Sandra comenta: “Navarro, os assuntos técnicos são sempre muito bem abordados no Dinheirama, mas o motivo deste contato é outro: priorizar a questão financeira não é nada fácil para nossa família, especialmente porque são muitos os afazeres por aqui. Sei que o problema é mesmo de atitude e é comigo. Queria ouvir (ler) suas palavras sobre isso – elas sempre ajudam –, para, quem sabe, finalmente agir. Obrigada pela força”.
Discutir a necessidade de atenção no dia-a-dia é uma tarefa deliciosa. Sim, porque é sempre fácil encontrar áreas, temas e tarefas que merecem muito mais atenção de nossa parte e que são comumente deixados de lado por conta de justificativas tolas, simplistas e, na maioria das vezes, simplesmente incoerentes. A falta de tempo é o exemplo clássico de uma desculpa derivada da falta de atenção. E, como você já sabe, a questão vai muito além do lado financeiro. Abro parêntesis para Roberto Adami Tranjan, autor de “Rico de Verdade” (Editora Gente):
“Melhor do que colocar a atenção num futuro ameaçador, que pode se transformar em infinita espera, é manter a atenção no presente e torná-lo intenso em todos os sentidos. Significa um viver atento. Empenhar-se no trabalho para que seja realizado com alto nível de excelência. Preparar-se para receber um cliente como se recebe um convidado especial e querido para uma festa em casa. Dedicar-se a produzir um relatório como se fosse uma obra de arte. Relacionar-se com o dinheiro com total atenção e interesse”
Repare como a mensagem aborda bem a questão paralisante da dúvida diante das alternativas para um futuro tranqüilo. A comodidade infelizmente transforma a frase do autor em “vamos viver o agora, já que não é possível prever o futuro”. Tudo errado. O autor quer dizer que o medo de não chegar lá deve servir de impulso para fazer do presente o momento para fazermos tudo muito bem feito – inclusive o controle e planejamento financeiro.
1. Será que estou fazendo o que não precisa ser feito?
A pergunta pode ser simplesmente traduzida por: estou fazendo aquilo que interessa? Se não, por que não? Se falta energia e motivação para lidar com as finanças da casa é porque anda sobrando para algo que talvez nem seja tão relevante. Novela? Futebol? Cachaça? Lembre-se que você não precisa abrir mão das coisas que gosta, mas é imperativo que haja espaço em sua agenda para as coisas realmente importantes – dinheiro, não tente negar, é das que merecem o topo desta lista.
2. Alguém pode fazer isso por mim? Quem? Quando?
Delegar é um ato comum na vida corporativa. Na vida pessoal das pessoas organizadas, também. Você pode estar sobrecarregado simplesmente porque não questiona a hierarquia doméstica e se sujeita ao já institucionalizado funcionamento da casa. Isso significa apaziguar e resolver problemas que poderiam, sem sombra de dúvida, estar “no colo” de outra pessoa. Tenho certeza de que você entendeu o recado.
3. Posso fazer algo mais?
O esforço além da medida confortável é pouco valorizado em nossa cultura. O tempo livre, infelizmente, é só tempo livre. Ora, será que sacrificar poucas horas do domingo para uma reunião familiar que trate de dinheiro vai mesmo influenciar tão negativamente o dia-a-dia do lar? E por que não abrir mão de algumas horas de navegação na Internet para atualizar o orçamento? Se as desculpas forem mais fortes que a vontade de mudar, acende-se a luz do perigoso piloto automático, você se acomoda e, advinhe, sobram as desculpas esfarrapadas.
Já dedicamos inúmeras mensagens e artigos aos mecanismos de controle financeiro, possibilidades de investimento, alternativas de planejamento e práticas para uma vida financeira mais equilibrada. Acontece que, em muitos casos, tudo isso simplesmente vira mais uma informação em meio aos muitos prazeres da vida, perdendo sua relevância. A mudança de comportamento sugere mais trabalho que o continuísmo social.
Portanto, quando você se ver angustiado(a) por não tratar bem o seu dinheiro, lembre-se das inúmeras vezes em que abdicou de necessários momentos de atenção aos pontos relevantes de sua vida para simplesmente viver o presente como uma saída para os problemas arrastados do passado. Depois, ainda dormiu exausto, sem qualquer remorso ou sentimento de culpa.
Acontece que o dia amanhece, o futuro se coloca presente e o presente torna-se o novo desafio – agora sim, repleto de culpa. Encará-lo com seriedade significa definir e respeitar prioridades, com atitude e energia para também deixar de lado tudo o que for necessário, ainda que menos aplausos ou sorrisos você dê ou receba. A felicidade, afinal, está em poder dormir e acordar tranqüilo. Que baita desafio, não?
——
Conrado Navarro, educador financeiro, formado em Computação com MBA em Finanças e mestrando em Produção, Economia e Finanças pela UNIFEI, é sócio-fundador do Dinheirama. Atingiu sua independência financeira antes dos 30 anos e adora motivar seus amigos e leitores a encarar o mesmo desafio. Ministra cursos de educação financeira e atua como consultor independente.
Crédito da foto para stock.xchng.