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Reflexões sobre a “Obamania”

por Alexsandro Rebello Bonatto
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Reflexões sobre a "Obamania"E finalmente Barack Hussein Obama foi empossado como o quadragésimo quarto presidente americano. Digo finalmente porque desde 04 de novembro, quando recebeu a votação histórica que lhe deu a presidência, até o dia 20 de janeiro, dia de sua posse, passaram-se dois meses e meio – que para o resto do mundo foram intermináveis. A crise financeira se intensificou, a Faixa de Gaza foi invadida por Israel, a Europa foi chantageada pela Rússia no caso do gás natural etc.

Claro, nem todas as catástrofes terão que ser resolvidas pelo Mr. President. Contudo, como Obama muito bem pontuou em seu discurso de posse, “os Estados Unidos não podem resolver todos os problemas sozinho, mas o mundo também não consegue resolver os seus problemas sem os Estados Unidos”. Sem dúvida, “you got a point” Mr. Obama.

Como todos sabem, as expectativas quanto ao novo governo são superlativas. Sobre isso, minha avó sempre diz: “o melhor caminho para a frustração são as expectativas”. Talvez estejamos esperando muito de apenas um homem que, mesmo que faça tudo certo (mas tudo mesmo), só verá maiores resultados[bb] no longo prazo.

O interessante é que o próprio Obama alimentou essas expectativas. Tomando apenas a preparação da sua posse, todo o programa foi montado para compará-lo com ninguém menos que Abraham Lincoln, tido pelos americanos como o melhor presidente da história. Só isso já diz muito do homem que o novo presidente é.

Lembro que durante o recrudescimento da crise do subprime, em outubro, com a quebra do Lehmann, discutia-se qual dos dois candidatos, Obama ou McCain, seria o estadista que a América estava procurando. O caso é: um estadista não se conhece de véspera. Grandes estadistas só ganharam este título depois dos eventos, vide Mandela ou Churchill. Este é um julgamento para historiadores e não para adivinhos.

De qualquer forma, superar o presidente anterior, Bush Jr., parece ser fácil. W, como também é conhecido pelos americanos, deixa a Casa Branca como um dos cinco piores presidentes americanos desde a Independência do país, em 1776.

Ele deixa uma verdadeira herança maldita (para usar um termo caro aos petistas): a pior crise econômica desde os anos 30. O desemprego em dezembro chegou a 7,2%, o maior em 16 anos; somente no ano passado 3,1 milhões de imóveis foram retomados por falta de pagamento; a venda de veículos caiu 18%, colocando em risco a sobrevivência das montadoras americanas. Isso para ficar apenas na economia[bb].

Na geopolítica, Bush foi ainda pior: passou 8 anos de braços cruzados assistindo as agressões mútuas entre palestinos e israelenses; não foi capaz de resolver o embaraço que o governo norte-coreano representa para o mundo; deu espaço para os extremistas do Irã continuarem a desestabilizar o Oriente Médio; deixou a Europa Oriental à mercê do belicoso Putin e agüentou calado 8 anos de bravatas de Hugo Chávez.

Na guerra contra o terrorismo, invadiu e desestabilizou o Iraque, não conseguiu dar o mínimo de condições de vida digna aos afegãos, além de ver o ressurgimento do talibã e aterrorizou o mundo com as torturas em Abu Graib e a vergonha da prisão de Guantanamo. Dizem que a história julga e acaba absolvendo os presidentes do passado. Com Bush, a “briga vai ser dura”.

Voltando a Obama, seu início também já se mostrou atribulado, afinal apenas um mês depois de sua eleição veio à tona o escândalo da tentativa de venda de sua vaga no Senado pelo governador de Illinois, Rod Blagojevich – coisa tão rasteira que parece obra no nosso PMDB.

Depois foi o constrangimento da montagem da equipe: teve que livrar-se de um possível secretário de Comércio, que, como governador de Estado, recebera uma contribuição de campanha de uma empresa beneficiada com contratos públicos (alguém aí lembrou das vezes que Lula tinha que aceitar uma indicação do PMDB para algum ministério, mas a imprensa sempre achava alguma falcatrua antes da posse?).

E os nomeados? Timothy Geithner, indicado para a estratégica Secretaria do Tesouro, teve a indicação congelada porque se descobriu que ele sonegou Imposto de Renda e por três meses manteve uma empregada doméstica em condição irregular (bom, aqui já parece picuinha). Depois dele, que se manteve no cargo mesmo assim, outros dois foram desligados por problemas semelhantes.

Sob qualquer ângulo que olhemos, a “briga vai ser boa”. No mercado[bb] já existe a expectativa dos “cem dias” e de como Obama se articulará para dar resultado no curtíssimo prazo. Contudo, fico com a minha avó – expectativas são perigosas. As superlativas então, nem se fala.

Bibliografia:

  • Revista Época, edição 557 de 19 de janeiro de 2009;
  • Revista IstoÉ Dinheiro, edição 589 de 21 de janeiro de 2009;
  • Revista IstoÉ, edição 2.045 de 21 de janeiro de 2009.

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Alexsandro R. Bonatto, economista e com MBA em Gestão Empresarial, é professor universitário, instrutor e sócio da Ventura Corporate, empresa de treinamentos corporativos. Tem mais de 13 anos de experiência no mercado de crédito.

Crédito da foto para stock.xchng.

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