Guilherme escreveu: “Navarro, como já é de nosso conhecimento a compra de um carro não é ivestimento, mas para muitos de nós ele é uma necessidade. Gostaria de ler um artigo seu sobre esse assunto. Qual a melhor maneira de manter um automóvel”?
Olá Guilherme, obrigado pela visita e por deixar sua mensagem. O artigo “Carro não é investimento. Ponto” foi um dos mais procurados no Dinheirama e é fácil entender tamanho interesse. Carro ultimamente tem sido (apenas) sinônimo de diferenciação social. Para a maioria das pessoas ele é um eficiente sinal de status, um instrumento de conforto. Não há absolutamente nada de errado nisso, desde que sejam respeitadas as realidades de cada um. Eu sou eu, você é você e o Ronaldinho é o Ronaldinho.
Não interessa se a concessionária oferece pagamentos em “enésimas prestações”. Você precisa ter condições de manter esse sonho ou corre o risco de vê-lo transformar-se em um pesadelo. Algumas perguntas elaboradas pela especialista Elaine Toledo demonstram como é fácil exercitar sua capacidade de raciocínio ao decidir pela compra de um novo automóvel. Experimente respondê-las:
1. Por que eu preciso de um carro?
2. Quanto dinheiro tenho disponível para comprar um carro?
3. Qual a reserva mensal que tenho disponível para as parcelas de um financiamento?
4. Que tipo de carro quero comprar?
5. A compra será à vista ou financiada?
6. Se a compra for financiada, qual o valor final do automóvel?
7. Tenho consciência das despesas que passarei a ter após a aquisição de um carro?
Onde focar?
As perguntas de 1 a 5 são bastante pessoais e justamente por isso, são as mais importantes. Sugiro que passe mais tempo se preocupando com essas primeiras questões e por consequência o valor final do carro (6) e as despesas de manutenção (7) serão mais interessantes para o seu bolso. Carro não é algo que todo mundo pode ter e comprá-lo com inteligência não significa apenas saber se as parcelas do financiamento caberão ou não no seu bolso. Comprar um carro é ótimo. Melhor que isso é poder aproveitá-lo por completo.
Uma visão de negócio
Fulano comprou um carro e paga uma parcela mensal de R$ 500,00 de seu financiamento. Além disso, ele gasta outros R$ 500,00 mensais com despesas gerais e de combustível. O carro foi comprado para que ele pudesse levar seus produtos até uma nova clientela e com este movimento poder aumentar sua receita em R$ 1500,00. Deixando de lado a entrada e o prazo do financiamento, vemos que o retorno com a compra do carro será suficiente para cobrir seus juros despesas.
Ainda que o carro se desvalorize, ele trouxe resultado ao negócio do Fulano. O valor residual poderá servir de entrada para um novo veículo, maior quem sabe. Isso, caro leitor, chama-se inteligência financeira. Peço aos chatos de plantão que me poupem. Não entrem em detalhes e perguntas sobre quanto custou isso, aquilo, quanto tempo ele terá para pagar, riscos e incertezas do negócio etc. Tenho certeza de que todos entenderam o recado. Obrigado.
Mas a vida não é assim
Sabendo que para um cidadão comum carro não é investimento, você precisa prestar ainda mais atenção às premissas do negócio e aos resultados dele provenientes. Por que é que as pessoas entram em tantos detalhes quando é para comprar um carro para a empresa e compra seu carro particular com tanto descaso? Carro não é só o dinheiro gasto para colocá-lo na garagem. Com o carro, aparecem algumas “coisinhas” extras:
- Licenciamento: todo ano você terá que pagar IPVA, taxa de licenciamento e seguro obrigatório. São as boas vindas do Brasil aos proprietários de carros.
- Seguro: claro que você não quer que seu carro seja roubado, não é mesmo? Algumas pessoas arriscam e podem ficar sem o carro. Pior, o carro pode sumir, mas o carnê não. Já pensou?
- Manutenção periódica: as revisões normalmente não são baratas, mesmo naquele seu amigo da rua de trás. Tudo custa dinheiro. Um barulhinho aqui, uma peça que desgasta ali, um pneu careca, o óleo que acabou. Quem vai dar um jeito isso?
- Estacionamento: a rua nem sempre tem lugar. As vezes ela é perigosa. Enquanto trabalha, você precisa deixar seu carro estacionado com segurança. Quem sabe não falta uma garagem em sua casa e o carro acaba por ter que “dormir” acompanhado. Esses serviços não são gratuitos.
Comprar é o mais fácil. E depois?
A concessionária e o crédito são a parte fácil. O resto é quem são elas (acho que ouvi isso em alguma novela). Todos estes novos gastos terão que (agora sim) “caber” no seu orçamento mensal. Suas despesas de telefone, água, luz e supermercado vão continuar acontecendo. Não se iluda com a impressão de que o carro pode ser muito interessante em relação ao aperto do ônibus ou do metrô. Faça muito bem as contas, ou poderá trocar o aperto e a dor nas ancas do transporte público pela dor no bolso. Se não é hora de ter um carro, contenha-se.
Eu, Navarro, destruidor de sonhos e desejos, recomendo que você: esqueça o vizinho que tem o carro que você tanto quer, deixe pra lá o tesão momentâneo pelo novo modelo que acaba de ser lançado e combata o imediatismo doente dos dias de hoje. Prefira aprender com o vizinho (“é ruim hein”?). Poupe, crie uma reserva financeira confortável e negocie sempre à vista. Carro novo ou carro usado, isso não vem ao caso agora.
Preste atenção. Se comprar um carro de R$ 30.000,00 para uma pessoa que ganha R$ 500,00 é algo muito difícil, o mesmo vale para quem quer comprar um carro de R$ 300.000,00 e ganha R$ 5.000,00. A comparação pode parecer idiota, mas reflete o tamanho do passo que algumas pessoas insistem em dar. Sim, existem prestações possíveis para ambos os casos, mas onde fica a inteligência emocional e financeira?
Como os milhões de especialistas não cansam de dizer: o importante não é quanto você ganha, mas quanto você gasta. Esses dias ouvi até a Gisele Bündchen falando isso. Se ela acredita nisso, imagina eu. Além disso e com todo o respeito, uma moto ou uma bicicleta podem muito bem resolver o seu problema. Nem por isso o raciocínio será diferente. Compre a moto ou a bike usando o mesmo pensamento disposto neste artigo. Pense bem. Conte comigo.