As taxas dos DIs fecharam a segunda-feira em alta em sintonia com o avanço dos rendimentos dos Treasuries, mas distantes do pico da sessão, atingidos após uma entrevista do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, e dados econômicos norte-americanos elevarem as apostas de que o corte de juros nos EUA não começará em março.
O primeiro estímulo ao avanço dos yields dos Treasuries surgiu no domingo, quando Powell apareceu em uma entrevista defendendo “prudência” no início do processo de corte de juros pelo Fed.
“A atitude prudente a ser tomada é… dar um tempo e verificar se os dados confirmam que a inflação está caindo para 2% de forma sustentável”, disse Powell em entrevista ao programa “60 minutes”, da rede CBS, gravada na última quinta-feira. “Queremos abordar essa questão com cuidado”, acrescentou.
Em reação, os rendimentos dos títulos norte-americanos registraram ganhos fortes, com os investidores elevando as apostas de que o corte de juros pelo Fed começará em maio, e não em março. No Brasil, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) acompanharam.
Alguns analistas, no entanto, já citam a possibilidade de que o Fed, em função do aquecimento da economia norte-americana, comece a cortar juros apenas no segundo semestre — uma perspectiva bem diferente da que vinha sendo precificada na curva de juros norte-americana no fim de 2023.
“Desde o início do ano passado, temos trabalhado com a ideia de ‘soft landing’ (pouso suave) da economia norte-americana, que levaria a uma queda da taxa de juros gradual ao longo do tempo. Apesar de ainda ser nosso cenário base, começamos a considerar o cenário alternativo de ‘no landing’”, pontuaram o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, e a economista Nathalia Leocadio Rubio, em comunicado aos clientes.
“Neste cenário o Federal Reserve não poderia iniciar o ciclo de afrouxamento monetário neste semestre e/ou faria um ciclo bem mais modesto do que aquele precificado pelo mercado”, acrescentaram.
A divulgação do PMI de serviços do Instituto de Gestão do Fornecimento (ISM, na sigla em inglês), às 12h desta segunda-feira, intensificou o movimento global. O indicador subiu de 50,5 em dezembro para 53,4 em janeiro. Uma leitura acima de 50 indica crescimento no setor de serviços, que responde por mais de dois terços da economia. Economistas consultados pela Reuters projetavam que o índice subiria para 52,0.
“O ISM jogou mais ‘gasolina’ no fogo trazido pela entrevista do Powell e pelos dados dos EUA na semana passada. O indicador esvaziou ainda mais as apostas de um Fed dovish (brando com a inflação), o que trouxe um pico para o dólar, um vale para a bolsa e um pico para a curva (de juros) no Brasil”, descreveu o gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM, Cleber Alessie Machado.
No pico da sessão, às 12h05 — pouco depois dos dados do ISM –, a taxa do contrato futuro para janeiro de 2027 subia cerca de 10 pontos-base.
Ao longo da tarde, porém, houve certa acomodação dos ativos no Brasil, com alguns agentes realizando lucros tanto no mercado de juros quanto no de câmbio. A percepção geral era de que, apesar de o corte de juros nos EUA estar sendo adiado de março para maio, os próximos passos da política monetária brasileira seguem claros, após o Banco Central ter indicado a intenção de promover pelo menos mais duas reduções de 0,50 ponto percentual da Selic, em março e maio.
Perto do fechamento desta segunda-feira a curva a termo brasileira precificava 90% de chances de o corte da Selic em março ser de meio ponto percentual. Atualmente, a Selic está em 11,25% ao ano.
No fim da tarde a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 9,975%, ante 9,983% do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em 9,715%, ante 9,701% do ajuste anterior.
Já a taxa para janeiro de 2027 estava em 9,88%, ante 9,864%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 10,14%, ante 10,123%. O contrato para janeiro de 2031 marcava 10,56%, ante 10,545%.
Às 16:39 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos –referência global para decisões de investimento– subia 12,90 pontos-base, a 4,1598%.
No Brasil, os investidores também seguiram atentos às negociações, em Brasília, em torno da proposta de reoneração da folha de pagamentos de 17 setores. Em meio à disputa entre a equipe econômica e o Legislativo sobre o tema, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), disse nesta segunda-feira que o governo está disposto a discutir a reoneração por projeto de lei.
Já o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que se o Congresso tiver alternativas para a questão o governo vai “para a mesa ouvir”. Mas ele frisou que qualquer benefício a um setor da economia precisa ser compensado para garantir o equilíbrio orçamentário