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Orçamento Familiar: Você se considera Materialista e Esbanjador?

por Conrado Navarro
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Susana comenta: “Navarro, é impressão minha ou aumentou muito o consumismo de uns anos para cá no Brasil? Qualquer um compra o que quiser, sempre com dinheiro emprestado e pagando juros elevados. Esbanjam querendo vender uma imagem falsa e depois se enrolam para pagar as dívidas. Orçamento familiar vira piada. É isso mesmo? Estou preocupada. Obrigada”.

Salários que se elevaram acima da inflação, maior inclusão bancária, acesso ao crédito facilitado e facilidades na obtenção de empréstimos criaram a realidade vista hoje no Brasil: o endividamento é presença constante nas famílias brasileiras. Não fosse o altíssimo patamar dos juros praticados aqui, talvez a situação não fosse tão preocupante.

Mas, o que acha disso quem costuma comprar além da conta? O que dizem os consumidores que gostam de comprar o que está na moda para se sentirem “incluídos” e parte de seu grupo?

Será que essas pessoas estão tão preocupadas quanto eu, você (assim espero!) e outros profissionais que atuam com educação financeira? É fácil descobrir, quer ver? Chame um familiar ou amigo e faça a ele duas perguntas simples:

  • Você acha que os brasileiros estão mais materialistas hoje do que há dez anos?
  • Você se vê como uma pessoa com muitos interesses materiais, alguém consumista?

As prováveis respostas para as perguntas serão “Sim” e “Não”, respectivamente. De uma forma geral, reconhecemos que a sociedade brasileira está muito mais consumista que no passado, mas não queremos admitir nossa parcela de culpa nessa transformação. Consumista é sempre o vizinho, não é assim?

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Quem aqui é consumista e materialista?

“Consumir é a forma mais rápida e eficaz de ter, e, numa sociedade com abundância produtiva, os verbos ‘ser’ e ‘ter’ viram sinônimos absolutos”Ana Beatriz Barbosa

A pesquisa “Truth about Shopping”, realizada pela WMcCann com mais de 10 mil pessoas em 11 países (África do Sul, Brasil, Chile, China, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Estados Unidos, França, Índia, Inglaterra e México), resolveu questionar as pessoas sobre o consumismo e suas atitudes diante dessa realidade.

No Brasil, foram entrevistadas mil pessoas, e alguns resultados foram bem diferentes do de outros países, merecendo alguma reflexão.

Saiba que 25% dos brasileiros se sentem ofendidos ou preocupados quando são descritos pelos outros como consumistas, enquanto a taxa média dos outros países é de 12%. E somos assim mesmo: damos um peso grande ao que os outros pensam e falam de nós (gostamos, sim, de uma boa fofoca).

E as perguntas que eu lancei alguns parágrafos atrás e que você fez a algum conhecido, veja só que interessante: 89% dos brasileiros confirmam que as pessoas estão buscando a satisfação por meio do consumo, mas 69% ficam na defensiva e afirmam que não se veem como consumistas.

Complementando, 61% dos brasileiros afirmam que é impossível se desligar das compras, enquanto a média dos outros países para essa questão é de 38%. E somos bons negociadores, pelo menos quando perguntados: 42% dos brasileiros dizem que fazem um grande esforço para fechar uma compra com as melhores condições possíveis (a média é de 28%).

Reveja os números e a impressão que você terá é a de que somos um país bastante civilizado em relação ao consumo: achamos que o consumo aumentou, mas não somos consumistas; não gostamos de ser considerados exagerados nas compras até porque sempre fazemos questão de negociar muito bem. Mas é só impressão, infelizmente.

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Dinheiro, ainda um assunto “proibido”

Parece razoável ver nossa população como educada em relação às compras, mas a realidade ali do lado de fora da janela não é bem essa. Nossas taxas de juros para as modalidades de crédito com mais inadimplentes (cheque especial e cartão de crédito) são, de longe, as mais altas do planeta.

Se considerarmos as compras parceladas nas próprias redes de varejo ou pagas através de empréstimos diretos (CDC, por exemplo), também veremos custos elevados e uma enorme diferença para o preço à vista. Pegar dinheiro emprestado aqui significa pagar juros que variam entre 40% a 300% ao ano.

Para efeitos de comparação, a taxa de juros cobrada no crédito rotativo aqui no Brasil é o dobro da média dos países emergentes (em alguns casos bem mais) e mais de 10 vezes a dos EUA e de diversos países da Europa. Quisera eu poder dizer “Surreal” para isso. Não dá! Infelizmente, isso é bem real e costuma fazer estrago.

Desculpe a sinceridade, mas infelizmente o que eu vejo analisando o resultado desta e de outras pesquisas é ainda muita desinformação, desinteresse e um enorme tabu em torno da questão financeira e do orçamento familiar.

A realidade que encontro nas famílias que atendo é emblemática: muitos brasileiros sabem que estão pagando caro, que estão se endividando além da conta, mas preferem esconder esse fato e enganar a si mesmo e aos outros agindo como se fossem genuínos exemplos de inteligência financeira e planejamento.

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Orçamento familiar, planejamento e diálogo devem ser prioridades

A solução para a ausência de interesse pelas finanças pessoais e para o consequente desequilíbrio financeiro passa, obviamente, pela necessidade premente de juros em níveis civilizados e um ambiente econômico de mais oportunidades. A má notícia é que estas decisões e mudanças não estão nas nossas mãos, pelo menos não diretamente.

Precisamos, portanto, fazer a lição de casa: registrar nossos ganhos e gastos de forma organizada e constante, trabalhar bem a definição de objetivos e necessidade de lidar com a frustração (esperar para alcançar) e, principalmente, incentivar o diálogo franco e honesto em torno da realidade financeira familiar.

A mudança passa por enxergar o planejamento financeiro e o orçamento familiar como prioridades, assim como fazemos com nossa carreira e família. Evitar tomar decisões por impulso e comprar no primeiro contato também são pequenas atitudes que costumam fazer uma grande diferença no saldo do fim do mês.

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Conclusão

O consumo facilitado veio para ficar. É fato que seremos cada vez mais abordados por produtos e soluções para problemas que nem sabíamos que tínhamos. O lado dos desejos é infinito, mas os recursos de que dispomos para realizá-los só finitos – o dinheiro acaba (rápido).

Não dá para ter tudo hoje, agora, sem pagar o preço (caro) do endividamento. De acordo com a pesquisa mostrada aqui, reconhecemos que o consumismo é a realidade atual, mas ainda não aceitamos que somos parte do problema (só o vizinho é!). Assumir essa responsabilidade é uma questão de cidadania.

O que você acha dessa questão que envolve o consumismo e a ausência de prioridades ligadas ao orçamento familiar? Deixe sua opinião no espaço de comentários abaixo. Obrigado e até a próxima.

Foto “Let’s go shopping”, Shutterstock.

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