O diretor de Política Monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, disse na sexta-feira que a autarquia está ciente de que pode sofrer um “pênalti” perante os mercados financeiros quando retirar o plural de suas sinalizações sobre os próximos passos de seu afrouxamento monetário.
Seus comentários, realizados no evento Hora da Retomada, promovido pelo Money Report, vieram depois que o Banco Central indicou em seus últimos encontros ver como apropriada a manutenção do ritmo de corte de 0,50 percentual da taxa Selic nas “próximas reuniões”. Os juros básicos estão atualmente em 11,25%.
“Em algum momento você tem que fazer a retirada do plural e isso pode existir um pênalti, um custo da retirada no plural na mudança do guidance”, disse o diretor do BC.
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Galípolo apontou que a sinalização de cortes para as próximas reuniões permite dar previsibilidade ao mercado e retirar volatilidade, indicando, no entanto, que há o risco do BC “ser pego no contrapé” caso haja mudanças no cenário projetado.
Ele também exaltou o BC por ser “corajoso” em iniciar o ciclo de redução no patamar de 0,5 p.p. e sinalizar cortes futuros, em uma estratégia que chamou de “esporte de alto risco” para autoridades monetárias de países emergentes.
“A gente se engajou nesse esporte de alto risco que até agora se pagou. A gente achou um ritmo de corte que permitiu ajustar o nível da política monetária… e simultaneamente dá tempo de observar a velocidade de reação da economia”, afirmou.
Galípolo afirmou que a dependência de dados está acima do “guidance” (ou orientação futura) do BC, e que o que a autarquia indicar em seus comunicados em termos de política monetária só vai se concretizar caso as expectativas econômicas se tornem realidade.
Questionado sobre a previsão de fim do ciclo atual de corte de juros, o diretor pontuou que o BC não vê “muito valor” no momento em apontar qual será o patamar de uma suposta taxa terminal, preferindo “ganhar tempo para ver como as coisas vão se revelando”.
Galípolo ainda disse considerar “muito importante” a reancoragem das expectativas de inflação para 2025 e 2026, o que, segundo ele, ajuda a alimentar a discussão de que a taxa de juros pode ficar em um nível contracionista por mais tempo.
“Quando a gente olha as expectativas de inflação para 2025 e 2026, elas continuam fora da meta de 3%. Por isso, a reancoragem dessas expectativas é muito importante”, disse.
De acordo com a última pesquisa Focus, divulgada na terça-feira, as expectativas dos analistas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) nos anos de 2025 e 2026 estão respectivamente, em 3,51% e 3,50%, acima da meta central de 3%.
Política Cambial
Em seus comentários, Galípolo disse não acreditar que o BC fará mudanças em sua política cambial no momento, explicando que o “estresse” observado pela autoridade monetária nessa frente está “dentro da normalidade”.
Dessa forma, o diretor disse que o BC deve manter o estoque de swap que possui desde 2021.
De acordo com Galípolo, uma alteração nesse momento poderia gerar “ruído” quando considerado o ciclo de redução de juros.