Daniel comenta: “Navarro, certa vez li um artigo sobre diversificação que falava sobre o uso de moedas estrangeiras – por exemplo, o dólar – para assegurar menor perda de patrimônio durante processos de crise, como o que vivemos atualmente. A informação procede? Pode dar sua opinião a respeito, aproveitando o momento de instabilidade e usando alguns dados para que possamos compreender melhor a questão? Imagino que a valorização da moeda “compense” certas quedas em outras aplicações. É por ai? Obrigado”.
Antes de comentar a prática de proteção do patrimônio através do dólar (sim, porque ele ainda é o centro das atenções), permita-me registrar algo relevante: outubro se foi! Ufa. Mês de fortíssimas oscilações, outubro terminou com um saldo bastante complicado para o mercado de ações – o que, como sempre dissemos, também representou oportunidades de investimento no longo prazo.
Aplicações financeiras, como estamos?
Um breve parecer sobre a evolução das aplicações, publicado ontem no jornal Valor Econômico, mostra como outubro realmente foi marcante neste ano:
- Até 31/10, o Ibovespa registrava rentabilidade de -41,68%. Do total acumulado, quase 25% vieram do mês passado;
- Fundos de ações, de modo geral, transitavam em retornos acumulados da ordem de -50%, sendo outubro o mês responsável por queda próxima de 35% (até 42% em alguns casos);
- Os fundos multimercado com renda variável acumulam alta de 1,59% no ano. No entanto, a queda em outubro foi de expressivos 2,55%;
- Os fundos multimercado sem renda variável se sustentam melhor, com alta de 8,96% no ano;
- A poupança acumula 6,43% de ganhos, enquanto os fundos de renda fixa e referenciados DI ficam próximos de 9,6%;
E o dólar?
Ah, sim, de volta ao tema principal do texto. Pois é, o dólar comercial acumula, em média, cerca de 21% de rentabilidade no ano. Deste número, 13% de valorização vieram do mês passado. Nos fundos cambiais, o retorno é ainda mais expressivo: 26,31% no ano, com 15,5% acumulados em outubro. Observando os dados aqui publicados, você deve estar pensando “A Bolsa desabou, o dólar subiu”. Conclusão óbvia? Depois de analisar os números, sim.
Mas e daí?
Advinhar os rumos da moeda não é nada fácil. Aliás, é algo bastante difícil. Quem não se lembra do Caso Sadia? Depois dele, outras empresas também já anunciaram grandes prejuízos. No entanto, o presente artigo não trata do uso de moeda como ferramenta de hedge para empresas, mas ruma para a tentativa de explicá-lo dentro do universo do pequeno investidor.
Uma breve análise da crise nos leva à algumas conclusões a respeito da alta recente do dólar: com a economia norte-americana em desaceleração, países emergentes, como o Brasil, vêem muito do dinheiro alocado em suas bolsas de valores voltar ao seu país de origem. Com a tensão se elevando muito entre setembro e outubro, o grande capital mundial decidiu estacionar-se em aplicações tidas como muito seguras, como é o caso dos títulos do governo americano. Daí:
- A concentração de dólares em títulos americanos e outros produtos de baixo risco fez diminuir a quantidade da moeda americana disponível para circular entre a economia. Bancos lá foram emprestam muito menos dinheiro. Com a escassez, o dólar passou a ficar caro. Sua cotação frente a diversas moedas subiu;
- Investidores estrangeiros, que representam cerca de 35% do capital que circula na Bovespa, preferiram realizar seus lucros e levar seu dinheiro para os portos seguros já mencionados. O Ibovespa despencou.
A oferta de dólares diminuiu, seu preço subiu. O investidor estrangeiro fugiu, a bolsa caiu. Outubro, e alguns dos efeitos da crise por aqui, não podem ser explicados só dessa forma, é claro. Mas a idéia é manter o raciocínio simplificado, objetivo, a fim de que pelo menos parte da questão seja plenamente observada.
E o hedge cambial do pequeno investidor?
Suponho que, a esta altura, você já deva ter feito alguns paralelos com outras crises. Ora, se somos um país emergente (mais arriscado, na visão das grandes economias), cujo capital foge em momentos de crise e cujos efeitos das tensões mundiais afetam a moeda, é inteligente sustentar, enquanto pessoa física, pequenas posições em dólar e/ou outra moeda internacional forte (Euro, por exemplo).
O hedge cambial consiste em usar a moeda estrangeira como fator de proteção do patrimônio – e o pequeno investidor deve parar por ai. Volte aos dados de outubro: se você tinha algum dinheiro em ações, mas também tinha algum dinheiro em um fundo cambial, é possível que suas “perdas” não estejam tão grandes. É possível.
Surge, naturalmente, a questão: quanto ter em moeda estrangeira? A resposta exata não existe, felizmente. A aversão ao risco de cada um é dos fatores importantes para encontrar a melhor resposta. Eu costumo comprar dólares de forma constante (pouco, bem pouco), de forma a sempre ter uma reserva, que pode ser usada para viajar (quando tudo vai bem), ou para me amparar (quando tudo vai mal). A lição é simples, mas deve ser usada com muita cautela.
IMPORTANTE: este artigo usa dados passados para demonstrar conceitos importantes a respeito da proteção do patrimônio. Trata-se de um texto didático, não de uma receita de sucesso. Primeiro, não há nenhuma garantia de que comportamento semelhante será observado no futuro. Segundo, especular com moeda não é prática apoiada por este blog. As decisões de investimento e alocação de recursos devem sempre levar em conta o perfil de cada investidor e seus objetivos. Na dúvida, consulte um profissional.
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