Os dias passam e cada um cuida da sua vida. Ele trabalha, ela também. Ele tem sua rotina, gosta de encontrar os amigos depois do serviço e gasta boa parte do salário com essas saidinhas, carro e futebol. Ela prefere uma volta no shopping nos fins de semana e adora comprar roupas e sapatos novos sempre que pode.
Em algum momento do dia, geralmente tarde, eles se encontram em casa e entra em cena a demanda dos filhos. Tarefa para fazer, cuidar da programação dele no dia seguinte, discutir a necessidade de comprar esse ou aquele item que ele precisa para a escola ou quem sabe planejar um passeio no fim de semana.
Já é hora da novela, tem a janta para fazer e o filho que precisa dormir. E logo chega a hora do futebol na televisão. Discussões pequenas aqui e ali, briguinhas, tudo vai mais ou menos bem enquanto há dinheiro para sustentar o padrão de vida e o mínimo de qualidade e conforto adquiridos até então.
A sensação é de que poderia ser melhor, mas o tempo passa e a família parece ocupada o suficiente. Vida que segue. O cuidado com as finanças só vem à tona quando o problema com dinheiro já se transformou em tsunami financeiro.
O que acontece então? No lugar de um diálogo adulto, um show de egoísmo e ressentimento, onde cada parte tenta empurrar para a outra a razão de tamanho estrago. Incapazes de agir como duas pessoas que escolheram aquela vida, escolhem o caminho mais fácil: jogar a culpa de tudo nos ombros um do outro.
Ele aponta o dedo daqui, joga a culpa nos hábitos de consumo nada regrados da esposa, metendo-se a entender de moda e alimentação para criticar as recentes compras realizadas por ela. Ela, também nervosa, devolve na mesma medida, xingando o carro (que ela jura que ele trata melhor que o próprio casamento) e a mania do marido de ficar no bar até tarde.
As horas passam voando, sempre com a agenda lotada de compromissos, mas carente de prioridades. Trata-se de uma família (casal e filhos) e não há dedicação quase nenhuma para o planejamento financeiro e para o orçamento doméstico. A história contada até aqui parece familiar? Trata-se de uma situação típica, infelizmente.
Algumas perguntas para reflexão:
- Como é possível ter uma conversa agradável sobre um assunto que só vem à tona quando já se tornou um problema gravíssimo?
- Como encontrar energia para resolver o grave problema se a pessoa que você escolheu para dividir sua vida só insiste que você é um fracasso e que a culpa é toda sua?
- Como lidar com um relacionamento familiar que cobra quando os resultados não aparecem, mas que não possui prioridades e responsabilidades claras para todos?
- Como manter um diálogo sincero em torno da realidade financeira atual se cada membro da família não sabe diferenciar individualidade de individualismo?
Como agir em um ambiente cheio de culpa?
Ora, se a família é composta por duas pessoas que decidiram se unir e viver as consequências dessa união (morar junto, filhos, problemas conjugais etc.), é preciso que a realidade financeira passe a ser tratada com a devida prioridade e sem ataques insanos de culpa e dedo na cara.
A primeira coisa a ser resgatada é o respeito de um pelo outro, um dos principais fatores que os trouxe até aqui. O carinho e a capacidade de ouvir o que outro tem a dizer sem interrupções e a necessidade de ter a última palavra também são etapas importantes. Mas isso só virá com o tempo.
Situações como essa exigem antes:
- Responsabilidade. Chega de apontar o dedo para o outro, agora é hora de conhecer aquele que pode fazer alguma coisa: você! Assumir sua responsabilidade na atual realidade financeira é tão importante quanto reconhecer que você também será um dos responsáveis por alterá-la. Assuma uma postura adulta, de quem tem o que fazer e quer agir, e lembre-se: crescimento não rima com endividamento (entenda clicando aqui);
- Desprendimento. O futebol e a novela podem esperar; aquelas comprinhas fora de hora e a cervejinha com os amigos também. É hora de dar atenção para a família, sentar com ela, dedicar tempo e esforços na definição de prioridades e objetivos envolvendo todos os presentes. Já escrevi mais sobre prioridades aqui (clique);
- Paciência. Não existe solução simples e rápida para um problema que vem sendo negligenciado há tanto tempo. Portanto, será preciso ter paciência, agir com calma, mas de forma perseverante e sempre baseada nos objetivos agora definidos. A cada pequena vitória, comemore com a família. Leia mais sobre a importância da paciência (clique);
- Humildade. Nenhum problema se resolve com gritaria e ego inflado, e você sabe disso. Então, é hora de “baixar a bola” e reconhecer os exageros realizados e suas consequências. Olhe com admiração para seu par e peça desculpas, reconhecendo que as brigas só serviram para piorar o quadro. Mas faça tudo isso de verdade, não imaginando-se em um teatro;
- Atitude. Se existem dívidas, elas terão que ser pagas. Se existe um buraco no orçamento doméstico, ele terá que ser fechado. Se for preciso sentar com a família todos os dias até levantar e documentar todos os problemas e registrar os gastos/ganhos familiares, faça isso. Se for preciso abrir mão de algum consumo, de forma temporária, para pagar uma dívida cara, faça isso. Compromissos financeiros são pagos com dinheiro e ação, não com culpa. Confira 3 atitudes capazes de mudar sua vida (clique para ler);
- Compromisso. Realizar reuniões periódicas para avaliar o andamento das coisas, definir regras e responsabilidades para cada integrante da família, informar a todos sobre o andamento das negociações das dívidas, tudo isso exige compromisso com o bem maior, o resgate da família. Não adianta fazer uma vez, resolver um problema, é preciso que as prioridades sejam traduzidas em compromissos.
Conclusão
Problemas, discussões, situações desagradáveis, decepções, toda e qualquer família passa por desafios durante sua evolução. O que não dá para entender é como certas pessoas simplesmente ignoram o carinho e o amor responsáveis por formar a bela família e passam a atacar como quem briga com um inimigo.
O dinheiro sempre será uma ferramenta, e por isso também configura-se um reflexo do ambiente familiar. O diálogo sincero, acompanhado de objetivos claros e muita atenção e compromisso podem reconstruir praticamente qualquer realidade financeira adversa. O processo pode ser duro, demorado, mas se suas bases forem sólidas, o resultado será exitoso.
Por fim, reforço que brigar por dinheiro não paga a dívida e só aumenta o problema . Se você quer resolver um problema financeiro, primeiro reconheça-o e coloque-se como responsável. Então, com respeito e atenção, proponha soluções e envolva a família.
Fica o convite para uma leitura adicional: artigo que fala da capacidade de nos sufocar presente no dinheiro (clique para ler).
Você concorda com a minha visão? Deixe sua opinião no espaço de comentários abaixo e contribua para a saudável discussão em torno da educação financeira. Obrigado e até a próxima.