Você pode ainda não ter percebido, mas uma nova guerra mundial já começou. E ao contrário das anteriores, desta vez os estrondos não vêm das explosões e das armas de fogo.
Tão ensurdecedores quanto os disparos, os ruídos desta nova guerra vêm da propaganda em massa na TV, da mídia impressa e da Internet. É a guerra da propaganda. Tudo com um objetivo bem claro: influenciar você.
Embora às vezes sejamos cheios de certezas e nos julguemos como sendo racionais, muito de nosso comportamento é motivado por fatores emocionais e subjetivos. Já escrevi um artigo sobre este assunto, inclusive.
A necessidade de o ser humano pertencer e agir conforme um grupo é muito poderosa. Espelhamos o comportamento de nossos pares nas esferas social, de interesses, etc; e nem nos damos conta disso.
Levar estas massas a pensar de uma determinada maneira é a chave para que mais dinheiro seja obtido – seja através da venda de um produto ou obtenção de poder político, que está intimamente ligado ao controle do dinheiro.
A linha entre a informação pura (e despretensiosa) da mercenária manipulação midiática costuma ser bastante tênue. Como fazer, então, para discernir o que é verdadeiro do que é “plantado”?
Mesmo quando não há interesses escusos em divulgar alguma informação, ela pode refletir apenas a realidade ou o ponto de vista do escritor.
Não há manual de instruções para o paradoxo mundo de múltiplas realidades distintas. O único remédio é tomar uma atitude ativa com relação às notícias e fundamentar a sua própria realidade.
Conhecer o que está em jogo nesta guerra de informações é o primeiro passo para não ser alvejado por ela. Como diz a sabedoria popular, a verdade pode ser encontrada se seguirmos o caminho do dinheiro. Vamos percorrer um pouco deste caminho.
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Como a indústria nos engana
Paremos para pensar: será que realmente consumimos os melhores produtos, os mais baratos ou de melhor custo benefício? Ou compramos o que está na moda, nos comerciais, ou o que nos traz mais status social?
Se você acha que suas escolhas são autônomas e racionais, talvez você esteja negligenciando a força do marketing dos fabricantes sobre você.
É evidente que nem sempre as ações de marketing são para enganar os consumidores, mas sim para fazer você perceber (ou seja, construir a sua realidade) que o produto anunciado é o melhor para você comprar.
Vejamos um exemplo menos óbvio do poder do dinheiro. Você sabia que, de 30% a 40% do que a indústria farmacêutica fatura, é revertido em marketing – em sua maioria, para médicos?
Vamos desconsiderar os casos ilegais de conflito de interesse, quando os médicos recebem ao receitar um produto de determinado fabricante.
Mesmo com os estudos de eficácia financiados pelas próprias indústrias, os médicos precisam ficar sabendo da existência e dos benefícios de um novo medicamento.
A construção desta realidade nos profissionais de saúde é feita com o dinheiro de marketing dos fabricantes. E, se o médico diz que o produto é bom, é quase certo que este sentimento será refletido nos pacientes leigos.
O que fazer, então, para não engolir (literalmente) sempre o que é receitado? Conteste sempre: informe-se, leia a bula, pergunte ao seu médico, procure outros profissionais.
Será mesmo que o medicamento mais caro é o melhor? Você realmente precisa operar e se submeter aos riscos daquela cirurgia prescrita? Embora a regra seja confiar no profissional de saúde, eu costumo contestar bastante as decisões deles que não entendo.
Já evitei uma cirurgia no ombro (indicada para uma doença diagnosticada com erro, inclusive), cujo problema foi resolvido apenas com exercícios físicos. Já evitei remédios prescritos para minha esposa, que estava grávida e não poderia consumi-los, segundo a bula do medicamento.
Também sempre fui cético sobre a prescrição de homeopáticos, que costuma ser feita mesmo com os medicamentos não possuindo comprovação científica. Esta informação, inclusive, agora é obrigatória nos rótulos destes medicamentos nos EUA.
Esta não é uma crítica específica à indústria de medicamentos. Em todo o lugar, se há dinheiro envolvido, haverá uma tentativa de persuadir os consumidores a comprar. Uma coisa não vive sem a outra.
O importante é que você procure se informar, para levar os melhores produtos para você, não somente para o fabricante.
Leitura recomendada: Comprou e se arrependeu? A culpa é sua (e não do marketing)
Como os políticos e o governo nos enganam
Chegamos então nos mestres da manipulação da informação. Bilhões de reais são gastos com agências de propaganda, marqueteiros políticos e meios de comunicação.
Tudo para ter o seu apoio. Não importa qual a sua orientação partidária: esta é a regra do jogo. Dentro de uma democracia, não há político que resista à falta de apoio popular. Dinheiro traz aprovação política. E o poder político, como sabemos, traz mais dinheiro para quem está no comando do jogo.
O dinheiro dos políticos (ou seria o nosso próprio dinheiro?) é usado para ganhar eleições, vangloriar os feitos dos governantes e fazer você acreditar que um projeto político é bom para você.
Acredito ser importante que você tenha uma orientação partidária. Mas nenhuma ideologia política deveria merecer o seu salvo-conduto incondicional. Não é porque um projeto é de “esquerda” ou de “direita” que ele será automaticamente ruim ou bom.
Esta forma de pensar, inclusive, atrapalha muito a discussão política e atrasa os avanços de nosso país. Quantos projetos de qualidade já foram abandonados no Brasil, simplesmente por serem de autoria da oposição?
O que os políticos merecem é a nossa constante e inesgotável vigília. E só conseguimos cobrá-los se nos mantivermos informados e com nossa própria opinião construída a respeito do mundo.
Veja um exemplo interessante. Em 2008, eu estava em viagem de trabalho na China. Achei interessante um cartaz do hotel que dizia, em inglês, que alguns sites não funcionavam devido ao bloqueio do governo chinês. Apesar da indignação, nenhuma novidade até aqui.
A surpresa, porém, veio quase dez anos depois, quando resolvi brincar com o cartaz. Como não entendo uma palavra sequer neste idioma, coloquei o texto em chinês no Google Translator (que evidentemente não existia na época). Compare a sutil diferença no sentido da frase: “Devido as limitações de alguns sites estrangeiros… (eles) não podem ser abertos com sucesso”.
Ou seja, a mensagem para os chineses é: os sites estrangeiros não funcionam aqui, mas é porque eles são ruins! Claro que o exemplo é extremo de limitações de um regime comunista. Mas você duvida que existe isso no Brasil?
Não esqueçamos das incontáveis eleições e aprovações políticas que são ganhas através da manipulação da opinião dos desinformados.
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Como os famosos nos enganam
Seguir as sugestões de compras dos famosos pode levar você a cair em algumas falácias. Ao relacionar a imagem dos famosos com seus produtos, os fabricantes constituem depoimentos suficientemente endossados para que você compre os seus produtos, mesmo de maneira inconsciente.
Vejamos um exemplo de um jogador de futebol, que anuncia uma determinada marca de shampoo. Poderíamos pensar assim:
- O jogador é famoso, tem um monte de mulheres no seu pé. Se ele usa este shampoo, então tenho que o seguir!
- Olha só, o jogador usa este shampoo! Se ele, que é famoso, usa esta marca, como que eu não usaria? É lógico que é bom!
Ao pensarmos deste modo, negligenciamos diversos fatores. A mais óbvia é a questão não-financeira: que relação existe entre a fama, o dinheiro, e as mulheres do famoso com o shampoo que ele usa? Ao contrário de nós, mesmo se ele nunca usasse shampoo algum, ainda assim haveriam interessadas.
A razão financeira é também deixada de lado. Será mesmo que o jogador, famoso e com muito dinheiro, realmente usa o shampoo de marca popular?
A bela grana recebida para estampar a sua imagem no comercial do shampoo compensa o falso testemunho… Mesmo entre subcelebridades, onde o cachê não atinge estas proporções, a chamada “permuta” é a postura mais frequente.
Pela indicação dos produtos, o pseudo-famoso usa os produtos da marca sem pagar nada. Pelo menos estes são mais sinceros que os famosos, já que vão mesmo utilizar o produto que estão recomendando.
Não caia no papo dos famosos. A cueca do jogador ou a maquiagem da modelo não nos farão mais bonitos ou atraentes. Infelizmente.
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Como a mídia nos engana
Em tempos de guerra política nas redes sociais, você pode já ter encontrado uma “informação” muito diferente do que você imaginava, vinda de blogs não muito famosos.
Descobriu-se, depois, que alguns destes blogs eram patrocinados (com verba pública, claro) para escrever favoravelmente aos interesses e posicionamentos do antigo governo.
Figuras públicas contrárias ao projeto de governo foram massacradas, em caráter pessoal, por alguns destes blogs. Como prega uma máxima da política, quando não dá para se destruir o argumento, tenta-se destruir o argumentador.
Mas não se engane: não existe nenhum partido santo. Nem mesmo podem ser encontrados meios de comunicação com editoriais totalmente isentos de interesse.
Um exemplo para você refletir: será que as emissoras de TV teriam interesse no projeto de limitação da banda larga no país?
Fatalmente, nem toda notícia agrada o posicionamento do meio de comunicação. Enquanto alguns deles são de orientação política totalmente declarada, outros são mais velados neste aspecto. Deixar mais espaço para matérias de interesse da casa, relegando espaços menores para outras pautas, é uma maneira de se parecer isento.
Se você procurar por “manipulação da mídia” no Google, vai acabar caindo em algum blog de esquerda, que acredita que o Estado deva intervir no controle da difusão da informação. Segundo eles, os grandes meios de informação são os culpados por grande parte dos males da sociedade.
Definitivamente, não acho que seja o caso. Como também acredito que não há nenhum meio dito de “direita” que seja imune de qualquer conflito de interesse entre a informação pura e os possíveis ganhos de uma divulgação manipulada.
Porém, mais importante que a minha opinião, é que você construa a sua própria.
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Conclusão
Pude aprender que o conhecimento é a principal forma de liberdade que um cidadão pode ter. Somente o conhecimento possibilita a imunidade contra os interesses e propagandas de políticos, governos e muitas outras entidades com interesses alheios aos nossos.
Para os bem informados, a oferta do banco deixa de ser tão vantajosa assim. O “sem juros” do parcelamento da loja passa a não ter nenhum sentido.
O governo, que era bonzinho, se revela uma enorme máquina com o único interesse de conseguir apoio dos mais necessitados. Os alimentos embutidos, anunciados pela famosa, passam a não ser a escolha de comida saudável para se colocar na mesa da família…
É possível se manter informado através de muita leitura, com filtro bastante apurado quanto à qualidade da notícia. Se você não gosta de ler, tudo bem. É um direito seu; mas, automaticamente, você está concordando que passem você para trás.
Que este artigo seja o começo de uma nova maneira de pensar e analisar o mundo, considerando os interesses financeiros daqueles que fazem a informação chegar até você.
Como sabiamente narra a escritora AynRand: “Você pode ignorar a realidade, mas não pode ignorar as consequências de ignorar a realidade”. Um abraço e até a próxima semana!