O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, prometeu nesta segunda-feira corrigir todos os erros que levaram à derrota de seu partido nas eleições locais de domingo, em que a oposição capitalizou sobre problemas econômicos e alienou os eleitores islâmicos, lançando incertezas sobre os planos de reforma do governo.
A votação de domingo marcou a pior derrota de Erdogan e de seu Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP) em mais de 20 anos no poder, revitalizando a oposição e fortalecendo a posição do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, como o principal rival do presidente.
Redesenhando um mapa político há muito tempo dominado pelo AKP, o Partido Republicano do Povo (CHP) ganhou a votação popular pela primeira vez em décadas e varreu a maioria das principais cidades, penetrando em grande parte da conservadora região central da Turquia.
Os analistas disseram que os eleitores perderam a paciência com a crise do custo de vida, impulsionada por uma inflação de quase 70%, e com o estilo político divisionista de Erdogan.
O resultado prejudicou as esperanças do presidente de adotar uma nova Constituição, que poderia estender seu governo para além de 2028, quando termina seu mandato, segundo analistas.
Embora o AKP e seus aliados tenham a maioria no Parlamento, Erdogan precisaria de um apoio mais amplo ou de um referendo bem-sucedido para uma nova Constituição.
Erdogan fez um discurso introspectivo nas primeiras horas desta segunda-feira. “Isso não é um fim para nós, mas, na verdade, um ponto de virada”, disse ele, reconhecendo uma “perda de altitude” para o AKP.
“Se cometemos um erro, vamos corrigi-lo”, disse ele a multidões reunidas na sede do partido em Ancara, sem indicar quais mudanças ele poderia fazer dentro de sua legenda ou em suas medidas.
Erdogan deu uma reviravolta abrupta na política econômica após seu triunfo nas eleições nacionais do ano passado, resultando em aumentos agressivos nos juros para controlar as expectativas de inflação que aumentaram muito com sua postura política pouco ortodoxa vigente por anos.
Ele tem pedido paciência com o crescimento econômico mais lento e com os altos custos dos empréstimos, prometendo uma recuperação ainda neste ano, e o ministro das Finanças, Mehmet Simsek, disse nesta segunda-feira que o projeto atual continuará.
Os candidatos do AKP foram derrotados nas cidades de Istambul e Ancara e até mesmo em redutos profundamente pró-Erdogan, como as províncias de Bursa, Afyonkarahisar e Adiyaman.
O CHP – o partido do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk – obteve cerca de 38% de apoio em todo o país, mais de dois pontos percentuais à frente do AKP e quebrando o teto de 25% de apoio que tem tido neste século.