E a Petrobras descobre novas reservas de petróleo. Se essa noticia tivesse sido divulgada há alguns meses atrás, provavelmente veríamos o Ibovespa batendo recorde de pontos e investidores comemorando aqui e acolá. Entretanto, o que se percebe no dia de hoje é um certo ar de fim de festa. Por que? O futuro nos trará surpresas no que diz respeito ao petróleo? A empresa ficou tão ruim assim em tão pouco tempo? O preço do barril influencia?
Quando o preço do barril de petróleo estava com preços acima (bem acima) de US$ 100,00 todos nós (e aqui me incluo) tentávamos adivinhar qual seria o teto – lembre-se que muitos analistas importantes disseram que ele chegaria a US$ 200,00. Hoje em dia, essas declarações são tidas como lunáticas e descabidas. De certa forma, pode-se dizer que elas foram ingredientes extras para o crescimento da suposta bolha especulativa.
Uma olhada rápida nos números do pregão e na cotação das ações da Petrobras dizem tudo: os preços caem vertiginosamente. A preocupação agora parece ser outra: até onde vai o preço do barril de petróleo? Vai despencar muito mais? Vai se estabilizar ou voltar a subir?
A nova velha descoberta
Você avinhou certo, a atual descoberta se refere ao chamado Pré-sal – reservas que estão em mar profundo e que necessitariam de grande investimento tecnológico e financeiro para exploração e aproveitamento. Vejamos trechos do comunicado oficial da Petrobras:
“Com as novas descobertas, o volume total de óleo estimado na área do Parque das Baleias, incluídos os reservatórios localizados acima e abaixo da camada de sal, já chega a aproximadamente 3,5 bilhões de barris de óleo.
Os excelentes resultados dessas duas perfurações, as ótimas respostas do teste de longa duração do poço pioneiro 1-ESS-103A e as facilidades logísticas já instaladas e em instalação na área levam a Petrobras a intensificar os estudos para acelerar a produção do pré-sal do Espírito Santo” (Almir Barbassa, Diretor financeiro e de RI da Petrobras)
O preço do barril e a estabilidade
Vários estudos demonstram que o limite para que a Petrobras continue operando no azul é de US$ 35,00 por barril. Mesmo com o barril nesse patamar, a empresa teria sobre controle todos os custos e poderia, ainda, apresentar lucro. Mas, por mais que o dia-a-dia mostre que esse valor está próximo, o mercado e a maioria dos analistas não acreditam que o preço caia tanto.
Ah, sim, os analistas erram muito. Pois é, mas existem também vários instrumentos de regulação para o preço, inclusive através de cortes na produção patrocinada pela Opep (Organização dos países exportadores de Petróleo). Outro ponto crucial e capaz de limitar quedas ainda maiores são as questões dos custos de produção – o que me leva a crer que o limite da queda está próximo.
Ora, então as ações da Petrobras são um bom negócio?
Aqui estamos, diante da pergunta do milhão. A Petrobras passa por um período cujo o problema principal não é a gestão dos custos de produção ou a venda do petróleo, mas sim a incógnita do futuro quanto ao seu plano de investimentos e a demanda real pelo ouro negro. São questões estratégicas relevantes.
Dados importantes, divulgados recentemente, dão uma mostra dos desafios da empresa. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) caiu 14% do segundo para o terceiro trimestre, variação que demonstra o impacto do aumento dos custos. Para os investidores, trata-se de um sinal de alerta que explica parte da aversão ao papel.
Depois de muito ler, conversar e analisar, confesso que fui um dos que comprou papéis da Petrobras durante a crise. Também sou daqueles que acreditam em um “mundo limpo”, sem petróleo, mas ainda vejo esse cenário em um longo prazo. Mais, acredito que mesmo sendo uma empresa do ramo petrolífero, a Petrobras irá participar desta evolução. Confio na capacidade da companhia.
Manterei minha estratégia, olhando para o futuro da empresa com otimismo e boas perspectivas. Quando a crise for contida, o preço das commodities como um todo tenderá a subir – ainda que demore um bocado para chegar aos números de antes. Parece-me que o preço baixo no pregão é um componente único e aproveitá-lo agora pode ser a diferença entre o bom e mau negócio na bolsa de valores. Bom final de semana.
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Ricardo Pereira é consultor financeiro, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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