Será que a falta de educação financeira influencia a produtividade das pessoas no ambiente de trabalho? O estresse das dívidas, os problemas financeiros e a falta de apoio das empresas no sentido de cuidar da vida financeira representam riscos para a eficiência dos negócios de hoje? Será que um programa de educação financeira para empresas pode ajudar neste sentido?
Conversei bastante sobre isso com o amigo André Massaro, especialista em finanças e economia, com destacada atuação na área de finanças pessoais e investimentos. André é graduado em Administração (com ênfase em finanças) e pós-graduado em Economia.
André é autor dos livros “MoneyFit” (Matrix Editora), “Por dentro da bolsa de valores” (Matrix Editora) e “Dinheiro é um santo remédio” (Editora Gente), este último escrito em parceria com o Conrado Navarro, sócio-fundador do Dinheirama. Além destes trabalhos, André também escreveu o “Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho”, um eBook gratuito que motivou essa nossa conversa. Acompanhe:
André, como foi a experiência de escrever um material específico para educação financeira no ambiente de trabalho? A questão financeira influencia o rendimento profissional das pessoas?
André Massaro: Vou responder na ordem inversa. A influência negativa dos problemas financeiros pessoais dos funcionários nos empregadores é real e muito bem documentada, especialmente fora do Brasil, onde já se fizeram várias pesquisas e estudos demonstrando isso.
Inclusive algumas dessas pesquisas são mencionadas no “Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho” (clique para baixar gratuitamente o eBook). O fato é que o rendimento do funcionário cai e a produtividade da empresa é prejudicada.
Uma dessas pesquisas, conduzida pela PriceWaterhouseCooper nos EUA, mostra que, em média, 97% dos funcionários utilizam horas de trabalho para cuidar de problemas financeiros pessoais, sendo que 22% gastam pelo menos cinco horas por semana. Qualquer empresário ou executivo pode fazer as contas e ver o quanto isso representa para a empresa – é uma enorme destruição de valor.
Já quanto à experiência de escrever o Guia, foi uma coisa muito interessante e gratificante, pois sentia que o pessoal da área de Recursos Humanos (que é quem, de fato, acaba mais envolvido com essa questão das finanças pessoais dos funcionários) precisava de alguma orientação mais específica, voltada para a necessidade das organizações.
Existem algumas diferenças significativas na forma como se aborda a educação financeira em uma empresa em relação à educação financeira “normal”, voltada para o público geral. E espero que o meu Guia ajude esses profissionais a entender o problema, suas consequências e o que pode ser feito a respeito.
Já recebemos aqui no Dinheirama relatos de empresas que investiram muito na formação dos funcionários, com diversos cursos, mas que percebem que falta algo. Parece que existe essa necessidade de oferecer educação financeira como algo contínuo, isto é, como mais um benefício ao trabalhador. Você concorda?
A. M.: O maior desafio da educação financeira é sair do campo da teoria e ir para a prática. As pessoas aprendem conceitos de finanças, de investimentos, de matemática financeira, mas acabam não aplicando aquilo em suas próprias vidas.
Os programas de educação financeira em empresas acabam sofrendo um pouco aquela “maldição” dos treinamentos motivacionais, que fazem as pessoas se sentirem superpoderosas por algum tempo, mas em questão de dias tudo volta a ser como era antes.
Eu vejo duas questões que podem contribuir para isso. Uma delas é a falta de continuidade e de consistência. A coisa fica “pontual” demais e logo acaba sendo esquecida. A segunda é a grande confusão que se faz entre “educação financeira” e “informação financeira”.
Dar uma cartilha ou disponibilizar um vídeo na intranet da empresa não é educar financeiramente. É, no máximo, informar. E o mundo hoje não sofre exatamente de falta de informação financeira. Basta procurar no Google para ver a imensa quantidade de informação que aparece de todos os tipos, para todos os gostos e bolsos.
Um dos graves problemas detectados diretamente pelos departamentos de RH é o grau de endividamento com o chamado crédito consignado. Como as empresas podem e devem lidar com essa situação?
A. M.: O crédito consignado acaba deixando empresas numa situação difícil. Ele é enxergado pelos funcionários como um “benefício”, e às vezes a empresa se vê pressionada a disponibilizar o consignado, até como uma forma de retenção e atração de funcionários.
O funcionário fica endividado e essa dívida passa a acompanhá-lo no longo prazo, até o momento em que ele sente que seu salário “diminuiu”, pois está em parte comprometido com o consignado. Neste momento, aquele “alivio financeiro” proporcionado pela empresa vira insatisfação e apatia.
É difícil para uma empresa simplesmente “abolir” o consignado, mas ela deve ao menos procurar educar seus funcionários de forma intensiva sobre o uso correto e consciente dessa linha de crédito, pois é o tipo de benefício que pode muito facilmente virar um “malefício” ainda maior.
O “Guia de Educação Financeira no Ambiente de Trabalho” certamente é a forma que você encontrou para chamar a atenção dos empregadores quanto a necessidade de levar a educação financeira para suas empresas. E agora, quais são os próximos passos? Você tem cursos e palestras prontas para atenderem a essa demanda?
A. M.: Sim, eu desenvolvo programas educacionais de diversos formatos para educação financeira e previdenciária, para os mais diversos tipos de público e necessidades. É interessante que a empresa busque profissionais externos e especializados para desenvolver programas de educação financeira, mas não é algo essencial.
Muitas vezes uma empresa consegue desenvolver boas soluções utilizando seus recursos internos, mas é importante saber “como fazer”, pois é muito fácil confundir educação financeira, informação financeira e aconselhamento financeiro. São coisas diferentes e com consequências diferentes.
“Aconselhamento financeiro”, por exemplo, é algo que eu acredito que as empresas devem procurar se afastar o máximo possível, principalmente quando envolve o uso de produtos financeiros, pois isso pode expor o empregador a passivos trabalhistas caso o funcionário tenha algum tipo de perda financeira decorrente desse aconselhamento. Esse tipo de questão é tratada no Guia, que pode ser baixado gratuitamente ao clicar na imagem abaixo:
Como as empresas devem trabalhar os casos mais críticos? O acompanhamento através de consultoria pessoal é o mais adequado?
A. M.: Sim, o acompanhamento individual é o mais efetivo em termos de resultado, mas pode não ser o mais eficiente em termos de custos. Em geral, é recomendável que empresas invistam inicialmente em treinamentos coletivos, que tem uma boa relação custo/benefício, deixando abordagens individuais para aqueles casos que o treinamento não conseguiu satisfazer.
Eu gosto muito de utilizar o “modelo transteórico” (do psicólogo James O. Prochaska) para tentar identificar em que “momento pessoal” estão os funcionários, e aí ver qual é a abordagem mais indicada.
Seja como for, quando a empresa oferece um atendimento individual, é muito importante que esse atendimento seja mais para um coaching do que uma consultoria ou aconselhamento tradicional. As decisões financeiras são e devem ser sempre do funcionários – o empregador não deve interferir nisso.
Pensando em um projeto de longo prazo, é importante que as empresas desenvolvam multiplicadores para que o beneficio seja constante? Esse é um bom caminho?
A. M.: Sim, em empresas grandes faz todo sentido o desenvolvimento de multiplicadores internos. Considerando que um programa de educação financeira de resultado não deve ser algo pontual, a formação de multiplicadores é uma boa medida e que apresenta grande eficiência de custos.
André, muito obrigado pela sua disponibilidade. Por favor, deixe uma mensagem final para o leitor do Dinheirama que quer saber como baixar seu eBook e também conhecer melhor seu trabalho.
A. M.: É sempre uma honra e um prazer conversar com vocês. Esse material que eu desenvolvi não é um “ebook de finanças pessoais”, e sim um guia para auxiliar profissionais de RH, de treinamento e desenvolvimento e assistentes sociais a implementarem e desenvolverem programas de educação financeira em suas organizações.
O leitor comum, que busca apenas informação financeira, provavelmente não se beneficiará muito da leitura de meu Guia, mas aqueles que pretendem adotar programas de educação financeira em suas empresas certamente vão tirar proveito. No mínimo terão algumas visões “diferentes”.
O Guia é gratuito e pode ser baixado no link www.andremassaro.com.br/GEFAT. Obrigado e até a próxima. Abraços.
Foto: divulgação.