Não restam dúvidas: apelando para o chavão amplamente usado na mídia, tanto de lá, quanto daqui, fica fácil afirmar que a eleição do democrata Barack Obama, novo presidente dos Estados Unidos, parte da necessidade urgente do mundo em encontrar uma liderança capaz de conduzir a maior nação do planeta de volta ao caminho da prosperidade e do crescimento. Querem alguém para colocar a super potência “no prumo”, mas com mais sensatez e humildade. Assim interpretei a eleição de lá.
A imagem negativa que pontuou o final do mandato do Presidente Bush foi um fardo enorme para candidatura republicana. Nem mesmo a figura da bela governadora Sarah Palin foi capaz de transformar e motivar os eleitores americanos em torno da candidatura John Mccain. É bem verdade que a governadora do Alaska também causou ojeriza em muitos eleitores.
Se a vitória dentro do território americano foi expressiva, no exterior a preferência pelo senador nascido no Hawai e filho de pai queniano era (é) estrondosa. Resta a pergunta crucial: o presidente eleito será realmente capaz de transformar sonhos e esperança em realidade? Será ele capaz de reacender a economia? Se sim, a que preço?
A economia do país mergulha em uma crise singular, fato nada novo para você, leitor do Dinheirama. Um colapso no seio das maiores organizações financeiras americanas, que subestimaram conceitos indispensáveis da administração financeira e o poder nefasto do crédito indiscriminado, assola o novo presidente e sua equipe.
A ganância e a falta de visão sistêmica do assunto, que teve como ponta principal a política econômica conduzida em parte pelo Sr. Alan Greenspan e aprovada pela população na época, agora surgem transformadas em índices e mais índices, cada vez mais preocupantes e que fazem parte da vida real das pessoas.
Desemprego, dívidas e desespero
Ora, quem passa por essa situação só pode se apegar em uma palavra: ESPERANÇA. Pesquisas de boca de urna indicaram que 62% do eleitorado pautaram sua decisão na crise econômica vivida no país. Americanos, que até pouco tempo se orgulhavam de pertencer ao quadro de colaboradores de bancos como Merrill Lynch, hoje estão em casa e provavelmente passarão um Natal cheio de dúvidas e com medo do que reserva o futuro.
De fato, a crise econômica ajudou a escolha de Obama para a Casa Branca. Afinal, aos olhos do mundo, ficou nítido que a prioridade do governo Bush sempre foi a questão armamentista, de defesa. O fracasso econômico tem um efeito catastrófico na sociedade, pois mostra fragilidades difíceis de digerir, principalmente após uma década de crescimento e números extremamente favoráveis. É hora de repensar, mudar, concluíram os americanos (só eles?).
Os desafios
Os desafios são grandes e são muitos, é verdade. O sentimento anti-americano, por exemplo, surgiu como um dos grandes efeitos da política militarista do atual governo. De acordo com a lei da atração, esse sentimento contrário acaba se traduzindo, também, em um “efeito magnetismo” da uma crise financeira, onde tudo parece conspirar para seu agravamento.
Barack Obama poderá transitar mais entre nações, ser mais flexível e ainda ser responsável por atos históricos, como dar um ponto final para a (forjada?) Guerra do Iraque. Nesse momento, talvez devêssemos nos juntar à maioria americana e realmente refletir e torcer para que Obama seja iluminado por pensamentos positivos e encontre os melhores caminhos nesse período de turbulência. Globalização significa torcer pelo outro, porque dele dependemos. Amém.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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