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Mentiras financeiras que você deve combater

por Conrado Navarro
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Primeiro de abril, Dia da Mentira. O dia típico é aquele em que você já acorda recebendo uma notícia bombástica de um amigo ou familiar, e depois descobre que era uma “pegadinha”. Dia em que as redes sociais ficam poluídas com inúmeras “novidades”, logo desmentidas e satirizadas.

O problema é quando o Dia da Mentira vira a Era da Mentira. Sabe aquela sensação que você tem de estar diante de uma oferta boa demais para ser verdadeira ou de um negócio “fantástico”? Pois é, isso acontece hoje, mas também amanhã, depois e depois, sem a “desculpa” de ser primeiro de abril.

No cotidiano das finanças e educação financeira, todo dia é dia de mentir. São muitas as situações propostas por instituições financeiras, especialistas e “pseudoentendidos” que merecem nosso cuidado. Aproveito o Dia da Mentira para citar três mentiras capazes de causar estragos no orçamento de qualquer um.

Mentira 1: Título de Capitalização é investimento

O principal atrativo dos Títulos de Capitalização são os sorteios de dinheiro e bens (carros, motos etc.), não sua rentabilidade. Se você acredita ser sortudo o suficiente para ganhar um dos prêmios, aposte nisso. Veja bem, eu disse “aposte” porque um produto como esse é justamente isso: uma aposta.

A liquidez também é limitada – você não consegue resgatar tudo que gastou na hora em que quiser. Há carência, o que significa que o percentual disponível para resgate varia de acordo com o passar dos meses e a opção de tirar alguma coisa só começa depois de 12 meses.

“Ah, mas o dinheiro investido será devolvido ao final, corrigido!”, ouço alguém dizer. Se a proposta é o aumento do capital, há alternativas muito mais interessantes e que trarão retorno muito maior no mesmo período. Digamos que você compre um Título de Capitalização de 60 meses. Se optasse por investir o dinheiro a ser gasto todo mês no Tesouro Direto, por exemplo, teria muito mais patrimônio ao final dos 5 anos.

Se quiser entender os detalhes por trás dos Títulos de Capitalização, clique aqui e leia um artigo especial que já fiz sobre o tema. De novo, insisto: se acredita que pode ganhar, se entende que há o componente da sorte, ok, vá em frente! Mas isso não é investir. Leia o texto e tire suas conclusões.

Mentira 2: Compra com juro zero

Pense no preço de um produto qualquer hoje. Diante de nosso cenário econômico, você acredita que este produto custará a mesma coisa daqui 12 meses, ou até menos? Não. A inflação, para ficar em um aspecto técnico, força empresas a corrigir seus preços periodicamente.

Quando alguém apresenta uma oferta de “juro zero”, na prática está dizendo o seguinte: o preço total do produto já embute nossas expectativas para a economia no período de “X” meses, onde “X” é o número proposto de parcelas sem juros da negociação. Ou seja, há margem para desconto ao optar pelo pagamento à vista.

O amigo Daniel Meinberg escreveu um artigo falando justamente da nossa ingenuidade ao acreditar em ofertas deste tipo – clique aqui para ler. Ele inclusive menciona a famosa frase “Não há almoço grátis”. Pense da seguinte forma: quem acredita na proposta de “juro zero” paga por quem pechincha. De que lado você prefere estar?

Mentira 3: Imóveis são um tipo de investimento conservador

A noção de que os investimentos em imóveis são seguros, conservadores e adequados para todo perfil de investir remonta a um período de nossa economia em que tijolos e cimento eram uma das poucas alternativas para evitar que o dinheiro “virasse pó” por conta da inflação.

Naquela época, comprar imóveis significava imobilizar o capital em um bem tangível e de alto valor, algo por si só interessante sem que outras variáveis fossem analisadas. A economia brasileira mudou. O mercado financeiro mudou, trazendo novas opções de investimentos. A mentalidade precisa mudar.

  • Empatar uma grande soma de dinheiro ou altas parcelas mensais em um investimento para obter retorno médio de 0,5% ao mês ou menos (pior que a caderneta de poupança)?
  • Como lidar com os custos de propriedade e manutenção quando existir vacância, ou seja, quando ninguém alugar seu imóvel?
  • Você tem experiência em lidar com inquilinos e imobiliárias?

Note que trato dos imóveis como investimentos (não da casa própria), o que traz a necessidade de rever a mentira sobre serem “investimento bom em qualquer momento”. Se você gosta dessa ideia, sugiro que pesquise mais sobre Fundos de Investimentos Imobiliários, aplicação isenta de Imposto de Renda, aportes iniciais menores e melhor diversificação.

Atenção: há literatura extensa que defende o investimento em imóveis como uma opção importante diante da necessidade de diversificar. Acredito nisso e por isso falei dos FIIs. Acontece que em outros países a renda fixa não dá retorno real e investimentos em imóveis são bons porque sua rentabilidade é interessante.

Não entendeu? É simples: por aqui, título público garante 6,5% ao ano acima da inflação (NTN-B) no longo prazo. Isso é mais do que investidores americanos costumam esperar de dividendos (mercado de ações) e de retorno de aluguel de seus imóveis. E com risco muito mais baixo. Então interprete bem o texto, ok?

Conclusões

Cuidado com o eterno primeiro de abril das finanças pessoais. Vivemos em um país caro, com taxas de juros ao consumidor das mais elevadas do mundo e onde a ignorância financeira ainda impera e sobrevive graças a um nível cultural baixo e educação deficiente.

Portanto, saia de sua zona de conforto! Questione-se sempre em relação às suas decisões financeiras, tratando seu dinheiro com respeito, moderação e, principalmente, atenção. Comece definindo suas prioridades financeiras e associe seu plano de investimentos a objetivos bem definidos. E consuma com moderação.

Espero ter contribuído novamente com a sua formação financeira. Compartilhe mais mentiras financeiras comigo usando o espaço de comentários abaixo ou deixe sua opinião. Obrigado e até a próxima.

Foto “Fingers crossed”, Shutterstock.

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