à verdadeira situação da economia, os EUA elegem o democrata Franklin Delano Roosevelt como presidente, com o desafio de reerguer a economia com um modelo diferente de crescimento.

A partir dos princípios econômicos de John Maynard Keynes, a equipe econômica do novo presidente elaborou um plano econômico chamado New Deal, ou Novo Acordo/Pacto. O pacote econômico implantado trouxe, entre outros pontos:

  • Controle governamental dos preços de diversos produtos industriais e agrícolas;
  • Concessão de empréstimos aos proprietários agrícolas;
  • Realização de um grande programa de obras públicas;
  • Criação do seguro-desemprego;
  • Recuperação industrial;
  • Controle de emissão de valores monetários.

Novos tempos, novas teorias
Com o tempo, ficou claro que a presença do governo é indispensável na regulação dos processos econômicos e, aos poucos, isso levou a economia de volta aos trilhos. No entanto, após a década de 70, países desenvolvidos passaram a ter problemas como inflação, recessão e desemprego, caracterizando a decadência da chamada teoria keynesiana.

Já durante a década de 80, e muito mais na década de 90, outro movimento econômico começou a tomar forma e ganhar adeptos no mundo, sobretudo nas maiores economias do mundo: o tão famoso neoliberalismo, caracterizado pela forte abertura dos mercados e pelo fenômeno da globalização[bb] da economia e dos pactos comerciais.

Grandes corporações e bancos de investimentos ditaram a regra para os negócios no mundo todo. A presença do governo foi diminuindo, partindo do pressuposto de que a atuação do Estado retardava o processo de realocação dos capitais dos setores industriais ultrapassados para aqueles surgidos com a terceira revolução industrial.

A idéia era defender, de forma veemente, a liberdade de mercado e o quase que total afastamento do Estado na produção e na intermediação das relações entre patrão e empregado. Caminhou-se, como se sabe, até o total descontrole do sistema financeiro, onde apenas a ganância exagerada e a especulação de grandes grupos sobreviveram.

De volta ao presente…
A lição evidente que fica é que, sim, os governos precisam acompanhar de perto as ações econômicas e financeiras da nação e dos mercados. Esse acompanhamento deve fazer parte da política econômica. Bilhões de dólares foram necessários para gerar liquidez ao mercado, saídos do bolso do contribuinte em várias partes do globo.Trata-se de um mal necessário, caso o contrário as perdas geradas pelo aumento da desconfiança seriam ainda maiores.

A lição que tiramos do breve retrospecto, de 1929 até os dias atuais, é clara: os interesses do governo e do povo precisam ser preservados. A ganância do mercado é insaciável, mas o dinheiro do povo é finito. Aqui do Brasil acompanhamos de perto os desdobramentos da crise e nos preparamos para suas conseqüências. Estamos mais fortes e sólidos, mas sem saber ao certo que papel a turbulência global ainda nos reserva. Essa é outra história, recheada de desafios e oportunidades[bb]. Ufa. Bom final de semana.

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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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Crédito da foto para stock.xchng.

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