Todos sabemos que um blog é uma ferramenta de socialização de conhecimento e informação, um excelente canal de comunicação e relacionamento e também um espaço onde se pode (e deve) expressar opinião. Com este pensamento, um grupo de blogueiros se reuniu para efetivamente colocar em prática a construção de conhecimento de qualidade, criando o Nossa Opinião, um aglomerado decente de artigos e pensamentos sobre os mais variados temas, atualizados e discutidos a cada quinze dias.
Assim, caros leitores, permitam-me também um momento de reflexão e polêmica. Convidado a participar do grupo de debatedores, confesso estrear com certo receio, afinal de contas o assunto, artigos patrocinados e a publicidade em blogs, evoca diferentes reações em cada um de vocês (e em mim). Parte deste artigo justifica-se pelo fato do Dinheirama ter, recentemente, publicado um artigo patrocinado por uma grande agência publicitária. Espero que acompanhe todo o desenrolar do tema e perdoe-me por fugir, ainda que brevemente, da principal razão de existir deste espaço: o seu dinheiro.
O asco pela hipocrisia
Não há nada pior que a institucionalização de maus hábitos e atitudes. Exemplos negativos e diferenças culturais criam abismos morais cruéis e surreais diante da realidade vivida por cada um de nós. Exagero? Provocados a reagir diante das catástrofes sociais e econômicas do país e do mundo, comumente nos escondemos atrás da cortina da hipocrisia e da falta de vergonha (ou será de atitude?). Quanto podemos exigir de nossos cidadãos, se pouco fazemos para mudar sua razão de ser e existir? Será que fazer só a sua parte é suficiente?
Admito, não sei debater sem contextualizar e polemizar. O desabafo, diante do dia-a-dia cada vez mais autômato das pessoas, tem razão de ser. Discute-se ardorosamente o surgimento dos blogs na atual sociedade, seu real papel frente aos seus leitores e diversas fontes de informaçao, mas não vê-se o mesmo empenho em diagnosticar seus reais resultados, sua abrangência em termos qualitativos. A subjetividade do alcance, aliada ao parco profissionalismo da Blogosfera nacional contribuem para o tímido papel deste novo catalisador de conhecimento. Não obstante, muitos preferem abster-se diante do pérfido caminho.
O cuidado com o moralismo cibernético
A hipocrisia online é igualmente perigosa. Leitores e blogueiros, no afã pelo (único) minuto de fama, decidem proliferar mensagens e opiniões moralistas e de cunho ideológico, enquanto suas atitudes para com o próximo e seu trabalho são pautadas pelo aspecto prático e, por isso, mais coerentes. Julgam pois, através de movimentos hipócritas, as iniciativas sérias como sendo meras brincadeiras e satirizam as tentativas honestas de sustento de seus criadores.
Por trás da tela do computador, fala-se muito e muitas teorias são facilmente criadas. Quando não há compromisso para com o resultado, fica fácil verbalizar saídas mirabolantes e “práticas eficientes” para os problemas da sociedade. A publicidade não existe há pouco tempo, assim como sua grande relevância e eficiência são mais do que aceitas e comprovadas. Um blog, um anúncio ou artigo patrocinado não existem sem um fiel universo de leitores. Você, portanto, é a chave de todo o processo.
Mas você entende de publicidade?
Por que alguma empresa decide anunciar neste blog e não em outro lugar? Quem toma esta decisão? Sob que aspectos e métricas, uma resolução deste tipo deve ser levada adiante? Como um blog pode trazer retorno ao seu anunciante e em que formatos este player deve mostrar seu produto, serviço ou iniciativa? São perguntas comuns nas agências de hoje, mas que raramente populam as cabeças dos muitos leitores de espaços como o Dinheirama. O modelo só será interessante para eles, se for para você. Sendo assim, será também para mim, blogueiro.
Acostuma-se fácil com o que é bom, rápido e, principalmente, sem efeitos colaterais. Lembro-me dos primeiros dias de Dinheirama, quando alguns colegas diziam: “O blog vai crescer rápido porque você fala de um assunto que é importante para todo mundo, dinheiro”. Sem dúvida, mas “só até a chegada do primeiro artigo patrocinado”, como alguns leitores fizeram questão de me alertar. Manter um espaço como este dá muito trabalho. Mas não há recompensa melhor que a oportunidade de poder escrever um artigo como este e vê-lo ainda lendo-o de olho grudado à tela.
A coisa fica insustentável, sob o ponto de vista prático, se pensarmos que a maioria dos leitores acharia bacana e concordaria prontamente com a veiculação de um artigo patrocinado sobre uma iniciativa de inclusão social, especialmente se ele fosse bancado por uma ONG. Normalmente não é uma ONG, não é um programa assistencialista, mas sim uma empresa com fins lucrativos que procura este tipo de serviço. Recusar o capitalismo, sem causa aparente, e focar apenas nas iniciativas puramente beneficentes não soa hipócrita?
Portanto, você há de concordar que é muito bacana saber que você gosta do que ofereço por aqui, mas que só isso não é suficiente para que o blog tenha futuro e possa melhorar. Pense bem, sua resposta pode ser minha sentença, embora eu ainda possa recorrer e tentar surpreendê-lo. Você confiaria menos em um Dinheirama respaldado em um modelo completamente sustentável?
Sustentabilidade, o enorme desafio!
Não pretendo, no meu limitado saber sobre marketing, ações dirigidas e publicidade, propor regras e(ou) diretrizes para o anúncio em blogs ou comunidades similares. Embora não pareça, a discussão aqui é mais profunda. Senti-me deveras decepcionado com a reação exagerada de alguns leitores diante de meu artigo patrocinado, ainda que, de forma honesta e explícita, o aviso correspondente constasse do texto.
Que mal há em tentar viabilizar um modelo sustentável de negócio, perguntei-me diversas vezes. Um artigo patrocinado não define um modelo único e ainda inexistente nos veículos tradicionais de comunicação, mas sim o desdobramento diante do meio eletrônico e, principalmente, dos blogs. É óbvio, sou humano, sou um leitor como você e procurei entender o seu sentimento. “O Navarro colocou à venda sua opinião?” Claro que não. Um grande amigo, Alessandro Martins, definiu bem a confusão: “o artigo é pago, a opinião não”.
Um post pago, no jargão preferido por alguns, significa a opinião sincera de um editor diante de uma iniciativa. Ora, concordar com a atitude de uma empresa não tem nada a ver com minha postura como cidadão ou consultor financeiro. E, reparem, o foco do noticiário remunerado existente por aqui não fere nenhuma lei da boa convivência ou aspecto moral, é apenas um retrato de um mercado em movimento e que pede por sua atenção.
Receber para escrever significa compromisso com apenas o lado positivo da discussão? Alguém pensou em credibilidade?
Você confia nas opiniões refletidas no Dinheirama? Faz uso delas como fonte balisadora de suas decisões ou as toma como certas e apenas as executa sem deliberar sobre suas consequências? A credibilidade se constrói com um aliança entre o que sabemos ensinar e o quanto estamos dispostos a aprender. Eu não sei mais que você porque construi o Dinheirama. Quem construiu o Dinheirama foi você e a credibilidade deste blog só existe enquanto as opiniões aqui colocadas forem sinceras, honestas e pautadas no bom senso. Falando bem ou falando mal, estes são os princípios não negociáveis de nossa opinião.
Aliás, sempre coloco em cheque minhas opiniões, meus pensamentos e aquilo que julgo importante. Mas é só. Ficam sempre de fora da discussão o aspecto moral, as convicções e os sentimentos, pontos únicos e condicionantes do que sou, de minha forma de agir e de minhas reações. Respeito, credibilidade e legitimidade são, portanto, uma consequência. Ninguém, nem a agência que nos contrata, é isento o suficiente para atestar credibilidade. Você, leitor amigo e fiel, é quem define o grau de importância deste espaço e suas consequências diante das possíveis oportunidades. A credibilidade, assim como o sucesso, é algo relativo e subjetivo.
Leia, ignore se não for de seu interesse ou acesse se achar interessante.
De novo, a hipocrisia. Muito dos produtos que você tem em casa e consome, o faz porque o conheceu através de propaganda, mídia interativa ou marketing direto. No entanto, condicionado pelos anos diante destas massivas campanhas, não reclama, não questiona. O surgimento dos banners também passou por este receio demonstrado diante das resenhas pagas e, no entanto, sobrevive. Se funciona, é outra história. Por hora, que tal deixarmos de lado a confortável posição de críticos do novo? Que tal participar do debate de forma mais produtiva, criando alternativas viáveis para a solução da questão?
De repente o artigo patrocinado é um tiro no pé, uma iniciativa furada. De repente não é.
Como sabe, gosto muito de escrever. Mais ainda de discutir e aprender. Assim, confesso estar motivado a seguir por mais diversas linhas, mas o bom senso e a sua paciência me impedem. Portanto, sendo objetivo, acredito que haja uma saída. Será que estamos, todos os que chegaram até aqui, dispostos a doar R$ 5 ou R$ 10, todo mês, para manter um espaço como este que lhes apresento? Quanto de seu tempo você doa aos outros e para os outros? Sem nenhuma vergonha levanto a questão, porque sem ela não saberia debater a necessidade de dinheiro como ferramenta de negócios. Afinal, você só paga por um serviço ou produto que lhe agrega valor.
A opção de contribuição está viva diante do formulário de contato e da página de créditos. Não reparou? Infelizmente, ela tem servido mais de ferramenta social que de incentivo financeiro. Que hipocrisia de minha parte dizer que não há problema e que ainda assim fico satisfeito e motivado a seguir firme em frente. Que hipocrisia de sua parte dizer que não tem R$ 5 para nos ajudar. Será que falta esforço de nossa parte para que haja geração de valor nos artigos que publicamos por aqui? Será que a sensação de valor banalizou-se tanto, que mal consigo enxergá-lo? Repare como ainda precisamos crescer e quanto ainda se pode fazer por aquilo que prezamos e que nos traz alegria e conhecimento.
Certamente, não estou fazendo o suficiente. Este espaço pode e vai melhorar. Prometo aprender mais, ajudar mais. Peço de todos o mesmo empenho e comprometimento em criar alternativas inteligentes (e simples) para que iniciativas como essa não morram apenas por falta de consideração e hipocrisia. A questão do artigo pago é apenas a fagulha. Torço para que a discussão o leve através de uma extensa reflexão sobre o papel dos blogs diante da sociedade. Eu, ciente da necessidade de melhorar e satisfeito por ter mantido minha postura e transparência, fico por aqui. Um abraço.