Nos últimos tempos quase ficamos roucos de tanto falar sobre a volatilidade dos mercados de risco no Brasil e exterior; afetando preço dos ativos. Porém, nos últimos tempos, a ciclotimia tem sido enorme, alternando momentos em que tudo parece ir bem e outros onde tudo parece dar errado, agregando sintomas depressivos nos investidores.
Basta exemplificar que no início de outubro o Ibovespa chegou a vazar o patamar de 78.000 pontos em novo recorde, para retornar em meados de novembro para patamar pouco inferior aos 71.000 pontos, acumulando perdas de cerca de 9,0%. A pergunta que fica é: o que teria acontecido para mudar tanto o quadro? o que fez mais recentemente com que a B3 (Bovespa) em somente três pregões voltasse novamente aos 75.000 pontos?
Fatores externos
No exterior, ao longo desse vai-e-vem, o dólar fez a grande diferença mexendo com os mercados de risco e em especial com o preço de algumas commodities como petróleo, cobre e minério de ferro. Problemas mais recentes na Catalunha e na Alemanha trouxeram constrangimento ao euro. A Catalunha parece algo resolvida com a forte interferência do governo de Madri e fuga de Puigdemont para a Bélgica de onde pode ser deportado.
Na Alemanha, Angela Merkel passou bom tempo tentando uma coalisão para formar seu gabinete de governo, mas no último final de semana, o partido Democrático Livre, encerrou negociações e a vertente mais provável é a de convocação de novas eleições.
Os nossos problemas internos continuam
Internamente, a ciclotimia se faz ainda mais presente. Ora os investidores e gestores julgam ser possível realizar reformas nesse final de ano e início do próximo, e ora são impregnados pela postura de políticos que visam as próximas eleições. E não desejam se comprometer com nada que represente risco para suas candidaturas. De outra feita, ainda fazem uso de instrumentos de pressão para obter benesses, como as ocorridas na rejeição das duas denúncias contra o presidente Temer.
Mais recentemente os partidos da base passaram a querer cargos de ministros e segundo escalão para dar apoio as votações de uma Previdência esquálida, normatizações na reforma trabalhista e ainda mudanças (e não reforma, como deveria ser) na área tributária.
Certamente é muita coisa para ser tocada concomitantemente em tão pouco tempo, antes que seja impossível votar qualquer outra coisa com as eleições majoritárias se avizinhando. Mas ainda que as mudanças sejam meramente cosméticas, a sinalização parece ser o mais importante. Isso é que dará o tom dos mercados no Brasil, mas como bons emergentes ainda ficaremos na dependência da economia global.
Um olho aqui e outro lá …
Então, além de termos de ficar de olho no que acontecerá no país nos próximos meses, os investidores ainda terão que patrulhar o setor externo. Dois fatos maiores surgem: a reforma tributária americana e os termos do Brexit.
A reforma tributária americana vai gerar muita discussão, mas será oportuno definir quando vigorará. Se em 2018 como quer Trump será bom, mas pode detonar aceleração dos juros na economia americana. As estimativas dão conta de leve alta agora em dezembro e mais três em 2018. O Brexit, a saída do reino Unido da União Europeia exige mais cuidados, pois o prazo se encerra na virada do ano e as negociações seguem bastante complicadas e com a primeira ministra Theresa May fragilizada. May já tem autorização para pagar pedágio de saída de 40 bilhões de libras (antes oferecia 20 bilhões de libras) e começar a fechar acordos bilaterais com diferentes países. Isso sem esquecer a Escócia que está calada esperando as negociações para tomar sua posição.
Hora de manter a prudência
Como se vê, só abordando esses ângulos os mercados de risco já teriam sobejos motivos para tamanha volatilidade. Se adicionarmos os conflitos geopolíticos o quadro formado seria ainda mais tenso, com Coreia do Norte, Irã e Arábia Saudita.
É por isso que sempre fazemos menção ao fato de que é preciso ser prudente. Só para exemplificar novamente, até meados de novembro os investidores estrangeiros já tinham retirado no mês cerca de R$ 3,0 bilhões, bem mais que o fluxo de saída do mês anterior inteiro de R$ 1,8 bilhão. Mesmo assim, considerando tudo, ainda somos otimistas com o desenvolvimento do mercado secundário de ações local.