O ano de 2016 realmente não está fácil. A mais recente pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) sobre trabalho, que leva em conta o final do mês de abril, aponta número recorde no desemprego.
O país já tem 11,4 milhões de pessoas desempregadas, montante também recorde na série histórica. No período de um ano, 3,3 milhões de pessoas foram levadas à fila do desemprego, o que representa um crescimento de 42,1% ante o trimestre encerrado em abril do ano passado.
O desemprego é, sem dúvidas, um dos pontos mais perversos da crise, pois vai corroendo a esperança das pessoas aos poucos, dia após dia. Com o desemprego, outro fenômeno cruel começa a assombrar a vida de muita gente: o superendividamento.
O problema do superendividamento é tão representativo que diariamente recebemos algumas dezenas de e-mails de pessoas relatando problemas graves a partir de dívidas que ficaram fora de controle. Outro fato como a situação merece atenção é o surgimento de núcleos ligados a órgãos de defesa do consumidor, como a Fundação Procon, para lidar com os superendividados.
Com o passar dos anos, trabalhando todos os dias com educação financeira, aprendi algumas lições que se adequam muito ao atual cenário do país. São 5 lições que as pessoas que vivem o superendividamento precisam saber. Convido você, leitor que passa por esse problema ou conhece alguém que viva esse drama, para que acompanhe o texto e nos ajude a divulgá-lo.
Lição número 1: A dívida não vai acabar em um passe de mágica
É comum quando passamos por um problema, independente de qual ordem, buscarmos algumas soluções imediatistas para resolver a situação. Surgiu um problema de saúde, por exemplo, costumamos nos automedicar.
Em outras situações, recorremos a profissionais nem sempre qualificados para assuntos importantes (quem não prefere recorrer ao primo nerd para resolver os problemas do computador em vez de pagar um técnico).
Quando o assunto é dívida, a primeira grande lição é perceber que não existe mágica; não existe facilidade e tudo só vai começara a fazer sentido a partir do momento que o superendividado perceber que ele é o principal responsável pelo momento atual, visto que é comum buscarmos desculpas para os erros que cometemos.
A partir do momento que a ficha cair e o erro for assimilado, é hora de juntar os cacos e partir para a ação. É necessário planejar, dentro do atual cenário, a melhor forma de pagar as dívidas com praticidade e pés no chão. Hoje a internet é celeiro de arapucas diversas, portanto, não acredite em empresas ou profissionais que afirmam que irão “apagar suas dívidas” ou algo do gênero. Isso não existe, é golpe!
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Lição número 2: Olhe seu orçamento e corte despesas para pagar suas dívidas
Quem está superendividado, certamente não ficou assim da noite para o dia. Na maioria dos casos, a dívida foi crescendo durante alguns meses. Não existe melhor definição do que a “bola de neve”, que vai crescendo e, aos poucos, ganhando força e volume, até ser impossível de ser controlada.
A bola de neve passou por cima de tudo, agora é o momento de priorizar o pagamento das dívidas, e uma das formas de não aumentar ainda mais o problema – e ao mesmo tempo ganhar fôlego para quitar as dívidas – é cortar despesas.
O endividado precisa estar ciente de que durante algum tempo o foco será todo voltado para o pagamento de dívidas. Corte tudo o que não for essencial, tudo mesmo! Lembre-se da lição anterior: não existe facilidade para superar um problema tão sério.
Lição 3: Busque alternativas para aumentar sua renda
Quase todo mundo sabe fazer várias coisas diferentes. Hoje mesmo, durante o dia, conheci um personal trainer que, após perder seus clientes fixos (por conta da crise), começou a reunir algumas pessoas em uma praça e, com preços acessíveis, conduzia aulas de Crossfit, pilates e etc.
Outras pessoas que passaram por momentos de crise com dívidas aproveitaram oportunidades e se tornaram motoristas do Uber ou passaram a alugar quartos disponíveis na própria casa via airbnb. Outros começaram a fazer doces ou salgados para vender. A criatividade é sem dúvida um dos elementos mais importantes na hora de buscar alternativas para aumentar a renda.
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Lição 4: Negocie, mas sempre cumpra seus acordos
Conheci algumas pessoas que passaram por graves problemas ao longo da vida, que os levaram ao superendividamento. Em todos os casos onde houve solução do problema, as pessoas assumiram seus erros e partiram para a ação, “cortando na carne” e focando em criar oportunidades, que no médio e longo prazo, além de produzirem uma solução para o endividamento, também fossem capaz de transformá-las em consumidores e investidores conscientes.
Para isso, uma das lições mais importantes é tomar a iniciativa de negociar uma solução para o pagamento da dívida. Vale ressaltar que, nesse ponto, o poder estará sempre ao lado do devedor, pois não existe alguém mais interessado em receber do que o credor.
Seja realista, ofereça um acordo que seja factível para o atual momento de sua vida e faça de tudo para cumprir o que for combinado. Se o acordo não for possível, os órgãos de defesa do consumidor estarão sempre aptos a intermediar soluções que funcionem para devedores e credores.
Portanto, seja detalhista, e ao enviar uma proposta ao credor, faça-o em duas vias, para que tenha um protocolo. Quando a conversa for ao telefone, anote tudo nos mínimos detalhes (nomes, dia, horário) e tudo o que for combinado precisa ser anotado e guardado em local seguro.
Lição 5: Dívida não caduca depois de 5 anos
Esse papo de que as dívidas caducam depois de 5 anos é praticamente uma lenda urbana, algo que muita gente acaba considerando como real, mas que está longe da verdade.
Depois de um determinado tempo com dívidas em atraso, as empresas que possuem valores a receber enviam para as associações de proteção ao crédito e cartórios protestos em nome daqueles que estão devendo.
De acordo com a atual legislação, as restrições inseridas nesses órgãos de proteção ao crédito só podem manter o registro do devedor por 5 anos. Que fique claro que não existe perdão às dívidas ou algo do gênero. Apenas e tão somente a dívida é retirada dos sistemas, mas nada impede que os credores acionem as dívidas em juízo ou mesmo repassem a cobrança para empresas especializadas nisso.
Mais uma vez, vale a lembrança do que foi escrito no início desse texto: não existe solução fácil. Se você possui alguma dívida, você só aprenderá a lição de fato quando resolver o problema, fazendo uma boa negociação e honrando seu nome com o pagamento.
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Conclusão
Mais do que nunca, este é o momento de importantes reflexões sobre o futuro do país e o quanto podemos transformar nossas vidas a partir da prática constante da educação financeira como um estilo de vida.
O superendividamento é um grave problema, que só aumenta quando o deixamos de lado e optamos por empurrá-lo com a barriga. O alerta é sério porque no Brasil precisamos conviver com juros insanos, que acabam por transformar em pouco tempo uma dívida pequena em um problema que poderá nos acompanhar por um longo período da vida.
Gaste sempre menos do que você ganha e não tenha vergonha de construir e conquistar seus objetivos ao longo do tempo, de forma organizada e com base em prioridades. Até a próxima!