Algumas palavras tão usadas dentro das empresas trazem consigo uma arqueologia de costume onde se escondem hierarquias subliminares, preconceitos enraizados e uma visão mecanicista das relações. Muitas dessas palavras demonstram, por quem as profere, a sua posição dentro da cadeia produtiva. Como dizia minha professora de língua portuguesa: “Somos ao dizer. Ao dizer, pensamos o que fazemos”.
Expressões como chão-de-fábrica, baias, rádio-peão e recursos humanos carregam em si o peso da desqualificação do trabalhador, herança de um passado “taylorista” que insiste em existir em pleno século XXI. Passado, onde o controle rígido sobre as atividades eram exercidos pelos “superiores” confortavelmente instalados em seus mezaninos. Algo semelhante com os dias de hoje? Infelizmente sim, em muitas empresas.
Ao conhecer a origem de algumas palavras do universo corporativo podemos até nos surpreender e entender alguns comportamentos facilmente vistos ou praticados. Pode parecer estranho, mas o peso desse modo de pensar expresso por meio das palavras está no inconsciente coletivo.
Vejamos alguns exemplos extraídos de minhas anotações nas aulas da disciplina “Trabalho e Educação” do curso de Pedagogia:
- Trabalho: até o século seis, o verbo tripaliare significava tortura. Tripalium era um instrumento de tortura. Trabalho trazia consigo o peso da dor;
- Negócio: negotium, a negação do repouso e ganhou sentido de transação somente no século 12 na França;
- Empresa: segurar, agarrar com força derivada do latim prehensa. O significado de união para geração de lucro surgiu no século 15;
- Labor: penoso que mais tarde foi substituído por trabalho;
- Banco: mesa de agiotas medievais na Itália;
- Preço: pretium, do latim, usado para nomear um valor de um objeto ou de uma pessoa. Nota-se que objeto e pessoa encontravam-se no mesmo nível;
- Vender: vendere, expor-se a venda, mesmo sentido dado a prostituere;
- Lider: do inglês leader, por razão do chumbo usado para fazer balas (lead);
- Slogan: grito de guerra na linguagem celta.
É importante ter a consciência do que se diz. As palavras têm seu peso, não são somente palavras. Lembro-me de meu professor de Ergonomia que levava muito a sério o poder desqualificante das expressões e dinâmica excludente surgida por meio delas: em suas aulas, era praticamente proibido a pronúncia de vocábulos como mão-de-obra, baias e chão-de-fábrica. Algo para se pensar, concorda?
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