Brito comenta: “Navarro, reparei que você sempre fala da importância de conhecer o produto bancário antes de contratá-lo e gostaria de propor um tema: que tal falar sobre os fundos de investimento e seus pontos principais? Minha idéia é ver publicado um simples raio X desse produto e dicas a respeito dos itens que merecem maior atenção. Estou quase investindo em um fundo de ações, mas antes quero saber interpretar o que li. Obrigado”.
Brito, você tem razão. Sou um chato quando se trata de assinar ou aceitar um contrato sem ao menos lê-lo parcialmente. Todo fundo de investimento tem um prospecto e o chamado termo de adesão. Ambos são partes muito importantes e que merecem toda a atenção possível de nossa parte. Mas quem realmente lê estes documentos? Será que só eu? Optei por dividir o artigo em duas partes, já que o texto ficou um pouco extenso. A segunda parte, que tratará das dicas, estará no ar amanhã. Espero poder contribuir para sua decisão frente ao fundo bancário alvo de sua investigação.
O básico
Um fundo de investimentos nada mais é que uma concentração de dinheiro capaz de lidar com melhores oportunidades de negócios. Um grupo de investidores têm maior “poder de fogo” que uma ou outra atividade individual. Quanto mais dinheiro, melhor é o poder de negociação e a chance de obter maior rentabilidade. A instrução 409, de agosto de 2004, publicada pela CVM resume bem o que quero dizer:
“O fundo de investimento é uma comunhão de recursos, constituída sob a forma de condomínio, destinada à aplicação em títulos e valores mobiliários, bem como em quaisquer outros ativos disponíveis no mercado financeiro e de capitais”
O que são as cotas?
Ao realizar o seu aporte, o valor aplicado é convertido em cotas, usando a simples divisão entre o total aplicado e o valor da cota naquela data. Em resumo, cotas são frações do fundo que pertencem ao investidor. As cotas têm seu valor alterado diariamente, de acordo com a rentabilidade do fundo e sua soma representa o patrimônio total do fundo (duh!). Vejamos uma pequena ilustração que explica como funciona um fundo de investimento:
E as taxas de administração, performance, IR etc?
Alguém tem que gerir as aplicações e a compra e venda de títulos/ativos do fundo, certo? A taxa de administração é cobrada anualmente e representa o prêmio pago ao banco para que ele mantenha um equipe dedicada aos objetivos do fundo e de seus cotistas. A taxa de performance tem característica semelhante, mas normalmente é aplicada em fundos de renda variável e é cobrada quando a rentabilidade do fundo ultrapassa um determinado indicador (Ibovespa por exemplo). Acho a idéia ótima, pois motiva a equipe gestora a buscar sempre maior rentabilidade. Se é bom para você, é bom para eles.
O Imposto de renda para fundos onde haja 67% ou mais investidos em renda variável, a alíquota será de 15%. Em casos onde a maior parte do patrimônio está em títulos de renda fixa, as alíquotas variam segundo características de curto, médio ou longo prazo da carteira:
- Liquidação em até 180 dias: alíquota de 22,5%
- De 181 até 360 dias: alíquota de 20%
- De 361 até 720 dias: alíquota de 17,5%
- Acima de 761 dias: alíquota de 15%
A aplicação e o resgate
Ao decidir colocar seu dinheiro em um fundo, o valor da cota utilizado como base para cálculo será o do dia (D+0) ou o do dia seguinte (D+1). Essas informações devem estar, obrigatoriamente, no regulamento do produto escolhido. As regras para o resgate costumam ser mais flexíveis e dependem muito da liquidez do ativo alvo do fundo. Gestores cujos produtos e aplicações têm baixa liquidez podem levar até 30 dias (ou mais) para creditar o montante em sua conta.
As formalidades
Todas as regras de funcionamento descritas acima devem estar presentes nos seguintes documentos: prospecto, termo de adesão e regulamento. Não autorize a movimentação de seu dinheiro sem antes procurar saber um pouco mais sobre os temas aqui propostos. Um pouco de paciência na hora de ler esses documentos evita dores de cabeça, especialmente quando o fundo é de renda variável ou alavancado. Perder dinheiro não faz parte de sua estratégia, mas é imprescindível saber ao menos em que circunstâncias isso pode acontecer e como você pode fazer para se proteger.
Leia a segunda parte do artigo, que fala das dicas e principais itens de um prospecto. Crédito da foto para Marcio Eugenio.