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Preciso sempre querer mais? Não posso estar satisfeito?

por Renato De Vuono
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Recentemente recebi um e-mail curioso cujo o assunto era “Tem algo errado em ser medíocre?” – quem me mandou foi o Edmílson, que, infelizmente, não disse mais nada sobre ele.

O assunto me chamou a atenção e li todo o texto, que não era muito longo. Em resumo, o nosso leitor me questionou o seguinte:

“Acompanho seus textos e vídeos desde o Café com Finanças e sempre gostei da maioria deles, mas percebo que vocês (educadores financeiros) sempre falam de sucesso, ganhar mais e mais, não se acomodar e isso me perturba um pouco. Quer dizer que não posso estar satisfeito com minha vida, preciso sempre querer mais?”

Como é de costume, respondi o e-mail com um sonoro “Não”. Você não precisa e, para mim, nem deve querer sempre mais. Aliás, é um enorme privilégio estar satisfeito com sua vida. A maioria absoluta de nós vai passar a existência toda procurando exatamente essa satisfação.

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Contentamento e felicidade

Isso me leva a um conceito que, sempre que eu tenho chance, trago para a pauta, que é a noção de “felicidade versus contentamento”. E, numa dessas coincidências da vida, certa vez li uma entrevista com o cantor britânico Billy Joel e ele disse algo assim:

“Estou contente com minha vida, e não há nada errado nisso. Felicidade é um estado extremo, como a tristeza. Ninguém fica feliz nem triste o tempo todo, pois simplesmente não é natural.

O mundo ocidental tem aversão ao contentamento pois o confundem com comodismo, daí essa frustração geral pois a busca se concentra em algo idealizado e muito efêmero, quando o contentamento é algo real e que pode ser duradouro. Estou contente com minha vida, pois sabemos como a condição humana pode ser miserável”

Houve alguma licença poética, pois não me lembro exatamente do que ele disse, mas a essência está aí. Isso, por si só, já responde ao e-mail do amigo Edmílson e o que eu, Renato, penso sobre o assunto.

Falamos repetidamente sobre gratidão, mas é impossível ser grato sem estar satisfeito. E há de fato essa neurose coletiva sobre estar satisfeito com o que se tem. Ao mesmo tempo que se fala muito de gratidão, muito pouco se pratica; sempre querer mais e melhor é visto como padrão de comportamento esperado.

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Não minta para si mesmo

É importante também não mentir para si mesmo. Não adianta repetir mil vezes que está satisfeito com o que tem, que suas aspirações param por aí, mas a todo momento amaldiçoar aqueles que conquistam mais do que você ou reclamar da vida, do governo, da falta de dinheiro e por aí vai.

Se você está de fato contente, não há do que reclamar. Não há porque se vitimizar se a vida é boa, e ponto!

Portanto, se acomodar não tem nada de errado, desde que esta decisão seja genuína e se tenha em mente que se há benesses, claro que também existem consequências. Caso esteja tudo bem com os dois lados da moeda, vida plena é o que vale.

Estar contente não é acomodar-se

Ao mesmo tempo que acomodar-se não é errado e nem ruim, estar contente não significa (nem de longe) acomodar-se. Falando de mim: embora eu não seja financeiramente o cara mais rico do bairro, nem sequer do prédio em que moro, do ponto de vista material, sou uma pessoa satisfeita.

Mesmo com a plena consciência que não posso ter tudo, eu e minha esposa já conquistamos muito além de nossos sonhos. Quando perguntado “o que quero ganhar de aniversário?”, minha resposta é sempre a mesma: “não sei, me surpreenda”.

Sei que parece demagogia, mas, do alto dos meus quase 40 anos, para mim ficou claro que, depois de determinado ponto, carro bom é aquele que proporciona conforto, segurança, seja confiável e custe pouco para manter.

Vinho bom é aquele que eu gosto, e não o que o “master bonzão dos vinhos” diz que é o melhor. O sommelier pode entender de vinho, mas não entende lhufas do meu paladar e da minha vida.

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Mais do que ter, eu quero ser

Assim, do ponto de vista material, pode me chamar de acomodado (isso não seria mentira). Mas a parte material é só um pedaço muito pequeno da vida. Eu tenho muito a conquistar além disso: quero, até meu último suspiro, chegar o mais próximo possível da minha melhor versão.

Partindo dessa premissa, quero ser o “melhor eu”, para ser o melhor pai, melhor marido, melhor amigo e deixar algo relevante para esse mundo complicado. Nessa caminhada, quero ajudar a transformar vidas através da Psicanálise aliada à Educação Financeira.

Como pode ver amigo, ainda tenho muito a fazer. Vai vir mais dinheiro com tudo isso? É provável que sim. Mas não é mais o que me motiva. Sim, um dia o dinheiro já me motivou (muito) e também tive meus dias de consumista. Talvez por ter experimentado tudo isso, eu tenha alguma propriedade para escrever esse texto para você hoje.

Conclusão

Por fim, o ponto central é: não há certo e nem errado. Você pode estar satisfeito financeiramente, mas ainda em busca de outras realizações. Você pode estar satisfeito com tudo e acomodar-se; você pode simplesmente não concordar com nada do que eu falei.

O que não vale é ficar atrás das fórmulas prontas, do que os outros (seja eu ou o Papa) pensam, do que a sociedade espera. Não entre nessa. O que vale é o que você sente, o que você pensa.

A internet está cheia de “gurus” dizendo o que você deve pensar, como de se sentir, vestir, viver! Como se houvesse uma fórmula ou regra que servisse para todo mundo, quando justamente a diferença e a complexidade das pessoas é que fazem da vida algo tão interessante.

Seja o que for que você quer para a sua vida, liberte-se! Somente a liberdade mental é que nos permite evoluir e, assim, conquistar as coisas que nos movem todos os dias, mesmo que essa conquista seja aproveitar o que já se tem.

Ler, ouvir, aprender é fundamental, mas apenas como caminho para formar sua própria opinião e construir sua própria história (e patrimônio, por que não?). Pronto para quebrar as amarras mentais? Um abraço e até breve!

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