Claudio comenta: “Ricardo, desde que comecei a controlar minha vida financeira muitas coisas mudaram. Pago minhas contas em dia, consigo planejar viagens etc. E, veja, consigo formar uma reserva financeira – justamente o porque do meu e-mail. Meu suado dinheiro hoje está “aplicado” em poupança, mas quero passar a aplicar em produtos mais rentáveis e com segurança. Não confio nos gerentes de banco e fico sempre com aquela impressão de que estão querendo me empurrar produto não muito vantajoso para as economias de minha família. Por exemplo: CDB é uma alternativa interessante? Como posso comparar os investimentos? Afinal, sei a poupança não é o melhor lugar para multiplicar minhas economias”.
A educação financeira realmente propicia uma vida mais tranqüila e equilibrada. Quando conseguimos introduzir seus conceitos em nossa vida, no entanto, é quase certo que rapidamente começarão a surgir novos “problemas” – claro que bem mais “agradáveis” do que dívidas. Trata-se de pensar em onde e porque investir. Já falamos aqui um pouco sobre os gerentes de banco nos artigos “Gerente de Banco: mocinho ou vilão?” e “Você, o gerente bancário e seu dinheiro”. Acredito que a grande maioria desses profissionais não oferece produtos que o cliente precisa e sim o que eles precisam vender, como vendedores que também são.
Mas não se pode generalizar, afinal existem ótimos profissionais no setor. É preciso ficar claro que os bancos são instituições financeiras e possuem finalidade lucrativa – ganham emprestando dinheiro e vendendo produtos financeiros. Como eu e muitas outras pessoas, você já deve ter recebido algumas propostas tentadoras vindas de gerentes, mas que, na prática, são péssimos produtos (para o cliente). O maior exemplo disso são os chamados Títulos de Capitalização (um péssimo negócio).
Partindo da lógica da educação financeira, é importante pontuar que antes de pensar em investimento é extremamente necessário saber o porquê de investir. Isto é, definir um objetivo claro para o investimento. Investir por investir pode funcionar, mas sem metas definidas a tendência é que o investimento seja rapidamente consumido caso alguma moda consumista apareça.
Quais são seus objetivos?
Sabendo qual objetivo seguir (escreva-o em local de grande visibilidade) é importante precificá-lo. Uma casa nova, uma viagem ou mesmo a sua independência financeira são alguns exemplos de objetivos que podem ser avaliados sob a ótica de valor, de números. Tudo tem seu preço e seu tempo.
Ah, o tempo. Pois é, então lembre-se sempre de separar seus sonhos em prazos: curto, médio e longo prazo. Dê especial atenção à premissa básica dos investimentos, que comprova que quanto maior o prazo, menores podem ser os valores alocados para a realização do sonho. Deixe os juros compostos trabalharem por você.
Investimentos e escolhas inteligentes
Desde o último semestre de 2008 e com o fortalecimento da crise internacional o mercado de capitais perdeu um pouco de seu brilho – especialmente se levados em consideração os ganhos imediatos. A volatilidade fez aparecer o alerta que sempre fizemos questão de publicar: o mercado de ações é um mercado de risco. Justamente por isso é chamado de renda variável.
A pujança econômica fez com que os investidores perdessem a cautela e o que se viu foi um festival de desespero e realização de perdas. Mas note que o investidor que realmente estuda e entende o mercado de ações está aproveitando o momento e comprando ações de grandes empresas – que, apesar dos solavancos, devem retomar seu caminho de crescimento após a crise.
Um exemplo: alguém acredita que daqui 10 anos não estaremos consumindo petróleo? Me parece que continuaremos dependendo do ouro negro, e muito. A Petrobrás sabe disso, e mesmo com a crise manteve os investimentos na chamada camada pré-sal – além de investimentos em extração e refino em muitos outros lugares e países.
Direcione seus investimentos
O que as pessoas precisam definir é justamente a direção do investimento, pensando, por exemplo, em uma aposentadoria tranqüila no longo prazo. Por que não aproveitar esse momento destinando de 10% a 30% do seu potencial de investimento para aplicações na bolsa de valores ou clubes/fundos de ações? Pode ser uma grande jogada para o futuro (mais de 7 anos).
A renda fixa também é uma ótima opção para quem tem certo capital para investir e não quer se enveredar pelos riscos da renda variável. Lembre-se que no Brasil temos ainda taxas altíssimas de juros, o que compensa em muito a aplicação. Com a crise financeira, os bancos começaram a ter dificuldade de capitalização, isto é, de tomar dinheiro e emprestar. O crédito se tornou limitado.
Dessa forma, os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) começaram a ter rentabilidades ainda mais interessantes. Os bancos menores chegaram a oferecer rentabilidades acima do CDI (Certificado de Depósito Interbancário – a taxa que os bancos pagam entre si nas suas operações). Escrevemos sobre os CDBs em diversas oportunidades:
- Será a vez do CDB?
- O CDB contra-ataca. E com força!
- CDB: boa alternativa de investimento em 2008?
- CDB e renda fixa podem aliviar a crise?
A comparação desses casos deve ser feita caso a caso e cada pessoa pode e deve cobrar rentabilidades no seu banco de relacionamento. É como o velho ditado: “quem não chora, não mama”. O dinamismo dos investimentos permite que, dependendo do valor que será investido, o investidor tenha acesso a produtos melhores e com rentabilidades maiores.
Lembre-se que o dinheiro é seu e que para que ele cresça seu envolvimento é fundamental. Uma última dica que considero muito importante: não descarte totalmente a caderneta de poupança. Principalmente para fazer dela sua reserva financeira para momentos de emergência. Ela lhe garantirá liquidez imediata e conta com garantia de R$ 60 mil do FGC (Fundo Garantidor de Crédito).
Esse fundo de reserva deve ser criado para que, em momentos de turbulência financeira, você possa recorrer ao capital lá colocado para sobreviver, não atrapalhando seus investimentos e, conseqüentemente, seus sonhos. Bons investimentos!
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Ricardo Pereira é educador financeiro e palestrante credenciado pelo Instituto DiSOP, trabalhou no Banco de Investimentos Credit Suisse First Boston e edita a seção de Economia do Dinheirama.
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