Os economistas têm falado mais recentemente sobre o tema “tempestade perfeita”, que resumido poderia ser o Brasil ser pego na contramão das demais economias importantes do mundo, principalmente caso os EUA comecem a reduzir os estímulos monetários, conhecido como QE3, no curto prazo.
A redução do programa de compras de ativos empreendida pelo FED, de US$ 85 bilhões/mês, certamente traria, como de fato já vem acontecendo, desequilíbrios nos principais ativos, especialmente juros, câmbio e ações.
Com a economia brasileira apresentando deterioração das contas públicas e externas, os efeitos por aqui seriam ainda mais danosos. O governo brasileiro, através de sua representante maior, do ministro Mantega e do presidente do Banco Central (BC), segue afirmando que o país se preparou e está preparado para tal evento.
Porém, em vez de falarmos na “tempestade perfeita”, poderíamos falar de alguns temporais que podem nos acometer e, certamente, causar muitos distúrbios – semelhante ao que ocorreu no sentido físico nos estados do Rio de Janeiro, Minas e Espírito Santo.
Mesmo que a retirada de estímulos pelo FED possa ser inicialmente branda, ainda assim os mercados reagiram, com destaque para a taxa cambial. Nesse contexto, convém observar algumas particularidades que ocorrem na economia brasileira.
Como tem agido o BC?
O BC anunciou interferências diárias no câmbio através de operações de swap tradicional de US$ 500 milhões/dia e nas sextas-feiras leilões na linha de US$ 1,0 bilhão.
Desde que o BC anunciou esse programa, que terá vigência até o final do ano, praticamente todas as operações que foram vencendo foram sendo renovadas. Apenas em uma ocasião o BC não aceitou as propostas e, nesse dia em especial, tivemos forte valorização do dólar.
Hoje, os compromissos com essas operações de swap tradicional já montam em cerca de US$ 70 bilhões e em expansão, já que são realizadas novas operações todos os dias da forma anunciada com antecedência.
É bem verdade que o Brasil possui reservas da ordem de US$ 375 bilhões, tendo algo como US$ 265 bilhões aplicados em títulos americanos, sendo o quarto maior credor depois de China, Japão e um fundo.
As ingerências no câmbio serão suficientes?
Na teoria, os países emergentes estariam mais vulneráveis à redução dos estímulos americanos. Ocorre que, nesse momento, o Brasil tem sido o emergente que mais “interferências sujas” faz no câmbio.
Com a retirada progressiva dos estímulos (ainda que inicialmente branda), haveria necessidade de maior presença para aplacar a volatilidade do câmbio. Surge aí a possibilidade de temporal.
Nesse contexto, as operações e compromissos futuros invariavelmente aumentariam e poderiam mesmo redundar em queima de alguns dólares de nossas reservas em momentos de maior estresse.
E o Brasil não consegue gerar superávit nas contas externas, com balança comercial e fluxo cambial negativos. Igualmente, nossa dívida bruta tem aumentado muito e, segundo o cálculo do FMI, já estaria próxima de 70% do PIB (pelos cálculos do Brasil em 59%) e bastante elevada para os padrões de emergentes.
Assim, fica também pouco factível ao governo emitir títulos para aquisição de reservas, como fez no passado. Além disso, nossas reservas estão nesse patamar há muito tempo.
Bom, esse só seria mais um temporal que teríamos que atravessar nesse quadro de indicadores fragilizados e deterioração de contas e da economia brasileira como um todo. Vamos sim ter que nos preparar para os temporais que podem começar a ocorrer a partir de 18/12, quando o FED faz sua última reunião do ano.
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Foto “Perfect storm”, Shutterstock.